“Não é apenas o passado que nos condiciona, mas, também o futuro, que muito tempo antes já se encontra em nós e lentamente vai surgindo em nós mesmos” (JUNG, C. G. O desenvolvimento da personalidade. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 115).
“Depois que ‘trintei’, nunca mais contei!”; “Depois dos ‘enta’, é só agüenta!”; “Quem me dera ter de volta os meus 15-18 anos!”
Frases como estas nos comunicam a ideia de que poderia-teria-deveria vivenciar muitas outras experiências das quais, por vários motivos, ficaram para trás.
Parece que o maior incômodo é que a velhice se aproxima implacavelmente e, será um período repleto de dissabores, privações e de experiências negativas.
Ser capaz de se alegrar com o passado, ainda que não tenha sido tão feliz, é o desafio que se impõe a todos que se encontram na faixa dos 40-50 anos.
Somos, sim, incapazes de abrir mão da obstinada ideia de nos mantermos apegados a uma felicidade “perfeita” e dos hábitos egoístas que nos deram a identidade que acreditamos não sabemos viver sem ela, por isso lutamos tanto para que tudo permaneça como “sempre” foi, sem considerar, entretanto, a possibilidade de que só é possível alcançar uma personalidade mais rica e ampla sacrificando um ego construído “às duras penas”, ainda que subjetivamente sintamos que algo mais precioso pode ser alcançado.
Neste período da vida (aos 40-50, mais ou menos), é preciso acompanhar aos sutis movimentos do inconsciente. Segundo C. G. Jung (1875-1961), este processo se dá “muitas vezes como que uma espécie de mudança lenta do caráter da pessoa, outras vezes são traços desaparecidos desde a infância que voltam à tona; às vezes também antigas inclinações e interesses habituais começam a diminuir e são substituídos por novos” (A natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 345).
É como se dá com o curso do sol: o astro-rei ascende das profundezas noturnas do inconsciente e se encanta com toda sua energia que é capaz de emitir para o universo, mas é incapaz de prever que caminha ao zênite. Ao chegar no ponto mais culminante, inicia seu processo de declínio, quando recolhe dentro de si seus próprios raios para iluminar a si mesmo, diminuindo a luz e o calor, até o completo ocaso.
Esta é uma verdade psicológica. Nossa psique nos faz ver que mudanças interiores se processam num nível bastante profundo. E, não há ninguém que nos alerte para este movimento interior, o que provoca, em alguns, desespero para que nada seja alterado. A sensação é de olhar para frente e não saber o que vai ser, e olhar para trás sentindo que muita coisa ficou incompleta ou não é mais possível ser realizada.
“Não podemos viver a tarde de nossa vida segundo o programa da manhã, porque aquilo que era muito na manhã, será pouco na tarde, e o que era verdadeiro na manhã, será falso no entardecer”, afirma Jung (idem, p. 348).
A gestação da nossa velhice está em processo desde nossa infância. Ao perceber os sutis sinais emitidos de seu aparecimento é preciso acompanhá-los com a alma sedenta por aprender um novo jeito de ser no mundo, sem medo das alterações que ocorrerão, mas tendo a perspectiva de que se está assimilando um sentido de vida mais amplo.
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