Dentro de nós há uma voz insistente e
calma que chamamos “consciência”. Percebemo-la, especialmente, em situações que
nos vemos obrigados a sacrificar nossas vontades e impulsos pessoais. Portanto,
não me refiro à experiência do conhecer, mas ao superego, referido na teoria
psicanalítica.
A
“voz” da consciência, às vezes, surge de modo ostensivo não deixando nenhuma
dúvida quanto à melhor postura a tomar diante de uma determinada situação,
outras vezes, não tão definida, manifesta-se sutilmente deixando-nos em dúvida.
A consciência é
o fator psicológico que nos leva a sentir que existe um “outro” interno que faz
exigências quanto a nós mesmos frente às questões ligadas ao sexo, ao poder, ao
dinheiro, à política, ao que comemos e bebemos, aos estudos, aos comportamentos
sociais e relacionamentos, por exemplo, e aos outros ao nosso redor.
“Pesada” para
alguns, graças à ansiedade e ao sentimento de culpa, quando alguma “regra”
social é infringida; “leve”, aos que se sentem cumpridores dos “deveres”
sociais; “problema” e causadora de “dor” a outros, em caso de violação aos
padrões coletivos considerados “certos”. Consideramos “sem consciência”: estupradores,
assassinos, corruptos, pedófilos, torturadores, etc.
Conforme o
analista de treinamento no Instituto C. G. Jung de Chicago (EUA), Murray Stein,
a consciência nos leva a tornar abstratas todas as coisas e, experimentamos uma
espécie de “iluminação moral”, isto é, nos sentimos capazes de desenvolver “um
profundo e apaixonado compromisso com os valores abstratos que subjazem a uma
tradição cultural ou religiosa em especial”, que passa a ser defendido como “a
voz de Deus” (Consciência Solar, Consciência Lunar: Ensaio sobre os fundamentos
psicológicos da moralidade, da legalidade e da noção de justiça. São Paulo:
Paulus, 1998, p. 44).
Segundo Stein,
isto pode resultar em algumas atitudes: 1) compreender os valores, as leis, as
regras e os costumes como sendo “concretos”, isto é, questões inegociáveis,
invariáveis, impossíveis de alteração, tal o apego afetivo às figuras que as
representam, como: os pais, o clube de futebol, o partido político, a
denominação religiosa, a teoria científica, etc.; 2) algumas pessoas podem se
sentir “perfeitas”, tal o nível de zelo e exigências morais que tentam
preencher e acreditam atendê-las, mais especialmente quando comparam e analisam
as fraquezas alheias, o que as leva a elaborar críticas mordazes, estabelecer
estruturas ideais onde tudo ocorre com perfeição, sem, contudo, perceber que
nutrem um sentimento de inimizade contra todos aqueles que pensam
diferentemente dele.
Posicionar-se
desta maneira frente à vida é assumir uma atitude fatal. Como afirma outro
analista junguiano: “A intensificação contínua da consciência para o ego e pelo
ego causa cada vez mais escuridão e inconsciência em outros domínios. A
consciência difusa de um território intermediário vai-se estreitando às
especificações do ego, ou então acaba caindo no abismo. Perde-se a habilidade
de enxergar na penumbra, ficando também perdido o senso de maravilhar-se,
próprio da criança. Assim, a função simbólica entra em declínio e o mundo se
torna desmitologizado” (HILLMAN, J. Uma busca interior em psicologia e
religião. São Paulo: Paulinas: 1984, p. 123).
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