sábado, 8 de março de 2014

Não guarde a fantasia no armário

A festa de Carnaval proporcionou um encontro com o seu lado oposto, tenha você se fantasiado, ou até mesmo, participado de algum retiro espiritual. O encontro com o seu lado oposto tem muito a comunicar a você.
            Considere o Carnaval como uma oportunidade dos instintos, mais íntimos, oferecerem elementos que podem ampliar a sua consciência; saber um pouco mais quem se é. Trata-se de outra maneira de ter contato e desenvolver a capacidade de julgar, cuidando para não ser levado por opiniões coletivas, de se identificar com a fantasia a ponto de fundir-se com ela, ou de depreciar a si mesmo, porque não fez uma boa escolha do ponto de vista estético ou, por considerá-la incompatível com o que pensa a seu respeito. “Não é o reconhecimento do produto individual, mas sua apreciação subjetiva, a compreensão do seu significado e do seu valor para o sujeito”, que mais importa, conforme C. G. Jung (A natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 17).
            Se considerar incompatível, por tratar-se de conteúdos irracionais, indesejáveis ou inesperados, é porque ou se empenhou em desconsiderá-la ou porque inibiu seus significados. Ainda para o próprio Jung: “Só uma parte diminuta dos conteúdos é de valor extraordinário, seja do ponto de vista coletivo seja do ponto de vista subjetivo. Conteúdos destituídos de valor coletivo podem ter um valor imenso, quando considerado sob o ponto de vista individual” (idem, p. 18).
            Neste caso, mais importa aquilo que você considera como significativo para a sua própria vida, sem se importar com a sensibilidade do resto da sociedade, pois se tratam de conteúdos de tonalidade afetiva próprios.
            Leve em conta que a sua fantasia, como expressão do inconsciente pessoal ou coletivo, trata-se do lado oposto ao que se pensa, propondo um confronto para levá-lo(a) a compreender o seu valor como fator para enriquecer a sua vida. Neste momento, segundo Jung: “O ego se acha confrontado com um fato psíquico, um produto cuja existência se deve principalmente a um evento inconsciente, e por isto se encontra, (apenas) de algum modo, em oposição ao ego e as suas tendências” (idem, p. 20).
            Quanto mais numerosas forem as sugestões que a fantasia lhe sugerir, melhor, pois são aspectos que precisam ser assimilados à consciência, tornando a vida mais interessante e, distante de atitudes unilaterais responsáveis por transtornos mentais indesejáveis, dos quais gostaria de se libertar. Está em questão a renovação da personalidade em todos os domínios da vida.
            É importante ouvir o que o lado oposto tem a dizer. Escrever o que “o/a outro/a” tem a dizer, é um método recomendado por Jung. Os pontos de vista do outro/a, ainda que contrastantes, precisam ser comparados e discutidos, a fim de distingui-los de você mesmo, mas enriquecendo-o/a.
            Comece perguntando: Que influência a fantasia exerce sobre mim?

            Neste processo, não basta ser inteligente. É necessário ter autoconfiança e coragem, menos escrúpulos espirituais ou moralistas, e menos ainda, preguiça ou covardia. Antes, encontre a coragem de ser o que se é. E, não tente aplicar as conclusões a que você chegar a outras pessoas, porque cada um tem a sua própria psicologia.

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