Nas
ruas e salões de todo o País assistimos aos desfiles dos arquétipos humanos
simbolizados em cada aparato carnavalesco, dos confetes e serpentinas às
grandes escolas de samba e blocos carnavalescos, animando a cada folião.
No
corpo do pensamento psicológico desenvolvido por C. G. Jung, arquétipo é uma
entidade psíquica preexistente a todos nós, dotada de energia tal, que é capaz
de ativar fatores interiores que podem transformar nossas vidas conscientes, devido
as emoções que o nosso corpo sente, e nos parecem não serem nossas.
Os arquétipos
são “verdadeiras personalidades psíquicas que possuem uma realidade
diferenciada (JUNG, C. G. Estudos alquímicos. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 44),
por isso ao nos encontrar, seus impactos nos causam, ao menos no primeiro
momento, algum estranhamento, espanto, admiração, êxtase ao invadirem
autonomamente nosso ego fria e arrogantemente intelectualizado; entretanto,
ainda segundo Jung, não são elas que estão em nós, ao contrário, nós que
estamos nelas. “Para mim, a alma é um mundo no qual o eu está inserido”, afirma
ele na mesma obra (p. 55).
Os
arquétipos se nos apresentam através de imagens, e o Carnaval é mais um dos
momentos em que sensorialmente percebemos suas presenças.
Aparentemente
inofensivas e/ou ingênuas, entretanto, o significado simbólico dos Pierrôs,
Colombinas, Piratas, Baianas, entre outras fantasias, são carregadas de
energias que podem nos beneficiar, bem como, nos prejudicar. Nossas emoções
mais primitivas ficam à flor da pele, algumas nos enchem de prazer, outras nos
dão a sensação de estarmos “possuídos” por algo mais forte. Alguns se sujeitam
a influência das emoções, de tal maneira a terem a vida transformada que,
dependendo das consequências, terão de arcar com elas, se arrependerem e,
depois repararem o mal que sofreu e fez sofrer. Outros, entretanto, poderão ter
uma ampliação de suas consciências, se refletirem quanto ao significado de suas
emoções, antes de se deixarem levar por elas.
Se
quisermos compreender o significado das imagens que acessam nossos conteúdos
mais íntimos, devemos experimentar o que têm a nos dizer a respeito de nós
mesmos, e incluí-los à consciência, ou seja, trazer à luz o que está nas
sombras, a fim de provocar uma mudança em nossa personalidade.
Durante
a festa, as fantasias nos mostram aquilo que não queremos ser, bem como os nossos
talentos e verdadeiros dons e, se não as reconhecemos, nossas atitudes podem
ser ingênuas, mas os problemas que criamos com isto, tornam-se cada vez mais
complexos e difíceis. Assim, o baile de carnaval continuará depois da
Quarta-feira de Cinzas, quer dizer, as fantasias ganharam notoriedade, muito
mais do que, simplesmente, para nos divertir, mas, para as chamarmos pelos seus
verdadeiros nomes e darmos um significado pessoal a cada uma delas.
“Alguém
se encontra diante de um perigo que deve ser superado. Fraqueza e impaciência
nada conseguirão [...] Só quando se tem coragem de ver as coisas diretamente
tais como são na realidade, sem se deixar enganar ou iludir, é que surge uma
luz que permite reconhecer o caminho para o sucesso” (I Ching, Bollingen
Edition, p. 25, apud, Abrams, J. A hora do salto da sombra. Rev. Hermes, nº 17,
2012, p. 107).
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