Como deixar de torcer para que a Seleção
Brasileira de Futebol vença a Copa do Mundo e conquiste o Hexa Campeonato?
Impossível.
Quando
o assunto é futebol, não conseguimos fugir do lugar comum, mas principalmente daquilo
que Adoniran Barbosa (1910-1982), na música “Torresmo à Milanesa”, afirma:
“Vamos armoçar sentados na calçada. Conversar sobre isso e aquilo, coisas que
nóis não entende nada”.
Além
de acompanhar com atenção aos jogos da Seleção Canarinho, e desejar bom êxito
nas partidas até ao final da competição (será que ganhou do Chile?), alguma
reflexão pode ser feita deste momento que estamos vivendo.
Entre
futebol e religião existem mais semelhanças do que se imagina.
Comecemos
pelos comentários dos narradores das cenas esportivas (que saudade do Luciano
do Vale!). Narram o óbvio, o evidente, o manifesto. E todos, sem exceção,
parecem seguir o mesmo script, ficando a originalidade apenas para as “pérolas”
que alguns, infelizmente, soltam no ar, provocando uma reação em cadeia,
protestos.
As
cenas esportivas são muito mais do que os olhos enxergam. Existem elementos
latentes que cada atleta trouxe para o campo, antes mesmo de sair de seus
países, que interferem o tempo todo durante o jogo. Daí a importância do
período de concentração, para que todos se submetam mais ao “espírito” do
esporte do que às normas dos treinadores.
Quanto
à prática religiosa, esta também, na maioria das vezes, não vai além dos
limites dos aspectos exteriores característicos, como: leituras e
interpretações literais e dogmáticas dos textos sagrados; orações e rituais,
mecânica e friamente realizados; mandamentos e tradições, igualmente obedecidos
cegamente, e sem contextualização na realidade contemporânea. Vide o caso dos
jogadores muçulmanos diante do dilema de alimentar-se durante o Ramadã.
A
alma anseia pelo que existe além da mera letra, deseja ir além do manifesto. A
alma anseia pelo latente, pelo que está dissimulado, disfarçado, oculto: a
mensagem que está nas entrelinhas.
O
alimento da alma está na amplidão infinita da sua própria experiência
transcendente, subjetiva, instintiva, que se esforça em romper com as atitudes
unilaterais da racionalização. É importante, porém, que se note: a fé deixa de
ter prestígio quando apresenta um horror ao pensamento crítico; entretanto, se
este for aliado à intuição mística, encontra respostas ao significado da vida.
Assim
como aos atletas cabe um exercício constante de ser submeter ao “espírito” do
esporte, ao religioso cabe o desafio de se manter fiel à sua experiência
interior, pois esta é a única atitude que legitima a sua adesão religiosa.
Humildade é fundamental para se cumprir esta tarefa, pois o Sagrado se impõe
como Algo que estimula a vontade de vivenciar experiências singulares, indizíveis
e inauditas, mas sempre numa economia do próprio Sagrado, e não segundo aos
apetites vorazes dos fiéis, ou dos seus líderes.
Assim como os gols não acontecem
durante os 90 minutos, ininterruptamente, ou simplesmente não acontecem, assim
os milagres. Por que na relação com o Sagrado, quando não existe milagre,
restam apenas murmurações contra Ele?
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