O sentimento de culpa ronda os
relacionamentos que pedem uma intimidade mais intensa. O namoro é um deles. Não
é raro alguns namorados sentirem que não podem estar tão bem quando estão
apaixonados. É como se ficassem de “consciência pesada”, curtindo o sentimento
de que não “devem” ter nada de bom porque não “merecem” especialmente quando os
pais criticam a escolha feita, ou, a simples pretensão se manifesta.
Na
verdade, quando investimos num relacionamento com alguém, os pais não podem
mais ser tão importantes, para que o desenvolvimento da personalidade aconteça
de maneira livre, sem impedimentos, pessoal, própria. O encontro com algum(a)
desconhecido(a) faz parte do desenvolvimento psíquico humano. Esta experiência precisa
ser solitária para que a identificação com o complexo parental não determine a
escolha ou a pretensão. Por que, o mais comum, é que a escolha se conforme às
ideias carregadas emocionalmente associadas com a experiência que tem com os
pais.
Se
a escolha do(a) namorado(a) seguir os mesmos critérios que caracterizam a
interação com os nossos pais, a capacidade de construir as próprias relações com
independência, criatividade e responsabilidade fica prejudicada. E,
infelizmente, não são poucos os casos em que os pais acreditam que os filhos
fossem uma espécie de prolongação suas, e acham que podem e devem decidir por
eles.
Neste
caso, cabe aos filhos se esforçarem, e às vezes, com um grande esforço, a
assumirem o controle de suas emoções, para que a escolha não fique na
idealização dos seus pais, mesmo que isto gere alguma culpa.
A
culpa gera venenos de toda sorte nos corações que se sentem impedidos em
escolher, tais como: depressão, tristeza, agressividade, ressentimentos,
inveja, mau humor, e desgosto em estar vivo. A pessoa que sente que foi
destruído aquilo que lhe dava mais vontade de viver – amar -, inconscientemente
envenena a tudo e a todos ao redor, como que destila veneno, e: não acredita mais
em si mesma, desvaloriza a sua vocação profissional, critica aos bem sucedidos
no amor, arma intrigas entre amigos, facilmente desiste das novas oportunidades
oferecidas pelo amor, torna-se destrutiva e autodestrutiva, etc.
Não
existe outra saída senão assumir a responsabilidade pelo veneno, se separar dos
pais, partir para descobrir novas coisas em si mesmo(a), deixar o velho sistema
de atender as condições de terceiros (os pais) para ser amado e querido,
reencontrar as fantasias centrais de vida e inseri-las na vida e atender as
necessidades físicas. Quer dizer: é possível cortar o efeito do veneno,
encontrar em si mesmo(a) os lados que revigoram e não envenenem mais a vida,
aprender a perceber a si mesmo(a), a se expressar como indivíduo único, separado
dos pais e, entrar, em definitivo, no mundo.
Quer
dizer: é possível viver o lado positivo do complexo materno e paterno, isto é,
conviver com a autoridade e valores espirituais; buscar e desenvolver
interesses mais espirituais e menos materiais ou ligados ao físico; considerar
que a amizade pode ser uma expressão muito forte, em muitos casos,
especialmente, quando se tem motivos para separações e distanciamentos; ter
disposição para fazer sacrifícios por questões que considera justas que atendem
a mais pessoas; envolver-se em mudar as estruturas do mundo, com um espírito
mais perseverante, audacioso, firme e, até, revolucionário.
Uma palavra aos pais: quando os
filhos namoram, pode ser uma experiência de grande felicidade. Não precisa ser
ansiosa. É importante que os filhos possam experimentar a alegria de superarem
a dependência dos pais, a sensação de que não podem nada sem eles.
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