segunda-feira, 7 de julho de 2014

Cem anos da I Guerra Mundial (1914-1918)

          Culturalmente, o início do século XX, vivia os últimos momentos da Era Vitoriana, marcada pelo controle rígido à moral via religião protestante (puritanismo) e celebrava as ideias de Darwin, Freud e Marx como maneiras de transformação social e tecnológica, sob o embalo das promessas da Belle Époque que, inspirada na capacidade intelectual humana, divinizada pelo Iluminismo (século XVIII), acreditava ter alcançado a forma de assegurar todos os avanços científicos, econômicos e da vida íntima, contra tudo aquilo que era considerado primitivo dos homens: a violência e a crueldade, a crença em deuses, a exploração dos mais pobres.
            As novas tecnologias como telefone, o cinema, o automóvel e o avião, por exemplo, surgidas naquele período, aproximaram mais as pessoas e as nações, contribuindo para um estado de enamoramento do homem com ele mesmo, graças aos novos modos de pensar e viver o dia-a-dia. Acreditava-se que, finalmente, o homem europeu superara a primitividade de seus atos, palavras e sentimentos.
            No corpo do pensamento psicológico desenvolvido por C. G. Jung: “O indivíduo é o único sujeito do espírito da vida. Sociedade e Estado valem o que vale a saúde espiritual dos indivíduos, pois são instâncias que se compõem de indivíduos e de seu modo de organização” (Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1990, p. 46).
            Pesquisando sobre a ‘vida espiritual dos indivíduos’, envolvidos no evento estopim da I Guerra Mundial (1914-1918), que deixou um saldo de 17 milhões de mortos, encontra-se: Em 28 de junho de 1914, o estudante sérvio-bósnio Gavrilo Princip (1894-1918), assassinou o arquiduque Francisco Fernando da Áustria, e sua esposa Sofia. Segundo Drago Ljubibratic, biógrafo de Princip, o jovem era “reservado e quieto”, e declarava-se um “anarquista radical” (Belgrado, 1969). Conforme o historiador alemão Michael Freund, Francisco Fernando (1889-1914) mostrava-se homem de energia pouco inspirativa, de emoções sombrias e raivosas, quando se tratava dos assuntos de governo do seu irmão, o imperador Francisco José I (1830-1916), “raios e trovões sempre troavam em suas discussões” (Bertelsmann Verlag, 1961).
            O ‘modo de organização’ daquela sociedade (hoje, é diferente?), levou a grande maioria a não saber como lidar com o próprio mal, a não perceber nada de bom nas nações inimigas e os próprios erros foram projetados em outros.
            Durante a I Guerra Mundial, Jung escreveu: “O homem hoje, que se volta para o ideal coletivo, faz de seu coração um antro de criminosos. Isto pode ser facilmente verificado pela análise de seu inconsciente, ainda que este não o perturbe. Se a ‘adaptação’ ao seu ambiente é normal, nem mesmo a maior infâmia de seu grupo o perturbará, contanto que a maioria dos companheiros esteja convencida da alta moralidade de sua organização social” (Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1990, p. 51).
            É urgente refletir sobre isto no século XXI!

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