Culturalmente, o início do século XX, vivia
os últimos momentos da Era Vitoriana, marcada pelo controle rígido à moral via
religião protestante (puritanismo) e celebrava as ideias de Darwin, Freud e
Marx como maneiras de transformação social e tecnológica, sob o embalo das
promessas da Belle Époque que, inspirada na capacidade intelectual humana,
divinizada pelo Iluminismo (século XVIII), acreditava ter alcançado a forma de
assegurar todos os avanços científicos, econômicos e da vida íntima, contra tudo
aquilo que era considerado primitivo dos homens: a violência e a crueldade, a crença
em deuses, a exploração dos mais pobres.
As
novas tecnologias como telefone, o cinema, o automóvel e o avião, por exemplo,
surgidas naquele período, aproximaram mais as pessoas e as nações, contribuindo
para um estado de enamoramento do homem com ele mesmo, graças aos novos modos
de pensar e viver o dia-a-dia. Acreditava-se que, finalmente, o homem europeu
superara a primitividade de seus atos, palavras e sentimentos.
No
corpo do pensamento psicológico desenvolvido por C. G. Jung: “O indivíduo é o
único sujeito do espírito da vida. Sociedade e Estado valem o que vale a saúde
espiritual dos indivíduos, pois são instâncias que se compõem de indivíduos e
de seu modo de organização” (Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis:
Vozes, 1990, p. 46).
Pesquisando
sobre a ‘vida espiritual dos indivíduos’, envolvidos no evento estopim da I
Guerra Mundial (1914-1918), que deixou um saldo de 17 milhões de mortos,
encontra-se: Em 28 de junho de 1914, o estudante sérvio-bósnio Gavrilo Princip
(1894-1918), assassinou o arquiduque Francisco Fernando da Áustria, e sua
esposa Sofia. Segundo Drago Ljubibratic, biógrafo de Princip, o jovem era
“reservado e quieto”, e declarava-se um “anarquista radical” (Belgrado, 1969). Conforme
o historiador alemão Michael Freund, Francisco Fernando (1889-1914) mostrava-se
homem de energia pouco inspirativa, de emoções sombrias e raivosas, quando se
tratava dos assuntos de governo do seu irmão, o imperador Francisco José I
(1830-1916), “raios e trovões sempre troavam em suas discussões” (Bertelsmann Verlag, 1961).
O ‘modo de organização’ daquela sociedade (hoje, é
diferente?), levou a grande maioria a não saber como lidar com o próprio mal, a
não perceber nada de bom nas nações inimigas e os próprios erros foram projetados
em outros.
Durante a I Guerra Mundial, Jung escreveu: “O homem hoje,
que se volta para o ideal coletivo, faz de seu coração um antro de criminosos.
Isto pode ser facilmente verificado pela análise de seu inconsciente, ainda que
este não o perturbe. Se a ‘adaptação’ ao seu ambiente é normal, nem mesmo a
maior infâmia de seu grupo o perturbará, contanto que a maioria dos
companheiros esteja convencida da alta moralidade de sua organização social” (Aspectos do
drama contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1990, p. 51).
É urgente refletir sobre isto no
século XXI!
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