O poder é o lado mais reprimido,
desconhecido, inconsciente e perverso do caráter humano. Dominar é um dos mais
fortes e indisfarçáveis afetos humanos, o mais obscuro e sombrio.
Pois
é, com o processo político-eleitoral em andamento, o lado mais amplo, real, cru
e obscuro do poder volta a rondar-nos.
O
sistema democrático tem de se orgulhar da liberdade e do funcionamento
conquistados, às lágrimas, sangue e mortes, mas cabe a cada cidadão ter
consciência do lado obscuro de seu próprio voto, do critério que emprega para
fazer a sua escolha.
O voto é uma escolha que se faz num
instante, contudo, pelo tempo decorrido até chegar à urna, tem-se a
oportunidade de refletir quanto às formas de manipulação emocional dos
candidatos, dos partidos, da pressão do coletivo. Entretanto, há uma
manipulação sobre a qual poucos de nós levam em conta: a própria.
A manipulação está em toda parte: na
imprensa, ora destacando diferenças entre os candidatos, ora exaltando aos que
as apóiam, ora denegrindo aos que se opõem aos seus objetivos empresariais; sem
omitir obviamente a avalanche de boatos, mentiras e invenções que se espalham
pela internet.
Mas, e quanto a
deixar-nos manipular por nossas próprias debilidades, ambições e obscuridades? Não
deixemos nos enganar: há motivações inconscientes, fatores emocionais e
afetivos que nos levam a decidir por um candidato e não por outro.
As propagandas e
os discursos dos candidatos nos apresentam nossas mais profundas motivações,
fantasias e afetos. Nossos votos não são racionalmente puros como deseja nossa
ilusória filosofia, laureada de tantas tragédias.
Mais do que a
situação eleitoral – os candidatos, os partidos e os fatos ou circunstâncias
sociais e econômicas – o processo político-eleitoral sofre a intervenção dos
fatores emocionais e afetivos abrigados e acalentados em nossas motivações
inconscientes pessoais e coletivas.
Um deles está
associado à ideia de otimismo. Taxas de crescimento econômico em alta, números
e estatísticas positivas nos deixam otimistas. O otimismo nos faz sentir
grandes, fortes, vencedores, invencíveis, heróis que controlam o próprio
destino, que podem fazer tudo o que quiserem, que não se importam com as
consequências.
Quanto disto não
é o mesmo de sentir e querer viver como uma criança, imatura, quer dizer,
evitar o enfrentamento das dificuldades, por maiores que sejam as confusões que
nos metemos?
O
processo eleitoral é uma oportunidade de mudanças, mas temos de mergulhar em
nós mesmos para chegar ao fundo de nossos problemas coletivos, a partir de
perguntas como: até que ponto, a sombra dos eleitores não coincide com a dos
candidatos que prometem um País com potenciais de crescimento econômico, mas que
não aprofunda em um dos mais sérios problemas, a corrupção?
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