Teologia. Este foi o tema do meu
primeiro encontro pessoal com Rubem Alves, em 1982/83, quando estudava no
Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas/SP, o mesmo onde se formara em 1957.
Fundador da “teologia
libertadora”, com o seu “Da Esperança: teologia da esperança humana”, mais
tarde intitulada Teologia da Libertação, teve como expoentes Leonardo Boff, Gustavo
Gutiérrez, Jon Sobrino e Juan Luis Segundo.
Teólogo,
filósofo, poeta, psicanalista, escritor e educador Rubem Alves era conhecido
como o “homem que gosta de ipês amarelos...” - opinião de um menininho que leu
seus livros numa escola infantil.
Na verdade, gostava
da vida. Aprendeu com o poeta Mário Quintana, para quem: “Morrer, que me
importa? O diabo é deixar de viver”, recordado em seu “O Deus que conheço” (Campinas:
Verus, 2010, p. 37).
“Sei que não me
resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. O que sinto é
tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é o
meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas
ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores!”, afirmou em “Pimentas: para
provocar um incêndio, não é preciso fogo” (São Paulo: Planeta, 2012, p. 80).
Rubão, como era
conhecido no meio teológico, legou-nos um arsenal de sementes de um mundo
maravilhoso escondido nos mistérios do humano. Discorrer sobre os temas que o
ocupavam é temeridade, pois suas grandezas penetraram à política, a ética, a
teologia, a educação, a morte, as crianças, os velhos, a sexualidade, os
animais, a gastronomia, etc.
Religião é
abandonar-se “na direção das evidências do sentimento, da voz do amor, das
sugestões da esperança” (O que é religião. São Paulo: Abril Cultural e
Brasiliense, 1984, p. 128). “Sou um construtor de altares. Construo meus
altares com poesia e música. Eu os construo na beira de um abismo profundo,
escuro e silencioso...” (O Deus que conheço. Campinas: Verus, 2010, p. 70).
Quanto à
política nos contou sobre o prefeito de uma cidade no interior do estado de
Goiás, laureado como “moderno e dinâmico”, que liderou uma campanha entre os
moradores para que cortassem as árvores dos seus quintais para que a cidade fosse
vista pelos viajantes, pois argumentava: “Todo mundo sabe que árvore é sinal de
atraso...” (Pimentas... p. 55). Qualquer semelhança com a nossa cidade não é
mera coincidência.
Rubem Alves vivenciou
o outro que existiu nele. E, o outro o vivenciou. Sua obra é o registro desta
vivência. Seu coração acolheu a todas as sementes que existem, e deixou-as
frutificar, por isso nos convida a transformá-las em árvores, e não a cortá-las.
Como
diria Jung: “A vida é ao mesmo tempo significativa e louca. Se não rirmos de um
dos aspectos e não especularmos acerca do outro, a vida se torna banal; e sua
escala se reduz ao mínimo” (JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente
coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 41).
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