Se
quisermos estruturas sociais e políticas do Brasil mais justas, fortalecidas e integradas
à diversidade de interesses, precisamos pensar muito mais como indivíduos
responsáveis pela própria individualidade e, menos na estrutura montada pelos
políticos chamada “presidencialismo de coalizão”.
Segundo Carl
Gustav Jung (1875-1961): “Uma verdadeira democracia é, na verdade, uma
instituição altamente psicológica que leva em conta a natureza humana,
oferecendo espaços para as necessidades de conflito dentro dos limites da
própria nação” (Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1990, p.
46).
O pensamento de
Jung no debate político ressalta que a vida humana se dá no embate entre Eros e
Poder, isto é, entre o amor – princípio que rege as nossas relações em todos os
níveis, iniciado em nossos lares – e, as atitudes de cada um frente aos
acontecimentos, ao subordinar todas as influências e experiências a uma
supremacia da opinião própria com total desprezo pelas opiniões alheias
principalmente quando são contrárias às nossas. Quer dizer, quando há a
sobreposição de impulsos, sentimentos e pensamentos subjetivos de uma pessoa
sobre a maioria, no caso, numa administração pública, a vontade de poder assume
características egoístas que impõe um movimento de subserviência e/ou
rebaixamento do outro, para que seus fins sejam alcançados, ainda que os da
maioria sejam prejudicados.
Infelizmente,
não faltam exemplos na vida pública brasileira, quer no município, no estado e
na federação, para nos convencer da supremacia dos sentimentos mais egoístas
sobre a população em geral.
A perda da
possibilidade de ser individual no processo político que vai além do período
das campanhas partidárias põe em risco a dinamicidade da vida, isto é, um ego
que se embriaga com o poder, perde a capacidade de sentir, valorizar, tolerar,
conviver com as diferenças, experimenta o gosto da soberba, da arrogância, do
isolamento.
Amor e poder
fazem a vida fluir, e quanto mais equilibrado for este movimento melhor para a
vida individual, e para a sociedade.
Se a política
brasileira sofre o desequilíbrio destas duas forças psíquicas é porque
eleitores e administradores não dão a devida atenção à sua condição de
indivíduos. Aqueles porque escolhem candidatos que lhe são parecidos em seus
impulsos, e os outros, porque se deixam levar pelos interesses egoísticos.
Contudo, é bom
lembrar que os movimentos populares que ganharam as ruas em junho passado demonstram
que este fenômeno pode estar arrefecendo. Boa notícia para a democracia, mas
péssima para os políticos que tentam deter o movimento da plena cidadania se
agarrando ao poder.
Se assim não
for, faz-se necessário preocupar-nos de outra afirmação de Jung: “Não há mais lugar para a decisão ética do
homem singular, apenas para a comoção cega de uma massa obnubilada, onde a
mentira passa a constituir o princípio próprio das ações políticas” (Presente e
futuro. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 13).
Nenhum comentário:
Postar um comentário