segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Emoções e eleições

“Esse Estado brasileiro, como está estruturado e como a Constituição previu há 25 anos, não atende mais a sociedade. O que era esperança, na década de 1980, pode se transformar em frustração. A tendência de uma frustração, o risco social é se transformar em fúria. E, quando a fúria ganha as ruas, nenhuma ideia de Justiça prevalece. Quando o Estado, Executivo, Legislativo e Judiciário, não funciona bem, as leis não estão sendo cumpridas, os serviços não estão sendo prestados, o que é a esperança vira frustração. A frustração vira ira, porque ele (cidadão) se sente frustrado, tantas vezes, que ele vai perdendo entusiasmo e aí é perigo. O Estado não pode ser causa da infelicidade de ninguém. O direito existe para que as pessoas possam se fazer felizes, para que elas tenham chance de ser feliz, para que elas vão dormir sem medo” -  ministra Cármen Lúcia, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (O Estado de São Paulo: 26.08.14, A9).
            É importante aprofundarmos esta reflexão da ministra Cármen Lúcia, uma vez que segundo o biólogo e cientista político britânico Dominic Johnson: “Os Estados não são mais racionais do que as pessoas, são suscetíveis a ideias exageradas de sua própria virtude, da sua capacidade de controlar os acontecimentos, e o futuro” (http://dominicdp johnson.com/projects/project_3.html).
            E, através das campanhas eleitorais, aí postas, é possível perceber a avalanche de “exageros” apresentada ao País, aumentando o risco apontado pela ministra.
            Em “Eros e Pathos: amor e sofrimento”, Aldo Carotenuto (1933-2005), ex-professor da Universidade de Roma, e diretor da Rivista di psicologia analítica e do Giornale storico di psicologia dinamica, ajuda-nos a compreender a raiz do problema: “O verdadeiro poder não é o exercício sobre as coisas, mas sobre os homens. [...] o desejo de ter autoridade sobre os homens é verdadeiro e autêntico ‘pecado mortal’, que não admite ‘remissão’”, (São Paulo: Paulus, 1994, p. 186).
            Neste contexto, a Psicologia ganha relevância, pois conforme Sigmund Freud (1856-1939): “Há incontáveis pessoas civilizadas que se recusam a cometer assassinato ou a praticar incesto, mas que não se negam a satisfazer sua avareza, seus impulsos agressivos ou seus desejos sexuais, e que não hesitam em prejudicar outras pessoas por meio da mentira, da fraude e da calúnia, desde que possam permanecer impunes” (O futuro de uma ilusão. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 92).
Segundo Carl Gustav Jung (1875-1961): “Se o Estado de direito sucumbe, por exemplo, a um acesso de fraqueza, a massa pode esmagar a compreensão e reflexão ainda presente em indivíduos isolados, levando fatalmente a uma tirania autoritária e doutrinária” (Presente e futuro. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 02).
Acredito que a resposta mais adequada vem de onde menos esperamos. Da subjetividade humana, das nossas emoções mais profundas. Esperança e felicidade protegem o cidadão da barbárie e dos governos autoritários.

“Sonho impossível”, dos norte-americanos Joe Darion (1917-2001) e Mitch Leigh (1928-2014), do espetáculo Man of La Mancha, que o brasileiro Chico Buarque traduziu, reserva-nos uma parte viva da resposta: “Sonhar um sonho impossível. Lutar quando é fácil ceder. Vencer o inimigo invencível. Negar quando a regra é vender. Sofrer a tortura implacável. Romper a incabível prisão. Voar num limite improvável. Tocar o inacessível chão”.

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