“Esse Estado brasileiro, como está
estruturado e como a Constituição previu há 25 anos, não atende mais a
sociedade. O que era esperança, na década de 1980, pode se transformar em
frustração. A tendência de uma frustração, o risco social é se transformar em
fúria. E, quando a fúria ganha as ruas, nenhuma ideia de Justiça prevalece. Quando
o Estado, Executivo, Legislativo e Judiciário, não funciona bem, as leis não
estão sendo cumpridas, os serviços não estão sendo prestados, o que é a
esperança vira frustração. A frustração vira ira, porque ele (cidadão) se sente
frustrado, tantas vezes, que ele vai perdendo entusiasmo e aí é perigo. O
Estado não pode ser causa da infelicidade de ninguém. O direito existe para que
as pessoas possam se fazer felizes, para que elas tenham chance de ser feliz,
para que elas vão dormir sem medo” - ministra Cármen Lúcia, vice-presidente do
Supremo Tribunal Federal (O Estado de São Paulo: 26.08.14, A9).
É
importante aprofundarmos esta reflexão da ministra Cármen Lúcia, uma vez que
segundo o biólogo e cientista político britânico Dominic Johnson: “Os Estados
não são mais racionais do que as pessoas, são suscetíveis a ideias exageradas
de sua própria virtude, da sua capacidade de controlar os acontecimentos, e o
futuro” (http://dominicdp johnson.com/projects/project_3.html).
E,
através das campanhas eleitorais, aí postas, é possível perceber a avalanche de
“exageros” apresentada ao País, aumentando o risco apontado pela ministra.
Em
“Eros e Pathos: amor e sofrimento”, Aldo Carotenuto (1933-2005), ex-professor
da Universidade de Roma, e diretor da Rivista di psicologia analítica e do
Giornale storico di psicologia dinamica, ajuda-nos a compreender a raiz do
problema: “O verdadeiro poder não é o exercício sobre as coisas, mas sobre os
homens. [...] o desejo de ter autoridade sobre os homens é verdadeiro e
autêntico ‘pecado mortal’, que não admite ‘remissão’”, (São Paulo: Paulus,
1994, p. 186).
Neste
contexto, a Psicologia ganha relevância, pois conforme Sigmund Freud (1856-1939):
“Há incontáveis pessoas civilizadas que se recusam a cometer assassinato ou a
praticar incesto, mas que não se negam a satisfazer sua avareza, seus impulsos
agressivos ou seus desejos sexuais, e que não hesitam em prejudicar outras
pessoas por meio da mentira, da fraude e da calúnia, desde que possam
permanecer impunes” (O futuro de uma ilusão. São Paulo: Abril Cultural, 1978,
p. 92).
Segundo Carl
Gustav Jung (1875-1961): “Se o Estado de direito sucumbe, por exemplo, a um
acesso de fraqueza, a massa pode esmagar a compreensão e reflexão ainda
presente em indivíduos isolados, levando fatalmente a uma tirania autoritária e
doutrinária” (Presente e futuro. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 02).
Acredito que a
resposta mais adequada vem de onde menos esperamos. Da subjetividade humana,
das nossas emoções mais profundas. Esperança e felicidade protegem o cidadão da
barbárie e dos governos autoritários.
“Sonho
impossível”, dos norte-americanos Joe Darion (1917-2001) e Mitch Leigh
(1928-2014), do espetáculo Man of La Mancha, que o brasileiro Chico Buarque
traduziu, reserva-nos uma parte viva da resposta: “Sonhar um sonho impossível.
Lutar quando é fácil ceder. Vencer o inimigo invencível. Negar quando a regra é
vender. Sofrer a tortura implacável. Romper a incabível prisão. Voar num limite
improvável. Tocar o inacessível chão”.
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