A julgar os discursos dos candidatos e seus
partidos políticos parece querer convencer-nos que a realidade do País é fruto
de decisões e ações dos que ocupam o poder central, como se não existissem
outros 200 milhões de cidadãos. Que os acertos e os erros são de total e
exclusiva responsabilidade dos governantes.
Até a “situação”
propõe “mudar para melhor” como se fosse possível fazer mudanças e, mais uma
vez, sem o envolvimento de cada um de nós.
A “oposição”
apresenta o mesmo plano: “Podemos mudar tudo que está aí, para você. Acredite.
Nós sabemos como fazer. Só queremos que você confie em nós. Dê-nos um voto de
confiança. Com a gente, tudo vai melhorar”.
Candidatos e
partidos políticos quererem nos fazer crer que podem resolver tudo sem a nossa
efetiva participação. Ou, como se não pudéssemos perceber que se trata de mais
um mecanismo de colocar o Brasil a serviço de determinados grupos ávidos de
poder e que prometem certas vantagens especialmente econômicas aos mais
carentes?
Mas será que é
assim mesmo? Não interferimos nós, nas diversas conjunturas do País para tornar
as condições de vida boas ou ruins?
Esta condição
psicossocial é vivenciada por todas as nações do mundo.
No final dos
anos 1950, C. G. Jung enfrentou este problema na desenvolvida e moderna
democracia suíça, que o levou a registrar: “O que uma nação toda faz é sempre o
resultado daquilo que muitos indivíduos fizeram. Também não se pode educar uma
nação. Só é possível ensinar ou mudar o coração do indivíduo. É verdade que uma
nação pode ser convertida para coisas boas ou más, mas neste caso o indivíduo
está agindo meramente sob uma sugestão ou sob a influência da imitação e, por
isso, seus atos não têm valor ético. Se não se muda o indivíduo, nada é mudado.
[...] E cada um espera que o outro seja o primeiro a agir. Por isso ninguém
começa. Somos por demais modestos, preguiçosos ou irresponsáveis para admitir
que podemos ser os primeiros a fazer a coisa certa. Se todos sentissem a mesma
coisa, haveria ao menos uma grande maioria de pessoas pensando que a
responsabilidade é coisa boa. Sob essas circunstâncias os piores males da
humanidade já teriam sido resolvidos” (Cartas: 1956-1961. Volume III.
Petrópolis: Vozes, 2003, p. 173).
O psiquiatra suíço,
então, resgata a responsabilidade social do indivíduo. É como se respondesse a
questão: Por que tudo está como está? Para ele é necessário preservar a
consciência pessoal sem identificar-se à massa coletiva. A nossa dignidade
pessoal está em assumir a nossa individualidade, se quisermos ter nossos
direitos respeitados.
Em 1947, Jung
escreveu: “Há um telos
(propósito) em cada
comunidade [...] mas este telos é a soma de todos os tela
individuais. Toda pessoa tem o seu telos e, na medida em que procura realizá-lo,
é um autêntico cidadão. A comunidade não é nada sem o indivíduo e, se a
comunidade consiste de indivíduos que não realizam o seu telos individual,
então a comunidade não tem telos ou um telos muito ruim. Eis a razão por que o
conformismo social se transforma em idolatria quando se torna um fim em si
mesmo” (Cartas: 1946-1955. Volume II. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 70).
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