A colonização do nosso País se deu
em condições adversas à nossa vontade. Fomos oprimidos, explorados,
desrespeitados em nossa cultura, religiões e costumes, como se não tivéssemos
histórias, identidades, nem vontades, nem desejos próprios. É como se a nossa certidão
de nascimento, nos negasse o direito de sermos nós mesmos, o que nos deixa numa
dificuldade: não sabemos o que é ser brasileiro.
Os
imigrantes trouxeram sua forma própria de pensar e agir, e passamos a
imitá-los, sem procurarmos por nossas próprias raízes. Parece que temos vergonha
de sermos brasileiros, por que assumir nossas idiossincrasias é reconhecer
nossos limites. Preferimos pensar que não temos defeitos. Daí acharmos mais
fácil procurarmos alguém para culpar quando as coisas não saem da maneira que
gostaríamos. Basta olharmos para o agravamento de nossos problemas: violência
contra as crianças, os idosos, os jovens pobres e negros, exclusão social, descuido
com o meio ambiente, corrupção em todas as esferas de poder, racismo,
injustiça, descuido com a saúde, educação e transportes públicos, etc.
A
energia psíquica que pode levar-nos a nos envolver e resolver estes problemas
não flui, está impedida.
A
saída?
“Assumir
nossa doença talvez seja o início da sabedoria”, recomenda Arnaldo Jabor (A
mentira virou verdade. O Estado de São Paulo: 16.09.14, C8).
Em
termos junguianos, a “doença” somos nós. Ou assumimos nossa sombra coletiva, ou
teremos nossa vida social possuída pela corrupção, insegurança, imoralidade com
a coisa pública.
Assumir
a sombra significa se aproximar com o coração aberto de tudo aquilo que nos
deixa envergonhados, indignados, humilhados, desanimados, enojados.
Segundo
a psicoterapeuta junguiana e mestre em psicologia clínica pela Universidade de
São Paulo, Maria Helena R. Mandacarú Guerra: “É necessário que tenhamos uma
crise moral, pois sem ela não se pode transformar a sombra” (Brasil: sombra e
cidadania. Revista Junguiana. p. 243).
Precisamos
encarar os problemas do Brasil de um modo pessoal, isto é, vendo-nos como
responsáveis, individualmente, por eles e, também, como as suas soluções.
É
comum afirmarmos que o nosso País tem dimensões continentais devido às grandes
distâncias geográficas que marcam nosso território, entretanto, não podemos nos
manter emocionalmente distantes de nossos problemas políticos, sociais e
econômicos. Quanto mais sentirmos que eles estão longe de nós, menos nos sentiremos
responsáveis por eles, seremos mais frios, omissos e dissociados.
Não
estaríamos assim reproduzindo os mesmos sentimentos e atitudes daqueles que nos
colonizaram? Quando assumiremos a nossa identidade brasileira?
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