terça-feira, 22 de maio de 2012

Uma questão aos candidatos e eleitores


            As responsabilidades sociais não são apenas dos indivíduos, principalmente, quando consideramos que estes, cada vez mais, buscam viver nos centros urbanos: pequenos, médios, grandes ou megalópoles. Neste sentido, todos os habitantes e, especialmente seus governantes, por se ocuparem de tarefas que visam o bem-estar da coletividade, somos responsáveis pela qualidade de vida e do futuro de nossa espécie.
            Mark Sommer, jornalista norte-americano, que dirige o premiado programa de rádio A World of Possibilities, na cidade de Arcata, estado da Califórnia, cidade com menos de 20 mil habitantes, afirma: “Quando milhões de pessoas emigram para bairros marginais das grandes cidades, estas se convertem cada vez mais em insustentáveis (...) nas cidades será testada nossa capacidade para a mudança adaptativa nas próximas décadas. Poderemos reintroduzir a natureza e a comunidade nas cidades por meio de mercados agrícolas, jardins urbanos, transporte público de massa, melhores casas, bairros onde se possa caminhar e espaços públicos mais convidativos?” (Instituto Ethos)
            Tal afirmação nos ajuda a considerar que as eleições que se aproximam, temos a oportunidade de escolher, aqueles que podem melhor dirigir a cidade para as “mudanças adaptativas” que, certamente, passaremos, senão vejamos: o desenvolvimento econômico trouxe maior qualidade de vida, sem, contudo, deixar consequências de todos os tipos: horas perdidas no trânsito cada vez mais lento, devido ao acréscimo de veículos em nossas ruas e avenidas, aumentando a poluição sonora e atmosférica, prejudicando a comunicação entre as pessoas, devido às distâncias, cada vez maiores, das residências aos locais de trabalho, de milhares de pessoas; diferenças entre pobres e ricos, que pode ser observada em automóveis de luxo ao lado de carroças e carrinhos de catadores de papel, de lojas lotadas de consumidores ávidos pelas últimas novidades e moradores de rua, que, quando compram, empregam seu dinheiro, em coisas que atendam tão somente sua subsistência; de condôminos fechados e favelas, agravando o quadro de violência, todos os dias, principalmente, nos finais de semana ou em dias de festas que embalam desde a juventude até aos da chamada “terceira idade”; espaços públicos ocupados por aqueles que vivem à margem da sociedade, que muitas vezes, por preconceito, são excluídos do processo de promoção humana, contribuindo para piorar a convivência humana devido à insegurança que se sente ao passar por determinados lugares da cidade, até mesmo, à luz do dia; baixa qualidade na educação, com escolas depredadas, professores e funcionários mal remunerados e desestimulados, que se sentem ameaçados por “clientelas” da periferia, com reflexo na formação de profissionais, em todas as áreas; isto, para ficarmos com as situações mais gritantes.
Marília não se pode dar ao luxo de pensar que as alterações já provocadas ao meio ambiente, devido ao seu crescimento populacional e área urbana, não exigirão de seus habitantes adaptações cada vez mais severas, no sentido de serem reduzidas as possibilidades de escolha das ações que envolvem a todos, como o cuidado com a água e coleta e tratamento de esgoto, como também dos prazos, cada vez menores, para evitar maiores danos à população e à natureza.
Para o jornalista californiano é necessário “reintroduzir a natureza e a comunidade nas cidades”, caso queremos passar nos testes de adaptação às mudanças.
Os tempos difíceis nos chegam cada vez mais rápido, mas sobreviveremos a eles? Com a palavra: candidatos e eleitores! É bom lembrarmos: ainda dá tempo.
(Sílvio Lopes Peres – Prof. Ms. Psicólogo Clínico - CRP 06/109971 – Formado pela FAEF/Garça – http://psijung.blogspot.com/)

domingo, 13 de maio de 2012

Mãe, eu te amo. Mãe, eu te odeio.


            A vida é feita de ambiguidades. Não tem jeito. Com relação às mães não é diferente. E, como hoje é o Dia das Mães, e se quisermos ser verdadeiros em sua homenagem temos de encarar esta realidade: há momentos que somos capazes sentir e declarar o maior amor do mundo por elas, em outros, contudo, as odiamos com a mesma intensidade, ainda que não consentido.
            Para nós “amor de mãe é sagrado”. Mas será que é mesmo? São muitas as ocasiões em que isto não é verdadeiro.
            O filósofo Luiz Felipe Pondé, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-SP, titular da Faculdade de Comunicação da FAAP, no programa Café Filosófico, da TVCultura, no último domingo (06/05) afirmou: “A família é lugar de ressentimentos, invejas, rancores e ódios. Mães têm inveja das filhas. Têm filhos que detestam as mães. Filhos que competem com os pais. Mães que humilham, destroem os filhos, acabam com qualquer projeto dos filhos; cerceiam qualquer “possível” de qualquer coisa que para os filhos têm significado. Ou filhos que são verdadeiros monstros, malvados, cruéis, mentirosos, que usam e abusam da sua (mãe) paciência porque sabem que você os ama. Será que dá para amar todas as mães? Todas as mães merecem ser amadas por seus filhos? Quais são as razões que levam uma pessoa a odiar a própria mãe?”
            Para Pondé, a família é um dos primeiros lugares onde aprendemos a lidar com o ódio, senão aos de fora, aos de dentro da própria casa, que não é possível amarmos a todos, que o ódio é um dos afetos humanos que precisa ser acolhido, e os símbolos culturais, como a religião, nos ajudam a admiti-lo. Se não fossem os símbolos culturais, a vida social seria dominada pela imoralidade, e a convivência familiar, impossível.
Quanto aos símbolos culturais vale a consideração de C. G. Jung (1875-1961): “Os símbolos culturais são aqueles que foram empregados para expressar ‘verdades’ eternas e que ainda são utilizados em muitas religiões. Passaram por inúmeras transformações e mesmo por um longo processo de elaboração mais ou menos consciente, tornando-se assim imagens coletivas aceitas pelas sociedades civilizadas. Esses símbolos culturais guardam, no entanto, muito da numinosidade original ou ‘magia’. Sabe-se que podem evocar reações emotivas profundas em algumas pessoas, e esta carga psíquica os faz funcionar um pouco como os preconceitos. São um fator que deve ser levado em conta pelos psicólogos. Seria insensato rejeitá-los pelo fato de, em termos racionais, parecerem absurdos ou despropositados. Constituem-se em elementos importantes da nossa estrutura mental e forças vitais na edificação da sociedade humana” (Jung, C. G. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995, p. 93).
Algumas “imagens coletivas aceitas pelas sociedades civilizadas”: perdão, esperança, fé, compreensão, tolerância, força para suportar indignidades. ‘Verdades’ reverenciadas pela religião cristã, que mantém a sua ‘magia’ em seus rituais e dogmas.
Como não é possível extirpar o ódio, até mesmo dos filhos para com as mães, é preciso deixar um espaço para estas imagens em nossa sociedade e famílias, se quisermos nos manter saudáveis. Feliz dia das mães!

domingo, 6 de maio de 2012

Desconfiança política


            Fica cada vez mais difícil acreditar nos(as) candidatos(as) aos diversos cargos públicos do País, do Estado e da Cidade.
A desconfiança paira sobre a integridade ética e moral, ainda que a lei diga: “todos são inocentes até que prove o contrário”. Infelizmente, os exemplos podem ser citados pelos cidadãos mais humildes, e até pelas crianças, aos borbotões.
            O sentimento de desconfiança está presente na maioria dos comentários acerca das intenções de homens e mulheres que se interessam pela vida pública. Por exemplo: “Que interesse pode ter alguém que já tem um rendimento financeiro muitas vezes superior ao que obterá no exercício da função pretendida?” “Até que ponto o(a) fulano(a) permanecerá fiel aos valores pessoais, acumulados e nutridos pela família e/ou pela religião, no momento em que estiver diante das ‘tentações’ oferecidas pelo poder?” “O que leva uma pessoa, com uma boa formação cultural, social, familiar e religiosa, a associar seu nome a alguns representantes partidários, comprovada e historicamente, com comportamentos éticos e morais reprovados pela opinião pública, e até pela justiça eleitoral?” “Com quem farão alianças políticas, em nome da ‘governabilidade’, abrindo mão de sua própria consciência?” Estas e outras questões apontam para o nível de desconfiança do eleitorado.
            O principal motivo para que este sentimento seja cada vez mais forte parece que é a impunidade que reina diante de tantos escândalos não apurados ou mal resolvidos, conforme a imprensa tem divulgado já há tanto tempo.
            É o sentimento de desconfiança que fortalece cada vez mais a ideia de implantar meios e métodos de vigilância e controle, como modo de rastrear as decisões que os políticos dão aos problemas sociais, mas principalmente, quando estão em jogo os seus interesses pessoais.
            É verdade que o sentimento de desconfiança integra o exercício da cidadania democrática, mas precisa ser bem administrado para que a sociedade aperfeiçoe seus meios e métodos na escolha de seus representantes políticos e administrativos.
Cidadãos regidos somente pela desconfiança, não reivindicam seus direitos por duvidar de seus representantes, negligenciam o cumprimento de seus deveres, além de vivenciar a perda dos limites éticos e morais da vida em sociedade. É preciso lembrar que esta situação interessa principalmente àqueles que não merecem a confiança de ninguém.
            Concordo com o Prof. Yves de la Taille, especialista em psicologia moral: “Se a desonestidade fosse considerada exceção, não seria necessário tanto controle. Se ele (controle) é incessantemente utilizado, é que a imoralidade é vista (com ou sem razão) como a regra! Mais controle externo corresponde a menos controle interno. Que sociedade é esta, cujos membros precisam ser monitorados como crianças de três anos? Certamente algo não vai bem com ela” (Taille, Y. (et al). Indisciplina: ética moral e ação do professor. 3ª Edição. Porto Alegre: Editora Meditação, 2010, p. 13).
            Tanto a classe política quanto os eleitores precisam responder ao sentimento de desconfiança mais pelo “controle interno”, ante as oportunidades que suscitam tanta desconfiança.