segunda-feira, 27 de junho de 2011

Todos têm uma bandeira


            O direito de expressão de opiniões de forma pacífica está sendo respeitado. A liberdade de pensamento é um princípio que precisa ser respeitado em todos os setores da sociedade. Nada pior do que a repressão. A expressão de opiniões aprofunda as ideias. Quanto mais se debate um assunto mais o homem se compreende. Os diversos movimentos sociais que estão nas ruas de todo o mundo, com cartazes e palavras de ordem em Marchas, expõem quem nós somos, até mesmo aqueles que são contrários às manifestações.
Nestes últimos dias assistimos a muitos movimentos que manifestam, em protestos, quem somos nós: Marcha da Liberdade, da Maconha, contra o aumento da passagem de transporte urbano, dos Skatistas, contra a construção da Usina Hidrelétrica em Belo Monte, para Jesus, pelos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais), das Vadias, dos Bons Drinks, etc.
            Cada um destes movimentos expressa fatores complexos da natureza humana, da nossa psique. Eles revelam algo mais forte do que nós mesmos, por isso tanto os queremos. Não é possível compreendê-los em sua amplitude, pois são mais do que um simples raciocínio matemático, de “um mais um, é igual a dois”. Não só é inútil, como também perigoso se tentarmos reduzi-los a um único âmbito, quer das leis, quer dos costumes morais e religiosos. Toda forma de controle toca em nossa vontade de sermos Deus. Só Deus sabe investigar em profundidade, com absoluta isenção, as opiniões dos homens que os levam a tomar decisões, e agirem com tanta convicção. Nosso julgamento, ainda que necessário, não pode ter caráter irrefutável, quer favorável ou contrário, pois como diz Carl Gustav Jung (1875-1961): “Quando observamos o comportamento das pessoas que se veem confrontadas com uma situação a ser avaliada eticamente, constatamos um duplo efeito bastante curioso: de repente ambos os lados se manifestam. Estas pessoas não apenas tomam consciência de sua inferioridade moral, mas também de seu lado bom. E dizem com razão: “Também não sou tão abominável assim”. Confrontar alguém com sua sombra significa também mostrar-lhe sua luz” (Civilização em transição. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 188).
            Antes que um dos lados passe a agredir o outro com acusações, é possível evitar confrontos. Ao defender ou refutar quaisquer opiniões, precisamos perceber que carregamos um pouco do contrário de cada uma, em nós.
            Não, não significa que cada um deva fazer da sua vida o que bem entender, como se não vivêssemos em sociedade: isto seria estimular a alienação social. Mas que a cada bandeira hasteada, bandeiras outras não precisam ser arriadas, pois as cores se combinam, porque são todas do mesmo tecido, humano.
            “Por que é que você olha o cisco no olho do seu irmão, quando você tem uma tábua em seu próprio olho?”, ensinava Jesus Cristo (Mateus 7.3).
            Percebamos que o Mestre dos mestres nos mostra que precisamos minimizar em nossos julgamentos ao próximo; porém, quanto a nós mesmos, devemos ser mais zelosos e severos, porque o “cisco” e a “tábua” são do mesmo tronco. Ambos, “cisco” e “tábua”, precisam ser admitidos, mas sem a intenção de removê-los uns dos outros. Ah, se cada um cuidasse da sua própria “tábua”!

domingo, 19 de junho de 2011

O Projeto de Eros (II)


Eros, deus grego representado com uma aljava, arco e flechas, e atirando-as aos homens e mulheres, tem como missão aproximar as pessoas para que se relacionem, mas também para que expressem sua criatividade, espiritualidade e beleza em todas as dimensões da vida, quer social, cultural, religiosa, econômica ou tecnológica.
            Este é o projeto de Eros a que estamos submetidos: nos relacionarmos uns com os outros, através de todas as nossas capacidades. A vida humana é uma experiência de relacionamentos pessoais, que se torna mais rica e positiva à medida que expomos e expandimos nossas capacidades. Pessoas que têm dificuldades de manter um relacionamento com outras sofrem muito, porque suas capacidades não são respeitadas ou aceitas.
É a atuação de Eros em nosso inconsciente que nos permite ou não medir a qualidade dos nossos relacionamentos.
Ao nos referirmos a Eros, estamos considerando algo que vai além de uma simples referência sexual, ainda que o relacionamento sexual esteja relacionado a ele. Mas é mais amplo, e isto acontece porque a imagem do Cupido, nome romano de Eros, está associada ao amor erótico. Quer dizer: Eros é o intermediário que nos coloca diante de outras experiências. Suas “flechas” nos levam a realizar atividades humanas, estéticas e espirituais, além das românticas.
Para a mulher, por exemplo, em certas situações, relacionamentos significam muito mais que uma relação sexual. Nelas, Eros elabora e prepara-as para as ligações psíquicas que venham a ter com outras pessoas. É Eros que as leva a executar tarefas que demandam o cuidado com outras pessoas, como por exemplo: ser mãe, ser professora, ser médica, ser dona de casa, etc. A dominância de Eros na psique de uma mulher vai dimensionar sua capacidade de se relacionar com os outros, e isto inclui o namorado, o noivo ou o marido.
No caso dos homens, Eros nos leva a nos aproximarmos uns dos outros, na maioria das vezes, como um impulso de poder, como de querer e buscar controlar os outros, e até mesmo as mulheres, tendo ou não um motivo sexual; de subjugar o meio-ambiente, o que explica, mas não justifica o desmatamento e a poluição; a sustentar e fortalecer o espírito de competição com outros homens, tão visível no campo da política partidária, empresarial e comercial; e manifestar respeito e devoção religiosa, entre outros.
Na verdade, Eros pode ser verificado nestas e noutras infinitas manifestações, tanto nas mulheres quanto nos homens, mas sempre pretendendo nos unir uns aos outros, ou às outras realizações, com o propósito de nos aproximar ainda mais.
            Porém, Eros tem o poder de nos tornar objetos uns dos outros, e cada vez ficam mais visíveis os sinais desta sua atuação sobre nós, dando-nos a impressão, quase inquestionável, de que o mundo é uma arena de gladiadores, onde o mais importante é a animosidade, uma passarela em que as vaidades são os únicos atrativos, ou o que é pior, um curral.
            O projeto de Eros é real, e não podemos nos iludir quanto à possibilidade de que podemos nos livrar dele, antes, precisamos dele para nos aproximar da vida.

O Projeto de Eros (I)


Como hoje é dia dos namorados, a paixão está à flor da pele: basta apenas mencionar a palavra “amor” para que o corpo desperte os sentimentos românticos.
É no corpo que reside a paixão. O corpo é o sujeito e o objeto de Eros, e suas imprevisíveis, inexplicáveis, indizíveis e inexprimíveis aventuras. Estas como que anulam o Eu, e o possuem com tal violência, que há uma aderência hipnótica à imagem da outra pessoa, por isso se dizer: “estou louco(a) por ela(e)”; “ela(e) me arrebata”; “estou perdido(a) de amor”; “é um sonho”, tal o seu caráter compulsivo e extático, como um mistério encantador que não se deseja desvendar, por temer o fim da fascinação.
            Ora a fisionomia, ora os perfumes, ora a voz, ora os gestos e olhares parecem responder a todas as perguntas, “a resposta” buscada durante tanto tempo. A imagem do outro passa a ser um pensamento dominante, obsessivo, a ponto de orientar a direção da vida psíquica – “não consigo viver sem ela(e)”.
            O desejo revivifica o corpo: emoções sob cinzas se reacendem; o modo de olhar para a vida é renovado; a visão da realidade externa, antes tida como sem atrativos, ganha matizes promissores; rompem-se os laços de segurança com outras pessoas, dando a noção de que se é único; a forma psíquica, que até então “funcionava” se desequilibra, porque  fica diferenciada.
            É o outro que passa a ser a fonte de alegria, prazer, felicidade. Não se percebe seus defeitos porque se torna o depósito do desejo puro e simples de que tudo vai dar certo; por isso é fácil se descuidar das próprias ações, ficando aberto a todos os riscos. Para o psicólogo italiano Aldo Carotenuto (1933-2005), que foi presidente do Centro Studi di Psicologia e Letteratura: “A vulnerabilidade a que o amor nos expõe e a importância central que o outro passa a assumir em nossa vida lançam-nos em estado de necessidade” (Eros e Pathos: Amor e Sofrimento. São Paulo: Paulus, 1994, p. 36).
            Do que se necessita? Necessito de mim mesmo e que o encontro com a(o) amada(o) desperta, assegura e intensifica. Necessito daquele modo de colocar-se diante da vida que ela(e) me apresenta em gestos, palavras, olhares e fisionomia. Este é o quadro que Eros nos mostra quando somos levados a amar: nós mesmos, e as exigentes alterações que os seus projetos nos impõem.
            Como diz Rainer Maria Rilke (1875-1926): “O amor constitui uma oportunidade sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo, tornar-se um mundo, tornar-se um mundo para si mesmo por causa de uma outra pessoa; é uma grande exigência para o indivíduo, uma exigência irrestrita, algo que o destaca e o convoca para longe. Apenas neste sentido, como tarefa de trabalhar em si mesmos, as pessoas jovens deveriam fazer uso do amor que lhes é dado. A absorção e a entrega e todo tipo de comunhão não são para eles (que ainda precisam economizar e acumular por muito tempo); a comunhão é o passo final, talvez uma meta para a qual a vida humana quase não seja o bastante” (Cartas a um jovem poeta. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997, pp. 65, 66).
            Ela(e) só desperta a necessidade que tenho de mim mesmo para que me entregue a ela(e), pois não posso continuar sendo o mesmo, mas sim atencioso aos projetos desconhecidos que Eros me confia às mãos; por isso temo tanto não corresponder a ela(e).

quarta-feira, 8 de junho de 2011

PACIENTES RENAIS CRÔNICOS: PRINCIPAIS EMOÇÕES VIVENVIADAS


PACIENTES RENAIS CRÔNICOS: PRINCIPAIS EMOÇÕES VIVENVIADAS
PERES, Sílvio Lopes[1]
FONSECA, Bárbara Cristina Rodrigues[2]


RESUMO

A insuficiência renal crônica caracteriza-se como o estágio terminal do funcionamento dos rins. Alguns estudos demonstram que, as pessoas acometidas desta enfermidade apresentam uma importante alteração na sua saúde mental. O presente artigo se propõe a apresentar as principais emoções psicológicas vivenciadas pelos pacientes que passam pelos diversos tipos de tratamentos renais disponíveis na atualidade. Os dados encontrados apontam que estes pacientes vivenciam emoções muito diferenciadas: fantasia, culpa, ansiedade, rejeição, tristeza, decepção, engano, desesperança, medo (inclusive de morrer), baixa estima, ódio, dependência, angústia, depressão, agressividade, diminuição do interesse ou prazer nas atividades habituais, autopiedade, irritabilidade, nojo e isolamento. A literatura também salienta o papel do psicólogo como essencial enquanto profissional da saúde junto aos pacientes renais crônicos, possibilitando-os a lidar com suas emoções e melhorando seu bem-estar e sua qualidade de vida.
           
PALAVRAS-CHAVE: Doença Renal Crônica. Distúrbios Psicológicos Sofridos por Pacientes Renais Crônicos. Assistência Psicológica a Pacientes Renais Crônicos.

ABSTRAT

Chronic renal failure is characterized as the end stage of kidney function. Some studies show that this disease affected individuals have an important influence on their mental health. This article aims to present the main psychological emotions experienced by patients undergoing the various types of renal treatments available today. The findings show that these patients experience very different emotions: fantasy, guilt, anxiety, denial, sadness, disappointment, deception, despair, fear (including death), low self-esteem, anger, addiction, anxiety, depression, aggressiveness, decreased interest or pleasure in usual activities, self-pity, irritability, anger and isolation. The literature also highlights the role of psychologists as essential as a health professional with patients with chronic renal failure, enabling them to deal with their emotions and improve their well-being and quality of life.

KEY WORDS: Chronic Kidney Disease. Psychological Disorders Conceded by Chronic Kidney Patients. Psychological Care in Chronic Kidney Patients.


  1. INTRODUÇÃO
A doença renal crônica, segundo Romão (2004) é o estágio terminal do funcionamento dos rins. Trata-se da perda irreversível das funções renais, quando os sintomas físicos são mais aparentes, a qualidade de vida do paciente é bastante prejudicada, havendo, portanto, necessidade de se adotar algum tratamento que visa a depuração artificial do sangue, seja em diálise peritoneal ou hemodiálise; ou o transplante renal, propriamente dito.
Conforme Alvarez et al (2009) e Oliveira (2003), as pessoas acometidas por esta enfermidade apresentam uma importante alteração na saúde mental, experienciando diferentes emoções no transcorrer do tratamento da enfermidade.
Apesar da diminuíção da taxa de mortalidade destes pacientes e da sensível melhora do tratamento substitutivo da função renal nos últimos anos, ainda é muito grande o risco de suicídio devido aos transtornos de ansiedade e depressão (PÁEZ et al, 2009).
Este estudo, produto de uma pesquisa bibliográfica, se propõe a apresentar as principais emoções psicológicas vivenciadas pelos pacientes que passam pelos diversos tipos de tratamento renal disponíveis na atualidade.
No fichamento das obras pesquisadas, foram encontrados poucos trabalhos acadêmicos do campo da Psicologia quanto ao problema em questão, sendo mais comuns trabalhos ligados às áreas da enfermagem e médica. Trata-se, portanto, de um assunto de interesse de todos os profissionais da área da saúde.

  1. TERAPIAS RENAIS SUBSTITUTIVAS (TRS) DISPONÍVEIS NA ATUALIDADE
Quando a doença renal crônica (DRC) é diagnosticada, são disponibilizadas ao paciente as seguintes Terapias Renais Substitutivas (TRS): transplante, hemodiálise e diálise peritoneal. A preferência do paciente é o determinante mais importante da escolha pela modalidade, especialmente se o paciente não tiver nenhuma contraindicação prévia (HYPHANTIS; SPIROS; VOUCICLARI, 2010).

2.1.        Transplante Renal
Segundo Cesarino e Casagrande (1998) e Higa et al (2008): o transplante renal é o “tratamento mais natural de substituição para os rins frente à doença renal crônica, e que pode trazer de volta a qualidade e estilo de vida anterial à manifestação da doença”. Os pacientes que se submetem a este procedimento, na maioria das vezes passam antes pela hemodiálise ou diálise peritoneal (QUINTANA e MULLER, 2006).
É recorrente, segundo Quintana e Muller (2006), que o receptor apresente as seguintes emoções psicológicas: fantasias de adquirir as características físicas e comportamentais de seu doador ou de que este venha a ter problemas devido à falta do rim doado, caso receba o órgão de um cadáver, pode sentir-se culpado pelo fato de depender da morte de uma pessoa para conseguir um rim; ansiedade quanto aos papéis sociais, seja na família, no trabalho ou na sociedade em geral; em caso de rejeição do órgão, sente-se frustrado, passa por tristezas e decepções.

2.2.        Hemodiálise
A hemodiálise é um tratamento inevitável e intermitente realizado no hospital ou em clínicas, com o auxílio de uma máquina, que remove as substâncias tóxicas e o excesso de líquido acumulado no sangue e tecidos do corpo em consequência da falência renal, durante três ou quatro horas, ao menos três vezes por semana, podendo variar este período conforme o peso e a idade do paciente (OLIVEIRA, 2003; KOEPE E ARAUJO (2008).
Este tratamento, na maioria das vezes, gera frustração, engano e desesperança, devido à manutenção de uma dieta específica associada às restrições hídricas e à modificação do cateter para o acesso vascular ou da fístula arteriovenosa (REIS, GUIRARDELLO E CAMPOS, 2008; DeFELIPE, 2009; OLIVEIRA, 2003).
Segundo Reis, Guirardello e Campos (2008), DeFelipe (2009), Oliveira (2003), Alvarez (2009) e Páez et al (2009), a frustração é vivenciada pelo adiamento de planos, e poucas expectativas de vida saudável futura.
A falta de lazer e a incapacidade para o trabalho pode provocar uma diminuição da autoestima dos indivíduos, pois passam a se sentirem dependentes financeiramente e incapazes de manter a família, transferindo esta responsabilidade para outra pessoa (OLIVEIRA, 2003; CRUZ E ARAUJO, 2008).
A hemodiálise suscita sentimentos ambíguos de amor e ódio, pois ao mesmo tempo em que garante a sobrevivência, torna a pessoa dependente de uma máquina (KOEPE E ARAUJO, 2008; ALVAREZ, 2009; DeFELIPE, 2009). Alguns pacientes, segundo Anger (1975, apud Cesarino e Casagrande, 1998), relatam se sentirem como “homens semi-artificiais”, devido ao uso da máquina.
O medo da morte, também é uma emoção frequente destes pacientes, experimentando fantasias de angústia, porque o assunto morte é, normalmente, tratado como “tabu”, pela equipe médica e de enfermagem: “quando algum paciente falecia, o movimento da equipe era de silêncio e agia-se como se nada tivesse acontecido; os sentimentos e as falas ficavam velados” (RESENDE et al, 2007).
Também é comum o paciente sentir depressão apoiada simultaneamente numa agressividade intensa ou em reações de luto (Diniz, 2002 apud Quintana e Müller, 2006); ansiedade, diminuição do interesse ou prazer em suas atividades habituais, irritabilidade, deterioração familiar, disfunção sexual e negação da doença; autopiedade, devido à superproteção que recebe dos seus familiares, tornando-o dependente e infantilizado, provocando a perda da sua própria identidade como pessoa ou indivíduo (ALVAREZ, 2008; HIGA et al , 2009; RODRIGUES & BOTTI, 2009).
De acordo com Quintana e Müller (2006), os pacientes apresentam sentir “nojo” quando conectados à máquina. A dependência que o paciente passa a sentir da máquina, da equipe de atendimento, do hospital ou da clínica onde o tratamento é realizado pode gerar um sentimento de total inferioridade, que pode levar a uma atitude de rebeldia por sentir-se mais dependente (DeFELIPE, 2009).
 Conforme Hyphantis, Spiros e Voudiclari (2010) pacientes que usam um mecanismo de defesa passivo-agressivo procuram pela hemodiálise, e apresentam agressão para com os outros “possivelmente através da passividade, masoquismo e, voltando-se contra si mesmos”.
Quanto à fístula artério-venosa – acesso permanente, criado por meio cirúrgico ao se unir uma artéria em uma veia – esta compromete a autoimagem dos pacientes, podendo causar sofrimentos que na maioria das vezes não são verbalizados. (KOEPE e ARAUJO, 2008).

2.3.        Diálise Peritoneal
Trata-se de um procedimento cirúrgico para a introdução de um cateter na região abdominal, pelo qual ocorre a eliminação das substâncias tóxicas do organismo com a ajuda de uma solução dialisadora, realizada por meio de uma membrana semipermeável natural, o peritônio.
Os pacientes em diálise peritoneal convivem com o medo relacionado à higiene do processo da troca das bolsas que contém a solução dialítica, devido aos riscos com infecções bacterianas (QUINTANA e MÜLLER, 2006).

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo a American Psychiatric Association (1994, apud Páez et al, 2009), “as doenças que comportam um maior risco suicida são as enfermidades crônicas, incuráveis e dolorosas (...) como a insuficiência renal crônica”.
Este artigo se propôs a apresentar as principais emoções psicológicas vivenciadas pelos pacientes que passam pelos diversos tipos de tratamento renal disponíveis na atualidade.
Segundo os autores pesquisados, as pessoas acometidas desta enfermidade apresentam uma importante alteração na saúde mental, vivenciando emoções muito diferenciadas: frustração, engano, desesperança (REIS, GUIRARDELLO e CAMPOS, 2008; DeFELIPE, 2009; OLIVEIRA, 2003), sentimentos ambíguos como o amor e o ódio (KOEPE e ARAUJO, 2008; ALVAREZ, 2009; DeFELIPE, 2009), medo da morte (RESENDE et al, 2007), depressão e agressividade intensa (DINIZ, 2002 apud QUINTANA e MULLER, 2006); ansiedade, diminuição do interesse ou prazer nas atividades habituais, irritabilidade, autopiedade, dependência, infantilização e perda da identidade (ALVAREZ, 2008; HIGA et al , 2009; RODRIGUES & BOTTI, 2009), nojo de si mesmo (QUINTANA e MULLER, 2006), isolamento, não aceitação de si mesmo e temor de não se sentir aceito, dependência da máquina, sentimento de inferioridade e rebeldia (DeFELIPE, 2009), passividade e masoquismo (HYPHANTIS, SPIROS e VOUDICLARI, 2010), ansiedade quanto aos papéis sociais , fantasias de adquirir as características físicas e comportamentais de seu doador, culpa pela dependência de outras pessoas, rejeição, tristezas e decepções (QUINTANA e MULLER, 2006); comprometimento da autonomia e estresse contínuo (GARCIA E ZIMMERMAN, 2006). Em muitos pacientes, outras emoções, como coragem, também podem ser sentidas (ALVAREZ et al, 2009).
O psicólogo, como profissional da saúde, tem um papel essencial junto aos pacientes renais crônicos, ajudando-os a melhorar seu bem-estar e sua qualidade de vida. Percebe-se que a relação terapêutica contínua com o psicólogo é de grande valor, pois proporciona ao paciente, formas para a expressão de seus sentimentos, medos e angústias (SILVA et al, 1993).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVAREZ, M. P. S. et al. Estudio de los estilos de apego adulto en un grupo de pacientes con insuficiência renal crónica terminal. Universidade Psychol. Vol. 8, nº 2, Bogotá, Colômbia, 2009. Disponível em: http://www.scielo.unal.edu.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1657-92672009000200009&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1657-9267.

CESARINO, C. B. e CASAGRANDE, L. D. R. Paciente com insuficiência renal crônica em tratamento hemodialítico: atividade educativa do enfermeiro. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v6n4/13873.pdf. Acesso em: 04 jan. 2011.

CRUZ, D.O.A; ARAUJO, S.T.C. Diálise peritoneal: a percepção tátil do cliente na convivência com o cateter. Acta Paul Enferm. 2008; 21(Spe):164-8.

DeFELIPE, V. Intervención grupal em um servicio de hemodiálisis. Guadalajara, México, 2009. Disponível em: http://www.area3.org.es/htmlsite/productdetails.asp?id =19. Acesso em: 04 jan. 2011.

GARCIA, C. J. & ZIMMERMANN, P.R. Falência e Transplante de órgãos. In N. J. Botega. Prática Psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. Porto Alegre: Artmed, 2006.

HIGA, K. et al. Qualidade de vida de pacientes portadores de insuficiência renal crônica em tratamento de hemodiálise. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ape/v21nspe/a12v21ns.pdf. Acesso em: 05  jan. 2011.

HYPHANTIS, T. SPIROS, K. VOUDICLARI, S. Ego mechanisms of defense are associated with patients’ preference of treatment modality independent of psychological distress in end-stage renal disease. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2846137/. Acesso em: 04 jan. 2011.

KOEPE, G. B. O. e ARAÚJO, S. T. C. A percepção do cliente em hemodiálise frente à fístula artério venosa em seu corpo. Acta paul. enferm.,  São Paulo,  v. 21,  n. spe,   2008 .   Disponível em:  <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002008000500002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 05  Jan.  2011. 

OLIVEIRA, I. R. Hemodiálise: da máquina... dos limites... do desejo. Associação Doe Vida. Itabira, MG, 2003.

PÁEZ, A. E. et al. Ansiedad y depression en pacientes con insuficiencia renal crônica em tratamiento de diálisis. Universidad Psychol. Vol. 8, nº 1, Bogotá, Colômbia, 2009.

QUINTANA, A. M. e MÜLLER, A. C. Da saúde à doença: representações sociais sobre a insuficiência renal crônica e o transplante renal. Disponível em: http://www2.pucpr.br/reol/index.php/PA?dd1=140&dd99=view. Acesso em: 05 jan. 2011.

REIS, C. K.; GUIRARDELLO, E. B. e CAMPOS, C. J. G. O indivíduo renal crônico e as demandas de atenção. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v61n3/a10v61n3.pdf. Acesso em: 05 jan. 2011.

RESENDE, M. C. et al. Atendimento psicológico a pacientes com insuficiência renal crônica: em busca de ajustamento psicológico. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pc/v19n2/a07v19n2.pdf. Acesso em 06 jan. 2011.

RODRIGUES, T. A. e BOTTI, N. C. L. Cuidar e o seu cuidado na hemodiálise. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ape/v22nspe1/15.pdf. Acesso em 05 jan. 2011.

ROMÃO JÚNIOR, J. E. Doença Renal Crônica: definição, epidemiologia e classificação. J. Bras. Nefrol. Vol. XXVI, nº 3, supl. 1, agosto de 2004. Disponível em:  http://www.transdoreso.org/pdf/doenca_renal.pdf.  Acesso em 11 mar. 2011.

SILVA, C. A., Krollmann, M.A.O. & Miranda, E.M.F. Perfil psicológico do paciente renal crônico. Jornal Brasileiro de Nefrologia. 15 (3), 1993, p. 85 - 91.


[1] Teólogo, Pedagogo, Mestre em Ciências da Religião, Especialista em Docência do Ensino Superior e Acadêmico do Curso de Psicologia – FASU/ACEG – e-mail: silviosilvia@ig.com.br
[2]  Pedagoga, Orientadora Educacional, Psicóloga Clínica, Mestranda no Curso de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Docente do Curso de Psicologia – FASU/ACEG – e-mail: babi2121@hotmail.com