quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Com e sob o poder



             Não é possível nos livrarmos da ideia de que o poder tem um lado humano e subjetivo, apesar de normalmente procurarmos chamá-lo de autoridade, comando, lugar ou centro de tomada de decisão. Estes sinônimos são usados para camuflar a realidade de que o poder exerce forte influência sobre nossas vidas, seja por aqueles que o detém ou pelos que se submetem a ele. Preferimos os sinônimos técnicos a encarar a face humana do poder. Por isso os subalternos têm olhos baixos ao cruzar com os poderosos, evitam o olho-no-olho. Mas, numa sociedade comunitária, na qual estamos inseridos, isto não favorece a prática de privilégios e a manutenção de cidadãos de segunda classe?
            Desde os primeiros tempos, o poder é experimentado na vida familiar, onde o pai é considerado o representante da lei - aquele que determina os limites daquilo que é ou não permitido. Mais do que o pai individual, é a dinâmica paterna, isto é, o predomínio do pensamento racional sobre a subjetividade em nosso dia a dia, que estabelece forte tensão entre o conceito e a relação com o poder, conforme Thaís A. Máximo, doutora em psicologia social pela Universidade Federal da Paraíba (O poder e suas faces. Associação Brasileira de Psicologia Social. Belo Horizonte, MG, 2010).
            O que nos diferencia enquanto pessoas e grupos é a detenção do poder: os que o têm em suas mãos, e aqueles que se submetem.
Por isso, a sociedade precisa sempre questionar as decisões que beneficiam a alguns, e prejudicam os interesses da maioria. Quanto maior a rigidez do uso do poder, maiores serão as barreiras sociais a serem superadas. Quanto menos importância for dada às opiniões contrárias, menos significado terá o indivíduo e a possibilidade de ouvi-lo. E, o mais grave, quanto mais o indivíduo considerar-se impotente frente ao poder, até mesmo pelos seus representantes, menos será reconhecido como protagonista dos fatos que envolvem a sua vida e a de seus pares.
Na vivência social o poder está, inseparavelmente, ligado à personalidade do líder e à sua competência, podendo dar ou não coesão e sustentação aos que representa.
No caso da democracia, o poder precisa buscar legitimidade dos meios de controle que aplica em seu exercício, para haver um verdadeiro desenvolvimento de todos. Daí a necessidade de ficarmos atentos à manipulação daqueles que se encontram à frente da coletividade.
Como observou Zygmunt Bauman (1925-), sociólogo polonês: “Quanto maior a minha margem de manobra, maior o meu poder. Quanto menos liberdade de escolha tenho, mais fracas são minhas chances na luta pelo poder” (A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. Rio de Janeiro, Zahar, 2008, p. 47).
C. G. Jung (1875-1961), tratando do caos que o abuso do poder trouxe ao mundo por ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), aconselha a percebermos em nós mesmos a tensão que a relação com o poder gera, com o propósito de adquirir consciência acerca de quem somos. Não basta os protestos, que pouco contribuem para uma real transformação das condições sociais negativas que o uso do poder provoca em toda a sociedade, como também, até mesmo as autoridades espirituais podem estar distantes da alma, e como hoje, afinadas ao discurso dos poderosos (Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis, Vozes, 1988).

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