domingo, 22 de setembro de 2013

Bandeiras negras (2)

             O que está preto em nosso País, simbolizado pelas bandeiras negras hasteadas no Rio de Janeiro, no último dia 7 de setembro, não é difícil perceber: as péssimas condições de funcionamento dos serviços públicos; o superfaturamento em obras; a impunidade a políticos comprovadamente criminosos; programas econômicos que levam as pessoas a contraírem mais dívidas; sistemas de transporte coletivo, público e privado, caros e sucateados; ruas e avenidas esburacadas, com trânsito cada vez mais lento; desigualdade social muito grande; execução de obras que atendem a interesses particulares e o abandono, à própria sorte, de populações miseráveis, que servem como massa de manobra em época de eleições; analfabetismo; negligência e indiferença para com as crianças, idosos e outras minorias sociais; etc. A lista é grande!
            Numa sociedade democrática, as soluções passam pelas ações político-sociais. Quer dizer, as responsabilidades precisam ser compartilhadas pelos representantes do povo, e pelos cidadãos. Cabe aos cidadãos cobrar dos agentes públicos, ações que atendam a coletividade. Contudo, cada um de per si precisa se lembrar que todas as situações sociais se originam do fundo inconsciente que opera subliminarmente.
Segundo a perspectiva da psicologia analítica de Carl Gustav Jung (1875-1961), se quisermos ter uma experiência de nós mesmos e da vida, e consequentemente, de uma sociedade mais consciente de seus direitos e deveres, o inconsciente coletivo e pessoal, através de sua linguagem simbólica, geralmente, apresentada em nossos sonhos – atividade onírica –, é o nosso mais fiel guia e conselheiro. Cabe-nos analisar, interpretar e enfrentar as realidades apresentadas pelo inconsciente, e principalmente, quando nos faz senti-lo por meio de um estado negativo, como se tem apresentado nestes últimos tempos, golpeando a nossos mais profundos anseios sociais.
            Conforme James Hillman (1926-2011), psicólogo e analista junguiano estadunidense, “o preto extingue o mundo colorido perceptivo” (Psicologia alquímica. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 134).
            A realidade brasileira nos indica que estamos cercados de trevas, e isto não é pessimismo, antes, reconhecimento necessário para nos por em movimento, para construir uma sociedade melhor, pois nada pode ser considerado fixo entre os humanos, nem mesmo a pretensa segurança que as riquezas produzidas podem proporcionar.
Aquelas bandeiras negras simbolizam que estamos passando por uma mudança de paradigmas, daí o sentimento de ameaça e insegurança generalizado, por não sabermos o rumo a que as situações podem nos levar. Mas, isto faz parte do processo, se quisermos uma transformação real, em busca de novas metas.
            “Cada momento de enegrecimento é um arauto da mudança, de descoberta invisível e de dissolução das ligações com tudo aquilo que foi tomado como verdade e realidade, fato sólido ou virtude dogmática. Ele escurece e sofistica o olhar de forma que ele pode enxergar através” (Hillman, p. 136).
            E, o que é possível “enxergar através” da situação que se nos apresenta?

            Que as estruturas sociais e políticas que nos impedem novas conquistas precisam ser dissolvidas; que, por melhor que possa ser alcançado, não podemos nos satisfazer, pois o inconsciente não para de agir e a golpear-nos, pois visa a nos levar para mundos ainda melhores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário