domingo, 1 de dezembro de 2013

Aspectos psicológicos do endividamento financeiro

Por que nos endividamos?
Quem não sabe das altas taxas de juros do cartão de crédito, do cheque especial ou do famigerado agiota, ou realmente não quer saber e nem procura por estas informações, ou simplesmente não se importa com o crescimento da dívida, mas, mesmo assim, se queixa de não ser capaz de viver sem dívidas. Entretanto, como se sabe, todas as necessárias informações quanto a estas cobranças estão disponíveis, bastando uma simples solicitação.
O psicólogo analítico Alex Borges Rocha, nos lembra que apesar de no Brasil a moeda se chamar “Real”, o dinheiro é cada vez mais “virtual”; que num tempo as pessoas recebiam o salário em “dinheiro vivo” e manipulando-o percebiam as reais possibilidades orçamentárias. Se o tivessem, comprava-se. Se não, não comprava.
Realmente, não é  difícil perceber o quanto algumas pessoas perderam a dimensão real, tangível, palpável, concreta do dinheiro. É como se o mesmo fosse algo subjetivo, virtual, quase irreal. Daí, cada vez mais, falamos ou ouvimos frases do tipo: “Hoje, eu não tenho, mas acho que vou ter no dia tal, então vou comprar, depois vejo o que faço”. “No mês seguinte, vai entrar um dinheiro, então...”. “O negócio era tão bom, que tive uma intuição, e no final tudo vai dar certo!” “Quero comprar tal coisa, mas agora não tenho dinheiro, então, passo o cartão, dou cheque pré-datado, entro no cheque especial, faço um carnê”. “Poxa, também, sou filho de Deus. Mereço um prêmio”.
Realmente, tratar o dinheiro dessa maneira fica difícil viver sem dívidas, uma meta distante, impossível de ser alcançada.
Parece-me que a questão não se resume a manter-se distante dos templos de consumo, especialmente nesta época do ano, mas trata-se de algo que se passa numa camada mais interior.
Para Rocha: “É sabido que quem vive dentro de um orçamento planejado não entra em dívida, mas tem que lidar com a frustração. [...] Saber qual é o real poder de compra é criar consciência de quanto se ganha e quanto se gasta” (O psicólogo clínico e o dinheiro. Revista Hermes, nº 17. São Paulo: Instituto Sedes Sapientiae, 2012, p. 14).
Quanto mais baixo o nível de suportar a frustração, maior deve-se aumentar as entradas financeiras, e não o número de parcelas.
O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), nos lembra: “Neurose é um estado de desunião consigo mesmo, causado pela oposição entre as necessidades instintivas e as exigências da cultura, entre os caprichos infantis e a vontade de adaptação, entre os deveres individuais e coletivos. A neurose é um sinal de parada para o indivíduo que está num caminho falso, e um sinal de alarme que o induz a procurar um processo de cura pessoal” (Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 356).
quem devo mais: a mim mesmo, ou às expectativas alheias? “Preciso” ou “desejo”? Por que cobrar de outras pessoas aquilo que só eu posso pagar-me?
“O dinheiro é um dos grandes determinadores [...] do valor que temos com relação a coisas e pessoas”, conforme o rabino Nilton Bonder (A Cabala do dinheiro. Rio de Janeiro: Imago, 1991, p. 153).
Fazer e pagar dívidas indicam quem sou nesta vida, e o que a vida é para mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário