domingo, 12 de janeiro de 2014

"A luta contra o vício"

“Sou um viciado. [...] Minha autoimagem era tão negativa que eu simplesmente esperava que coisas ruins acontecessem comigo. Para vencer o vício, tive de substituir o desejo de consumir álcool e drogas pelo desejo de ser uma pessoa melhor. Aprendi que estar sóbrio é mais do que simplesmente evitar as drogas e o álcool. Trata-se de um estilo de vida cujo foco está em fazer escolhas morais, trazendo para o primeiro plano as coisas que fazem a vida valer à pena. [...] É claro que precisei de uma consciência mais desenvolvida para sustentar isso. No decorrer dos anos, minha consciência me salvou do abismo de uma vida de total abuso hedonista. [...] Aprendi que, quando sou elogiado, é o momento de me concentrar em minhas falhas. Dessa forma, impeço que meu narcisismo fuja do controle, fazendo-me achar que posso agir sem me importar com as consequências. [...] Por mais que tivesse passado cinco anos sem usar drogas, durante todo esse tempo eu não me senti à vontade comigo mesmo. Guardar os problemas para si é o pior sentimento do mundo. Quando resolvi essas questões, por meio da terapia e de conversas com a minha família, me senti um novo homem. Depois de anos de terapia, aprendi a não me recriminar tanto. Lembrei que a recaída faz parte da recuperação”, Mike Tyson (A luta contra o vício. O Estado de São Paulo: 07/01/14, A8).
O campeão internacional de boxe Mike Tyson, nos revela que o ajustamento das suas disposições internas e o mundo – origem pobre nos subúrbios de Nova Iorque, ascensão profissional, riqueza, amigos, álcool e drogas, esposa e filhos – é uma luta que provocou modificações significativas em seus valores de vida, mas, principalmente, que a “cura” só é possível com a restauração de sua consciência pessoal, isto é, a percepção de que viver é “fazer escolhas morais”, é levar em conta os próprios pontos de vista subjetivos, que num processo de dependência química deixam de ser prioritários. Isto é muito importante, pois as opiniões subjetivas dos dependentes químicos permanecem vivas, apenas a sua força determinante é menor do que a das condições objetivas exteriores, quer dizer, para a sua mentalidade não existe qualquer outra coisa... nele próprio, conforme C. G. Jung, em seu “Tipos Psicológicos”.
A substituição dos fins objetivos por subjetivos é um processo gradual, daí as recaídas. As consequências negativas que o uso e/ou abuso das drogas provocam, são coadjuvantes no processo de ampliação da consciência, pois é preciso perceber o que a falta de liberdade e de visão internas acarreta à vida, mesmo que no exterior as coisas estejam acontecendo conforme a pessoa quer.
A dificuldade, daí a necessidade da contribuição psicoterápica, é enfrentar o pensamento de que seguir a subjetividade é se colocar sob um juízo contrário a realidade exterior, pois acredita que nada é mais perturbador ao pensamento do que sentir, e vice-versa. A psicoterapia, então, harmoniza o mais possível, segundo a capacidade de cada indivíduo, os pontos de vista interiores, do que é inconsciente, com o mundo objetivo, do que é consciente, evitando a viver um único lado de sua personalidade que o impede de transformar, criativamente, suas dificuldades.
Como Tyson, para vencermos as realidades exteriores, a luta é interna e, o inimigo, somos nós mesmos.

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