domingo, 10 de fevereiro de 2013

Carnaval: ritual interno e externo


       Carnaval: momento de viver a ingenuidade da infância através do encanto das fantasias que, infelizmente, hoje estão à venda aos milhões, demonstrando o poder massificador da festa e o poder massacrante sobre a imaginação humana, pois ficou mais fácil “comprar uma pronta” a deixar a criatividade trabalhar a favor da alegria. Este fenômeno está presente até mesmo entre as crianças, que sentem dificuldades em imaginar; parece que a preguiça venceu a vontade de pensar, artificializando a diversão, perpetuando a bizarrice das tendências.
A diversidade da festa tem para todos os gostos: blocos, escolas de samba, maracatu, frevo, boi-bumbá (...) heranças das culturas que formam nossa identidade nacional: afro-ameríndia-europeia.
            De acordo com Carl Gustav Jung (Símbolos da transformação. Vozes, 1989), seria o momento de vivenciar o “pensamento não dirigido”, ou seja, pensar através das imagens, das emoções, intuições, onde as regras da lógica e dos preceitos morais não se aplicam; originando, normalmente, no inconsciente.
            Apesar do caráter festivo, o carnaval é um ritual, conforme conceitua Émile Durkheim (1858-1917), por compartilharmos um sentimento comum e coletivo, ao menos durante estes dias, no qual vivenciamos os mundos interno e externo ao mesmo tempo.
Os momentos extáticos, dionisíacos da festa podem levar a uma perda das características “inocentes”, devido à fraqueza do ego movido pelo entusiasmo da convicção inflacionada de que tudo é possível, que se vê “forçado” a esquecer dos limites sociais, emocionais e morais. Trata-se de vivenciar a proximidade dos mundos interno (imaginação, fantasia) e externo (realidade familiar, social, moral) que muitas pessoas, deliberadamente, tentam separar sem considerar as consequências, que podem levar a loucuras.
            Como ritual, o carnaval pode ser saudável se o aproveitarmos para conectar os mundos externo e interno, conhecido e desconhecido, no sentido de aproximá-los e integrá-los à consciência. As máscaras e fantasias revelam quem somos por dentro, porém, muitas vezes, desconhecido. Não somente, lados da personalidade de cada um, mas também, como nação brasileira.
            Ritual da aproximação dos opostos: do amor e ódio, da morte e vida, da sabedoria e infantilidade, da vileza e justiça, do profano e sagrado, da virgindade e falta de vergonha, do que queremos que outros conheçam sobre nós e aquilo que não desejamos ser... Nada pode ser excluído da consciência individual e nacional.
            Não por acaso, o carnaval está intimamente associado a um dos períodos mais importantes da cultura religioso-cristã – a Quaresma – período de jejuns e reflexões, na tentativa de vivenciar a preparação de Jesus Cristo, no deserto, para vivenciar o sofrimento com forças. É preciso cuidar para que: “A religião que provoca a culpa é fruto de uma consciência que confunde o interior com o exterior e projeta o sagrado no mundo externo”, conforme Carlos São Paulo, médico da Universidade Federal da Bahia, diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia (http://psiquecienciaevida.uol. com.br/ESPS/edicoes/62/artigo209106-3.asp).

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