domingo, 6 de outubro de 2013

A que as crianças estão sujeitas!

            Se o comportamento inadequado de uma criança origina-se de algum transtorno psíquico: “É preciso compreender aquilo que, na organização de uma personalidade psicopática, provém de predisposições somáticas, de más condições sociais e o que provoca reações psicológicas do indivíduo, tornando-o incapaz de equilibrar em si mesmo sua pessoa e seu destino” (EY, H. Manual de psiquiatria. Rio de Janeiro: Masson/Atheneu, 1985, p. 369, apud LIMA FILHO, A. P. O pai e a psique. São Paulo: Paulus, 2012, p. 304).
            É bom se cercar de posicionamentos sem extremos como este para evitar tendências de “rotular” as pessoas, principalmente quando se trata de crianças, com diagnósticos que, na maioria das vezes, não representam mais do que as angústias dos pais e/ou responsáveis, inclusive de professores. Entretanto, é importante ressaltar: as teorias são auxiliares na orientação quanto às análises que precisam ser realizadas, contudo, como adverte Carl Gustav Jung (1875-1961): “A teoria é o melhor disfarce para a falta de experiência e para a ignorância, mas as consequências são deprimentes: mesquinhez, superficialidade e sectarismo científico” (JUNG, C. G. O desenvolvimento da personalidade. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 10).
Com tal posicionamento, Jung defende a ideia de que o desenvolvimento humano é muito “elástico”, podendo apresentar significativas alterações em todas as fases da vida e, em especial, na infância, por que suas disposições são polivalentes.
            Para fins didáticos, destaco o estudo de Alberto Pereira Lima Filho, psicólogo analítico e professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no qual nos apresenta a contribuição do neuropsiquiatra basco Julian Ajuriaguerra (1911-1993), em seu Manual de Psiquiatria Infantil, no qual categorizou os distúrbios antissociais em: 1. Personalidades subnormais (simples desvios da personalidade; possui uma relativa adaptação, mas as formas extremas são patológicas, incluindo pobreza de juízo e incompatibilidade social); 2. Psicopatas (ignoram responsabilidades; não distinguem o verdadeiro do falso; falta persistente de autocrítica; falta de aprendizagem pela experiência; incapacidade de amar; sentimentos superficiais; dureza e brutalidade evidentes); 3. Personalidades antissociais (indivíduos predadores que perseguem fins mais ou menos criminais); 4. Transtornos de caráter e do comportamento (transtornos de conduta mais estáveis, interiorizados e resistentes aos tratamentos do que “perturbações transitórias situacionais”); 5. Delinquência juvenil (puro atentado à lei; roubo, delitos de violência – agressão física e homicídio; delitos sexuais – estupro e prostituição; fuga e vagabundeio; toxicomania.
            Variados são os fatores que levam alguns indivíduos a apresentarem tais distúrbios: genéticos – hereditários; traumáticos – mortes, separações e perdas emocionais repentinas e significativas; sociais – gravidez indesejada por ambos os pais, negação de afeto em tenra infância, convivência temporária ou permanente com parentes ou estranhos, relações pouco harmoniosas entre os pais, violência doméstica e meios de comunicação; e, ambiente familiar – mães inseguras no cuidar do filho, crescente diminuição da importância do papel do pai em nossa sociedade, independência precoce, inclusive financeira, o que leva as crianças a se sentirem donas de si próprias muito cedo e num mundo à parte de seus pais.

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