sexta-feira, 1 de novembro de 2013

100 anos de Vinícius de Moraes

Vinícius de Moraes nasceu no dia 19 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro. Lá se vão 100 anos.
Poeta, diplomata, escritor, jornalista, letrista, dramaturgo, cronista, compositor, intérprete e ..., Vinícius, acima de tudo um apaixonado pela vida e por tudo que ela oferece, mas em especial as pessoas: amigos, operários, artistas, intelectuais, gente humilde, boêmios, e é claro, mulheres – “com todas delicado e atento”, até mesmo com as “feias”, e quando as abandonava.
A paixão o levou a experimentar altos e baixos, quer dizer, todas as suas dimensões; conheceu o céu e o inferno do amor, e como disse: “Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavaleiro e ser de sua dama por inteiro”.
“Vinícius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural”, conforme Carlos Drummond de Andrade (CASTELLO, J. Vinícius de Moraes: O poeta da paixão: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 11). Como afirma C. G. Jung (1875-1961): “O poeta é, por assim dizer, idêntico ao processo criativo, tanto faz que ele se tenha colocado deliberadamente à frente da moção criadora ou que esta o tenha tomado por inteiro como instrumento, fazendo-o perder qualquer consciência deste fato. Ele é a própria realização criativa e está completamente integrado e identificado com ela com todos os seus propósitos e todo o seu conhecimento” (O espírito na arte e na ciência. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 61).
O “poetinha” se deixou ser experimento das emoções, servindo-nos de sinal quanto à necessidade de colocar a intelectualidade em seu devido lugar. Aliás, esta era usada para produzir imagens de seu estado de alma. Assim ele declarou: “Acho que o amor que constrói para a eternidade é o amor-paixão, o mais precário, o mais perigoso, certamente o mais doloroso. Esse amor é o único que tem a dimensão do infinito” (LISPECTOR, C. De corpo inteiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 18).
Para Jung: “Nada é mais nocivo e perigoso para a vivência imediata do que o conhecimento” (idem, p. 66). Não são ideias que mudam o mundo, mas a arte que transcende qualquer compreensão consciente e, quanto melhor, quando se dirige contra a norma estabelecida pela racionalidade, que precisa ceder lugar à fenomenologia psíquica, a criatividade, a gênese de toda ciência.
Nada mais influenciava Vinícius Moraes. A criatividade em forma de poesia o levou a servir a humanidade. A criatividade foi a sua maior paixão, sua única e exigente “dama”. Ele escreveu: “Porque a poesia foi para mim uma mulher cruel em cujos braços me abandonei sem remissão, sem sequer pedir perdão a todas as mulheres que por ela abandonei. (...) Porque haverá nos olhos, na boca, nas mãos, nos pés de todos uma ânsia tão intensa de repouso e de poesia, que a paixão os conduzirá para os mesmos caminhos, os únicos que fazem a vida digna: os da ternura e do despojamento” (MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 171).

Devo registrar que a minha inspiração hoje foi o texto de Dulce Helena Rizzardo Briza, analista didata e autora de referências da psicologia analítica, encontrado em: Vinícius, o poeta do amor; Jung, o poeta da alma (Cadernos Junguianos, Associação Junguiana do Brasil. nº 5, setembro. São Paulo: 2009, pp. 44-57).

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