sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Crianças e adultos em (des)sintonia

Desde os primeiros contatos com os adultos, as crianças testam se são ou não correspondidas em suas diversas maneiras de estarem no mundo como seres vivos e reais, capazes de provocar trocas interpessoais e subjetivas. É como se as crianças tivessem um “dial”, através do qual percebem se estão ou não sintonizados à vida, à sua existência. Não diferente com os adultos, afinal, quase sempre “desconfiamos” se somos ou não aceitos no meio social em que estamos ou que pretendemos participar. A diferença é que as crianças não fazem escolhas, mas são postas nas situações que a natureza lhes impôs, no caso, terem os pais que têm. Portanto, é responsabilidade dos pais ou dos cuidadores, graças às suas vivências e maturidade afetiva, oferecerem um espectro mais amplo de trocas interpessoais e subjetivas às crianças, se quiserem que os pequenos vivam de modo mais “sintonizado” possível, segundo Mario Jacoby (Psicoterapia junguiana e a pesquisa contemporânea com crianças: padrões básicos de intercambio emocional. São Paulo: Paulus, 2010).
            Adultos e crianças estão, a todo tempo, procurando sintonizarem-se uns aos outros, desde os olhares e movimentos dos braços em direção à mãe na tenra infância, e nas diversas tonalidades dos choros das crianças e das vozes dos adultos, passando pelos gestos e/ou pelos silêncios de ambos, em constante avaliação, se são ou não correspondidos suficientemente.
            Quanto mais “dessintonizado” for o relacionamento entre as crianças e os adultos, especialmente com os seus pais e/ou cuidadores, os problemas de ordem psíquica aparecem e se desenvolvem.
            A pergunta que se impõe é: Como a criança experimenta as dessintonias com os adultos?
Mesmo precocemente a criança sente os perigos de ter pessoas se aproximando de suas experiências subjetivas – se são portadoras de riquezas mentais com as quais podem se relacionar com segurança, ou se representam ameaças que distorcem ou se apropriam, indevidamente, das suas experiências internas.
As crianças percebem se os adultos são ou não autênticos com elas, se podem ou não confiar neles, e é assim que desenvolvem a confiança nos outros e em si mesmas.
Assim, pais e/ou cuidadores precisam saber interpretar as necessidades sociais das crianças que podem ou não serem atendidas, procurando evitar as mensagens duplas na comunicação do que eles querem delas. Quer dizer: os adultos precisam atentar quanto às reais intenções que as crianças têm em relação a eles e aos outros, para que suas interferências sejam bem sucedidas.
Mensagens duplas deixam as crianças desorientadas, pois não sabem qual a melhor escolha a tomar, se há momentos em que se sentem aceitas e rejeitadas em outros, e muitas vezes pelas mesmas atitudes, sem saberem os reais motivos, ficando sempre ao sabor dos humores dos adultos.
Não é difícil prever que os distúrbios psíquicos, neste contexto, são danosos. É como se uma experiência afetiva alienígena se implantasse na estrutura mental da criança, levando-a a revelar-se uma pessoa diferente daquilo que ela poderia ser, se precisou ser corrigida e não foi, como também, se bastava ser estimulada naquilo que não tinha tanta importância, mas que foi reprimida.

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