segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Democracia como exercício psicológico da natureza humana

            Se quisermos estruturas sociais e políticas do Brasil mais justas, fortalecidas e integradas à diversidade de interesses, precisamos pensar muito mais como indivíduos responsáveis pela própria individualidade e, menos na estrutura montada pelos políticos chamada “presidencialismo de coalizão”.
Segundo Carl Gustav Jung (1875-1961): “Uma verdadeira democracia é, na verdade, uma instituição altamente psicológica que leva em conta a natureza humana, oferecendo espaços para as necessidades de conflito dentro dos limites da própria nação” (Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1990, p. 46).
O pensamento de Jung no debate político ressalta que a vida humana se dá no embate entre Eros e Poder, isto é, entre o amor – princípio que rege as nossas relações em todos os níveis, iniciado em nossos lares – e, as atitudes de cada um frente aos acontecimentos, ao subordinar todas as influências e experiências a uma supremacia da opinião própria com total desprezo pelas opiniões alheias principalmente quando são contrárias às nossas. Quer dizer, quando há a sobreposição de impulsos, sentimentos e pensamentos subjetivos de uma pessoa sobre a maioria, no caso, numa administração pública, a vontade de poder assume características egoístas que impõe um movimento de subserviência e/ou rebaixamento do outro, para que seus fins sejam alcançados, ainda que os da maioria sejam prejudicados.
Infelizmente, não faltam exemplos na vida pública brasileira, quer no município, no estado e na federação, para nos convencer da supremacia dos sentimentos mais egoístas sobre a população em geral.
A perda da possibilidade de ser individual no processo político que vai além do período das campanhas partidárias põe em risco a dinamicidade da vida, isto é, um ego que se embriaga com o poder, perde a capacidade de sentir, valorizar, tolerar, conviver com as diferenças, experimenta o gosto da soberba, da arrogância, do isolamento.
Amor e poder fazem a vida fluir, e quanto mais equilibrado for este movimento melhor para a vida individual, e para a sociedade.
Se a política brasileira sofre o desequilíbrio destas duas forças psíquicas é porque eleitores e administradores não dão a devida atenção à sua condição de indivíduos. Aqueles porque escolhem candidatos que lhe são parecidos em seus impulsos, e os outros, porque se deixam levar pelos interesses egoísticos.
Contudo, é bom lembrar que os movimentos populares que ganharam as ruas em junho passado demonstram que este fenômeno pode estar arrefecendo. Boa notícia para a democracia, mas péssima para os políticos que tentam deter o movimento da plena cidadania se agarrando ao poder.

Se assim não for, faz-se necessário preocupar-nos de outra afirmação de Jung: “Não há mais lugar para a decisão ética do homem singular, apenas para a comoção cega de uma massa obnubilada, onde a mentira passa a constituir o princípio próprio das ações políticas (Presente e futuro. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 13).

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