segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Por que tudo está como está?

A julgar os discursos dos candidatos e seus partidos políticos parece querer convencer-nos que a realidade do País é fruto de decisões e ações dos que ocupam o poder central, como se não existissem outros 200 milhões de cidadãos. Que os acertos e os erros são de total e exclusiva responsabilidade dos governantes.
Até a “situação” propõe “mudar para melhor” como se fosse possível fazer mudanças e, mais uma vez, sem o envolvimento de cada um de nós.
A “oposição” apresenta o mesmo plano: “Podemos mudar tudo que está aí, para você. Acredite. Nós sabemos como fazer. Só queremos que você confie em nós. Dê-nos um voto de confiança. Com a gente, tudo vai melhorar”.
Candidatos e partidos políticos quererem nos fazer crer que podem resolver tudo sem a nossa efetiva participação. Ou, como se não pudéssemos perceber que se trata de mais um mecanismo de colocar o Brasil a serviço de determinados grupos ávidos de poder e que prometem certas vantagens especialmente econômicas aos mais carentes?
Mas será que é assim mesmo? Não interferimos nós, nas diversas conjunturas do País para tornar as condições de vida boas ou ruins?
Esta condição psicossocial é vivenciada por todas as nações do mundo.
No final dos anos 1950, C. G. Jung enfrentou este problema na desenvolvida e moderna democracia suíça, que o levou a registrar: “O que uma nação toda faz é sempre o resultado daquilo que muitos indivíduos fizeram. Também não se pode educar uma nação. Só é possível ensinar ou mudar o coração do indivíduo. É verdade que uma nação pode ser convertida para coisas boas ou más, mas neste caso o indivíduo está agindo meramente sob uma sugestão ou sob a influência da imitação e, por isso, seus atos não têm valor ético. Se não se muda o indivíduo, nada é mudado. [...] E cada um espera que o outro seja o primeiro a agir. Por isso ninguém começa. Somos por demais modestos, preguiçosos ou irresponsáveis para admitir que podemos ser os primeiros a fazer a coisa certa. Se todos sentissem a mesma coisa, haveria ao menos uma grande maioria de pessoas pensando que a responsabilidade é coisa boa. Sob essas circunstâncias os piores males da humanidade já teriam sido resolvidos” (Cartas: 1956-1961. Volume III. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 173).
O psiquiatra suíço, então, resgata a responsabilidade social do indivíduo. É como se respondesse a questão: Por que tudo está como está? Para ele é necessário preservar a consciência pessoal sem identificar-se à massa coletiva. A nossa dignidade pessoal está em assumir a nossa individualidade, se quisermos ter nossos direitos respeitados.

Em 1947, Jung escreveu: “Há um telos (propósito) em cada comunidade [...] mas este telos é a soma de todos os tela individuais. Toda pessoa tem o seu telos e, na medida em que procura realizá-lo, é um autêntico cidadão. A comunidade não é nada sem o indivíduo e, se a comunidade consiste de indivíduos que não realizam o seu telos individual, então a comunidade não tem telos ou um telos muito ruim. Eis a razão por que o conformismo social se transforma em idolatria quando se torna um fim em si mesmo” (Cartas: 1946-1955. Volume II. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 70).

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