sábado, 17 de setembro de 2011

O sentimento religioso no dia 11/09


           “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. [...] O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio. Vinde, contemplai as obras do Senhor; que desolações tem feito na terra! Ele faz cessar as guerras até ao fim da terra; quebra o arco e corta a lança; queima os carros no fogo. Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; serei exaltado entre os gentios; serei exaltado sobre a terra. O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio” (Salmo 46).
Estas palavras foram lidas pelo presidente dos EUA Barack Obama, durante a cerimônia de homenagens aos 10 anos dos atentados de 11/09, junto ao monumento onde estavam localizadas as torres do World Trade Center. Apesar de não ter tido conotação religiosa, a manifestação demonstrou o quanto a religiosidade está associada à vida civil e republicana do povo norte americano.
Dentre tantos significados, o ritual expressa a impossibilidade de se reprimir a singularidade da experiência religiosa humana. Desta vez foi o sentimento religioso que reprimiu toda a onipotência tecnológica, científica e ideológica do mundo ocidental.
Engana-se quem pensa que se trata de uma expressão primitiva, na tentativa de fugir de uma situação inaceitável; antes, é um convite a olhar para a existência em busca de possibilidades; é buscar por uma porta que se abre; é lembrar que Aquele que parece estar permanentemente ausente, pode se fazer presente. F. Nietzsche (1844-1900) escreveu: “Os deuses gregos [...] não foram inventados certamente pelo ânimo abalado pela angústia: não foi para voltar as costas à vida que uma genial fantasia projetou suas imagens no azul” (A visão dionisíaca do mundo. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 15).
O psicanalista Gilberto Safra, numa conferência ministrada na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, em 14 de Junho de 2008, afirmou: “O que se revela na interioridade de alguém como potência de ser é extremamente singular. Acompanhar as verbalizações e associações, o modo de ser de alguém, é perceber como a pessoa  acessa sua compreensão do divino como potência de ser, de modo estritamente pessoal. Do ponto de vista do imaginário, as faces do absoluto, o divino é algo bastante singular, o que demanda que na condução clínica, se possa estar bem próximo do modo peculiar como essa pessoa compõe no seu imaginário o que para ela é potência de ser. E isso vai variar não apenas com a singularidade de alguém, mas também com o momento do processo maturacional em que a pessoa está.  Ou seja, essas concepções sofrem transformações ao longo da vida, no contato com a cultura, na interação com outras pessoas. No registro do fenômeno psíquico, imagens no imaginário presentificam a potência de ser. Quando acompanhamos  as associações de um paciente reconhecemos que no momento em que alguém, em seu percurso de vida, tem uma experiência  diante de um fenômeno  ou encontro, que é vivido como experiência de transformação, de metamorfose de si mesmo, isso é vivido pela pessoa, descrito por ela como experiência  sagrada”.

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