segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A fascinação do álcool (3)


            “Eu bebo socialmente”.
            Esta frase se repete com bastante frequência. Mas, qual o seu significado?
Segundo os médicos psiquiatras Arthur Guerra de Andrade e Camila Magalhães Silveira, ambos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP): “[...] beber socialmente, significa o uso de álcool dentro de padrões aceitos pela sociedade” (Rev. Psique Ciência & Vida. Nº 52. Dossiê: As faces do Alcoolismo. Editora Escala: São Paulo, p. 03).
Ao se verificar que o consumo de bebidas alcoólicas está relacionado aos “padrões aceitos pela sociedade”, temos de considerar a pressão que o grupo social exerce sobre os indivíduos. Por isso, o consumo de bebidas alcoólicas é um problema social.
Um problema que chama a atenção para as seguintes questões: Por que a opinião dos outros exerce tanta influência na decisão de beber ou não bebidas alcoólicas? Por que a sociedade tem um nível de tolerância ao consumo de álcool?
            Quanto à tolerância, registra-se que a sociedade é intolerante para com quem excede no consumo, especialmente quando a pessoa precisa do seu apoio social e moral; apesar disto, é cada vez maior o número de consumidores. Isto se dá porque vivemos numa sociedade consumista que estimula a aparência das coisas, e não considera a realidade sócio-econômica das pessoas. O “beber socialmente” tem grande participação nesta cultura de consumo, e sugere a existência de uma realidade sem consequências, antes as esconde. A cultura consumista estigmatiza os que não seguem os padrões que estabelece como norma para todos.
De fato, consumir bebidas alcoólicas é um fator social, isto é, alguns cedem à pressão social, com mais facilidade do que outros; substituem a opinião própria pela opinião dos outros. O seu nível de tolerância passa a ser aquele que é escolhido pelo grupo de amigos, familiares, e até de estranhos.
É tão significativo o fator social, que quando se trata de tratamento psicoterápico as terapias cognitivo-comportamentais se ocupam bastante em estimular o indivíduo a adquirir novas habilidades sociais, substituindo lugares e pessoas que o pressionam a beber.
Mas, o que leva a pessoa à tão rápida adaptação à opinião do grupo social, e a deixar de lado a própria?
Para C. G. Jung (1875-1961) é a busca por um equilíbrio das necessidades tanto do mundo interno como do mundo externo, mesmo que as solicitações sejam tão diferentes da sua própria.
É preciso registrar que isto contribui para o auto-engano, alienação e perda de contato com a realidade. A experiência tem indicado que somente quando se chega ao limite de tal experiência, é que é possível se auto-afirmar, encontrar o caminho de volta a si mesmo, ainda que a busca por tal equilíbrio tenha trazido um custo tão elevado, e contribuído para uma vida ilegítima.
Existe esperança para quem quer se encontrar!

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