É do fazer cotidiano dos professores se confrontarem com alunos que indicam alguma necessidade especial. Refiro-me a estudantes que fortemente resistem à adaptação ao processo coletivo de educação, tornando-se verdadeiros “problemas”, rotulados como “esquisitos” no contexto escolar.
Apesar de ser um tema polêmico porque parece defender privilégios sociais, culturais e econômicos temos de lidar com a sua complexidade, seja porque cada caso deve ser analisado separadamente, e a avaliação dos educadores passa, necessariamente, pela subjetividade de cada um deles, agravada pela quase total ausência de psicólogos e/ou psicopedagogos nas escolas na mediação da compreensão e na solução dos casos, ou porque é uma discussão totalmente ausente na formação acadêmica e nas reuniões de estudos dos educadores, provocando a impressão de que tal discussão é desnecessária devido às dificuldades de seu tratamento.
Talvez o exame do assunto deva iniciar-se pelo seguinte questionamento: A singularidade psíquica de alguns estudantes interfere em sua aprendizagem? Quais são as resistências dos programas de ensino a esta realidade, e como enfrentá-las? A faculdade do pensamento lógico só pode ser apreendida pelo estudo da matemática, fonte de muitos desgastes emocionais que pode provocar danos mentais ainda maiores aos educandos e estresse no exercício do magistério?
A resistência aos padrões educacionais vigentes na grande maioria de nossas escolas - públicas e particulares - por parte de alguns alunos tende a aumentar devido a acessibilidade às informações culturais (TV e Internet) ou às deficiências na formação dos educadores, conforme frequentes discussões acerca do fenômeno da educação, entretanto, é preciso considerar a história psíquica do aluno – os fatores psicológicos que o levam a resistir a assimilar determinados conteúdos das aulas, ou se adaptarem às condições coletivas da educação – além de fatores genético-neurológicos, como a dislexia de desenvolvimento e distúrbios de aprendizagem, por exemplo.
Conforme Carl Gustav Jung (1875-1961), o pano-de-fundo do histórico psíquico das crianças são as condições psicológicas de seus pais, avós e de outros antepassados, não atendidas completamente ou que não foram respondidas, e aguardam alguma providência por parte das crianças. Obviamente, em certas questões domésticas, os professores pouco podem fazer. “Em geral é no educando mesmo que o mal deve ser curado. Em tal caso importa encontrar o acesso à sua psique peculiar, a fim de que ele se abra à influência exterior. (...) Se quisermos provocar alguma alteração, precisamos passar para a consciência os fatos inconscientes, a fim de podermos submetê-los a uma correção” (O desenvolvimento da personalidade. Petrópolis: Vozes, 1983, pp. 158-159).
Jung esclarece, entretanto, que a educação a indivíduos deve levar em conta que em determinados casos “bons conselhos” podem alterar o funcionamento das famílias, em outros, porém, as intervenções devem ser realizadas por especialistas, para evitar danos maiores.
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