quinta-feira, 25 de julho de 2013

O nosso lado “Mula-sem-cabeça”

Conforme Carl Gustav Jung (1875-1961): “Todo grego do período clássico trazia em si um pouco de Édipo, assim como todo alemão tem em si um pouco de Fausto” (Símbolos da transformação. Petrópolis: Vozes, 1989, p. 28).
Partindo deste conceito, a psicóloga analítica Dulce Helena Rizzardo Briza, em seu “A mutilação da alma brasileira: um estudo arquetípico” (São Paulo: Vetor, 2006), nos leva a refletir quanto às figuras internas que constituem a psique nacional. Segundo Briza, inconscientemente compartilhamos de uma marca presente em nossos mitos – Saci Pererê, Curupira e Mula-sem-Cabeça – uma grande deformação.
Dado às deformações – menino de uma perna só, anão com os pés virados para trás e uma mulher que se transforma em muar acéfala e cospe fogo pelo pescoço – parece que acordamos de um tenebroso pesadelo, tomando como referência que o “Gigante” acordou. E, porque os pesadelos nos impressionam, podem ser chamados de “grandes sonhos”, isto é, preparam-nos para profundas alterações no curso da vida.
Conforme a psicologia analítica, as imagens oníricas são símbolos de nós mesmos, quer dizer, são personaficações de aspectos pessoais, que não são nem negativos nem positivos, mas representam, na realidade, quem somos e não aquilo que gostaríamos, os quais, para assimilá-los, precisamos explorar e colaborar da maneira mais total e ampla possível, e não apenas, intelectualmente.
Os protestos de rua contra as falhas dos gestores públicos e políticos em setores essenciais como a educação, a saúde, o transporte, a moralidade pública sinalizam que precisamos assimilar à consciência nossas deformantes fraquezas pessoais e nacionais, se quisermos dar um melhor rumo à nossa vida.
Todos nós trazemos um pouco da Mula-sem-cabeça dentro de nós. Exemplos de como agirmos inescrupulosamente, infelizmente, não faltam. Um deles, o jornalista Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa, aponta: “A Polícia Federal está investigando a informação surgida nas redes sociais digitais, indicando que um grande número de médicos estaria fazendo a inscrição para depois promover uma desistência em massa e, com isso, desmoralizar a iniciativa do governo” (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/radios/view/gt_gt_o_verdadeiro_nome_do_jogo_lt_br_gt_gt_gt_quem_resiste_a_reforma). E, os casos de vandalismo nas ruas dão conta das forças inconscientes subjetivas, individuais e coletivas que nos subjugam, afora os gestos dos governantes quanto ao trato da coisa pública, como voos com os aviões da FAB e o jantar de R$28.400,00, que Henrique Alves, presidente da Câmara dos Deputados, ofereceu a 80 peemedebistas, no último dia 16 de Julho.

Conforme Briza: “Precisamos resgatar a força da cabeça e da consciência (a cabeça da Mula) se partirmos do pressuposto que essa Mula esteja simbolizando a inversão do sexo, do instinto, dos valores materiais, que sobrepujam e dominam o espírito. Assim, a busca de questões materiais supera a das questões espirituais. Isso desencadeia uma desarmonização do espírito e uma perda da predominância da alma. [...] A jumenta, ou mula, significa a verdadeira humildade, a simplicidade, a paciência e a coragem, qualidade dos sábios, que têm cabeça e consciência. Se a Mula-sem-Cabeça arrancou nossos olhos, partindo do pressuposto de que, como a visão nos ajuda a tomar consciência, a enxergar a realidade, a examinar novas direções, a nos orientar, aí está expressa nossa inconsciência” (São Paulo: Vetor, 2006, pp. 143-144).

Nenhum comentário:

Postar um comentário