domingo, 7 de julho de 2013

O Saci está solto. Recolham o Saci.

            Todos nós estamos engajados numa campanha “revolucionária”, como querem alguns, mas acima de tudo, emancipatória dos políticos que não queriam ouvir, que gritávamos por melhorias nas condições de vida do País. “A gente não quer só comida / A gente quer saída / Para qualquer parte...” – já cantávamos com os Titãs. E, queremos acreditar que não nos deixaremos calar, antes, instigados, encontraremos “saídas”.
As “saídas” precisam ser construídas, não estão prontas. Os códigos legais, tão-somente sinalizam-nos as ferramentas que precisam ser utilizadas.
Buscamos “saídas” de nossas limitações históricas, pois, não podemos mais aguardar por projetos messiânicos, mas de maneira madura, encontrarmos formas saudáveis de enfrentarmos as próprias limitações.
Temos de ter paciência com as contradições nesse processo, refiro-me às práticas violentas e criminosas por parte de alguns manifestantes nas ruas, às manipulações viciadas dos partidos políticos que querem tirar algum proveito eleitoreiro, mas precisamos, perseverantemente, continuá-lo. Lembremo-nos: as contradições são parte do processo, que precisam ser assimiladas à consciência, sem reprimi-las, porque não são empecilhos insuperáveis.
Desde que o “gigante acordou”, tem de enfrentar o desafio à sua evolução em maturidade. “Quando retomamos nosso mito heroico, resgatamos nossa coragem e retomamos nossa razão de viver e de enfrentar os desafios da vida, não só como pessoas, mas também como nação”, conforme Dulce Helena Rizzardo Briza, psicóloga analítica, presidente do Instituto Junguiano de São Paulo (A mutilação da alma brasileira: um estudo arquetípico. São Paulo: Vetor, 2006, p. 31).
Se assim compreendermos, precisamos nos encontrar com os mitos que atuam no inconsciente coletivo, que possivelmente, povoaram nossos sonhos enquanto “dormíamos”, a saber: Saci, Curupira e Mula-sem-cabeça.
O menino de uma perna só, contudo, velozmente ágil, o Saci-Pererê, portando um cachimbo em sinal de afronta aos não fumantes e um gorro vermelho, sinalizando sua proximidade à magia e misticismo e a sua sensualidade, anda a espreita, pronto às estripulias, subvertendo as realidades da vida que deveriam seguir tranquilas e sem dificuldades, provocando grandes, atormentadoras e tumultuadas confusões, atrasando a efetividade de qualquer coisa desejada, emitindo gargalhadas debochadas todas as vezes que alcança sucesso em suas intenções maliciosas, e desaparece como num vento.
Precisamos perceber que não são poucas as vezes que agimos como Saci. Alarmantemente inconscientes, somos muito parecidos com ele. Apreciamos “brincadeiras” maliciosas, anedotas ardilosas, sem medir as consequências, mesmo quando negativas e depreciadoras, e talvez, por isso, preferidas. Governantes, partidos políticos e movimentos sociais, às vezes, fazem propostas que tumultuam situações que poderiam ser resolvidas sem grandes dificuldades.
Assimilar à consciência este lado significa: admitir as malandragens, as espertezas, as atitudes indisciplinas e incoerentes que tomamos na vida pessoal, familiar, social, política, econômica e espiritual. O Saci está solto. Só tomando sua consciência podemos recolhê-lo das ruas, lares, templos, escolas, gabinetes e palácios.

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