domingo, 16 de fevereiro de 2014

Pensar e sentir em "remodelação"

Pensar e sentir como funções psíquicas estão interligadas.
Interpretamos (pensamos) ativa e passivamente sobre tudo aquilo que nos chega à percepção, conforme Carl G. Jung (Tipos Psicológicos).
Pensamos ativamente ao nos envolvermos por e com vontade própria, tanto ao que nos acontece como às emoções geradas pelos fatos; neste sentido, o intelecto dirige nossos posicionamentos frente aos eventos e às emoções, nossas e de terceiros. Pensar passivamente significa deixar que as ideias se conectem umas às outras espontaneamente, sem uma participação dirigida; é deixar-se, intelectualmente, ser conduzido pela intuição, no campo físico e pessoal.
Sentir é a capacidade de avaliação do que nos acontece externa e internamente; trata-se de refletir subjetivamente quanto à necessidade de enfrentar e de recuar frente às ocasiões com que nos deparamos.
A vivência destas funções modera tanto o racionalismo quanto a fantasia, quer dizer, nos protegemos da frieza intelectual e, puramente, sentimentalistas.
Na atualidade, pensar e sentir se dá no âmbito da vida urbana e, hoje mais do que nunca, sentimos os efeitos da dissociação destas funções.
Conforme o historiador e crítico de arquitetura, tcheco, Sigfried Giedion (1888-1968): “O caos de nossas cidades, não pode ser explicado tão só pelas condições sociais e econômicas. As ações são postas em marcha mediante impulsos sociais e econômicos, mas cada ato humano está sob influências, e inconscientemente plasmado por um ambiente emocional específico. O mesmo ocorre com a política e o governo. Na base de cada sistema político se acham indivíduos cujas ações refletem sua preparação intelectual e emotiva. No momento em que se produz uma cisão, o núcleo interno da personalidade fica separado por uma diferença de nível entre os métodos de pensar e os do sentir. Seu resultado é o símbolo do nosso tempo: o homem dissociado, inadaptado” (Espacio, tiempo y arquitectura. Ed. Reverté. Barcelona/Espanha: 2009, p. 788-789).
As condições de vida nas cidades têm nos levado a um elevado nível de estresse e, as consequências estão aí: baixo nível de tolerância para com o contínuo descaso das autoridades pela baixa qualidade dos serviços públicos, insegurança, ruas esburacadas, alta de taxas e impostos; ansiedade gerada pela incerteza quanto ao que virá depois dos protestos iniciados em junho de 2013; distúrbios mentais, como depressão e outros transtornos psíquicos, porque vemos as nossas condições de vida piorar; chegando até, em alguns casos, à perda da identidade própria.
Estamos num momento em que as funções psíquicas de pensar e sentir estão se “remodelando”.
As estruturas do saber e poder incestuosamente ligadas e corroídas, que ocupam os espaços espirituais, intelectuais, políticos e econômicos, querem nos fazer crer que o movimento psíquico em curso levará ao fim da sociedade de consumo, dos partidos políticos, da “ordem moral e ética” que controlam sob a força e a violência.
A luta travada no mundo exterior se dá no nível interior de cada um de nós. É preciso acompanhar o processo de “remodelação” do pensar e do sentir, assimilando os seus conteúdos à consciência, se quisermos construir uma sociedade melhor.

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