domingo, 2 de fevereiro de 2014

Pensar e sentir na resolução de problemas

A recusa em refletir psicologicamente a respeito das manifestações coletivas, a que estamos presenciando nos últimos tempos no País, contra a violenta e opressora repressão da polícia, a impunidade aos crimes contra o erário público, a falta de vontade política de estabelecer serviços de saúde, educação e transporte públicos de qualidade e aos discursos vazios que intentam desviar a atenção de muitas pessoas dos reais e graves problemas sociais do País e da cidade, revela a importância dada à superfície das coisas, preferindo fugir de experimentar a essência interior de cada um de nós.
As grandes soluções para os grandes problemas exteriores que enfrentamos passam por resolver os assuntos referentes aos mesmos dentro de nós. Nossos problemas sociais são fruto da nossa maldade pessoal. “A alma é o ponto de partida de todas as experiências humanas, e todos os conhecimentos que adquirimos acabam por levar a ela. A alma é o começo e o fim de qualquer conhecimento”, segundo Carl Gustav Jung (A natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 61). 
            Contemos dentro de nós exatamente aquilo que estamos combatendo fora.
“A diferença entre um problema pessoal e um coletivo é que um problema pessoal deriva inteiramente de nós mesmos, das nossas próprias insuficiências pessoais. Mas, um problema coletivo chega a nós devido ao fato de que vivemos em coletividade”, conforme C. G. Jung (The Visions Seminars, 1933).
            O Complexo de Poder que se caracteriza por (relembrando o artigo anterior): egocentrismo narcísico (para exercer o poder, as necessidades alheias tendem a ser ignoradas), autoritarismo, intolerância à contradição, competitividade, apego ao Poder, acúmulo de riqueza, fala com ar de comando, corrupção, inveja, baixa tolerância a frustração, ostentação, aversão aos símplices, ambição, delírio de grandeza, etc, nos leva a um estado de “intoxicação emocional”, quer dizer, nossa mente fica obscura, insegura, turvada sob o poder fascinante a que o consumismo, por exemplo, nos leva, daí darmos mais importância ao que acontece na superfície da realidade exterior, e nos afastamos da nossa essência pessoal.
            Afastar-se é o mesmo de negar ou reprimir aquilo que somos de obscuro e destrutivo. Entretanto, afastar-se não significa eliminar ou erradicar, mas recolher no inconsciente, porém, deste modo acumulamos energia tal, que geralmente, ao explodir causa destruição e sofrimentos.
            Nestes momentos se faz necessário desenvolver pensamentos e sentimentos, porque nada pode funcionar enquanto estamos sob o efeito perturbador das emoções.
            Pensar e sentir significa tentar entender, discriminar, avaliar o sentido e o significado das emoções, integrando à consciência o seu conteúdo, para que ocorra, então, crescimento e sabedoria.
            Cabe nos confrontar e satisfazer às exigências que os pensamentos e sentimentos nos propuserem, nesta tarefa: “A paciência é fundamental. Coragem para enfrentar a ansiedade. Dedicação contínua no sentido de uma disponibilidade para perseverar, a despeito de todas as modificações de humor e de estado mental, no esforço de pesquisar e compreender aquilo que está ocorrendo”, conforme Edward Edinger (Anatomia da psique. São Paulo: Cultrix, 1995, p. 25).

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