domingo, 2 de março de 2014

Carnaval: encontrando a nós mesmos

            Nas ruas e salões de todo o País assistimos aos desfiles dos arquétipos humanos simbolizados em cada aparato carnavalesco, dos confetes e serpentinas às grandes escolas de samba e blocos carnavalescos, animando a cada folião.
            No corpo do pensamento psicológico desenvolvido por C. G. Jung, arquétipo é uma entidade psíquica preexistente a todos nós, dotada de energia tal, que é capaz de ativar fatores interiores que podem transformar nossas vidas conscientes, devido as emoções que o nosso corpo sente, e nos parecem não serem nossas.
Os arquétipos são “verdadeiras personalidades psíquicas que possuem uma realidade diferenciada (JUNG, C. G. Estudos alquímicos. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 44), por isso ao nos encontrar, seus impactos nos causam, ao menos no primeiro momento, algum estranhamento, espanto, admiração, êxtase ao invadirem autonomamente nosso ego fria e arrogantemente intelectualizado; entretanto, ainda segundo Jung, não são elas que estão em nós, ao contrário, nós que estamos nelas. “Para mim, a alma é um mundo no qual o eu está inserido”, afirma ele na mesma obra (p. 55).
            Os arquétipos se nos apresentam através de imagens, e o Carnaval é mais um dos momentos em que sensorialmente percebemos suas presenças.
Aparentemente inofensivas e/ou ingênuas, entretanto, o significado simbólico dos Pierrôs, Colombinas, Piratas, Baianas, entre outras fantasias, são carregadas de energias que podem nos beneficiar, bem como, nos prejudicar. Nossas emoções mais primitivas ficam à flor da pele, algumas nos enchem de prazer, outras nos dão a sensação de estarmos “possuídos” por algo mais forte. Alguns se sujeitam a influência das emoções, de tal maneira a terem a vida transformada que, dependendo das consequências, terão de arcar com elas, se arrependerem e, depois repararem o mal que sofreu e fez sofrer. Outros, entretanto, poderão ter uma ampliação de suas consciências, se refletirem quanto ao significado de suas emoções, antes de se deixarem levar por elas.
            Se quisermos compreender o significado das imagens que acessam nossos conteúdos mais íntimos, devemos experimentar o que têm a nos dizer a respeito de nós mesmos, e incluí-los à consciência, ou seja, trazer à luz o que está nas sombras, a fim de provocar uma mudança em nossa personalidade.
            Durante a festa, as fantasias nos mostram aquilo que não queremos ser, bem como os nossos talentos e verdadeiros dons e, se não as reconhecemos, nossas atitudes podem ser ingênuas, mas os problemas que criamos com isto, tornam-se cada vez mais complexos e difíceis. Assim, o baile de carnaval continuará depois da Quarta-feira de Cinzas, quer dizer, as fantasias ganharam notoriedade, muito mais do que, simplesmente, para nos divertir, mas, para as chamarmos pelos seus verdadeiros nomes e darmos um significado pessoal a cada uma delas.

            “Alguém se encontra diante de um perigo que deve ser superado. Fraqueza e impaciência nada conseguirão [...] Só quando se tem coragem de ver as coisas diretamente tais como são na realidade, sem se deixar enganar ou iludir, é que surge uma luz que permite reconhecer o caminho para o sucesso” (I Ching, Bollingen Edition, p. 25, apud, Abrams, J. A hora do salto da sombra. Rev. Hermes, nº 17, 2012, p. 107).

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