segunda-feira, 21 de abril de 2014

Especulação imobiliária: um dos lados do Complexo de Poder

            Considerando que a especulação imobiliária em nossa região tem suas raízes na fundação de nossa cidade, conforme aponta o doutor em história, professor Valdeir Agostinelli Pereira (1961-), em seu: “Terra e poder: formação histórica de Marília (Comissão Permanente de Publicação, UNESP: Marília, 2005), é importante, trazer à nossa consciência conteúdos não presentes, apesar de atuantes, em nosso inconsciente pessoal e coletivo.
            A ideia das comodidades da vida urbana próxima às vantagens oferecidas pelo campo, presente nas publicidades dos mais diversos empreendimentos imobiliários, dão-nos suficientes provas da atuação dos fatores psicológicos ligados ao complexo de poder a que estamos sujeitos, tem levado-nos a crer que “natureza” é mais um conceito produzido pela manipulação social e histórica do homem, conforme Wendel Henrique (O direito à natureza na cidade. Salvador (BA): EDUFBA, 2009). Segundo o doutor em geografia, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia: “A natureza, material e simbolicamente, incorpora-se à esfera [...] de uma racionalidade instrumental, [...] tende a ser transformada em cartões postais e em fetiche” (p. 18).
Isto nos aponta para o nosso complexo de poder, nossa forma emocional de lidar com a capacidade de submetermos tudo, todos e, a nós mesmos, a conceitos e formas de vida. Como todos os complexos, o de poder, não é de todo negativo, pois através dele estabelecemos limites às nossas ações, como também, a influência e determinação alheia sobre nós. Entretanto, o aspecto negativo do complexo de poder, quanto ao que estamos tratando, responde a muitos de nossos questionamentos atuais: a artificialidade, como componente da complexidade da vida urbana a que estamos submetendo a nossa existência e das futuras gerações; a um distanciamento das nossas identidades étnicas e geográficas, como se não as tivéssemos; de estabelecer comunidades marcadas pela desigualdade, fortalecendo a especulação imobiliária, a ponto de acreditarmos que não é possível estabelecer critérios que definam, mais claramente, seus limites, tendo como consequência, o agravamento da alienação social e política, tanto individual quanto coletiva e, portanto, facilitando a sua prática, cada vez mais, abusiva e, deixando um campo livre para atuação de políticos e empresários inescrupulosos.
Andreas Meyer-Lindenberg, matemático, psiquiatra e pesquisador, diretor do Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha, em: Cidades enlouquecedoras (Revista Mente e Cérebro. Ed. 255. São Paulo: Duetto, Abril, 2014), aponta que viver o lado negativo do complexo de poder, na vida urbana, traz algumas consequências emocionais, deixando-nos um “sabor” artificial do que é viver: prejuízo dos níveis de memória e de atenção; ansiedade e depressão; e, em alguns casos, esquizofrenia. E, aponta para diversos fatores externos que determinam neurobiologicamente, como a superestimulação da amígdala cerebral, o aparecimento de tantos transtornos de humor: poluição atmosférica, visual e sonora; estresse social, motivado pela pressão social presente na vida urbana, e enfraquecida, no meio rural; fragilidade dos laços e da sensação de não pertencer a um lugar ou grupo social, como elemento de instabilidade emocional. E, conclui: “Uma densa rede de amigos e parentes pode ajudar a proteger as pessoas contra os efeitos mais nocivos do estresse. Podemos projetar nossas cidades de forma que favoreçam o bem-estar emocional” (p. 53).

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