domingo, 13 de abril de 2014

Significados simbólicos das origens históricas de Marília

            Neste 85º aniversário de Marília, podemos trazer à consciência conteúdos da nossa história que, por vários motivos, foram omitidos.
Nossas origens históricas, muito antes dos pioneiros José Pereira da Silva e Bento de Abreu Sampaio Vidal, tem um significado simbólico, a saber: nossa forma emocional de lidar com o poder, isto é, quanto à maneira de desejarmos que todos e tudo se submetam a nós; dos mecanismos utilizados para que os nossos objetivos sejam alcançados; a expansão do círculo de influência e a determinação quanto aos caminhos que a vida deve seguir.
Segundo o historiador mariliense Valdeir Agostinelli Pereira (1961-), autor de “Terra e poder: formação histórica de Marília” (Comissão Permanente de Publicação, UNESP: Marília, 2005), a grande extensão de terra, da então Vila de Botucatu - último marco civilizatório do homem branco, até as barrancas do Rio Paraná - foi desbravada pelo mineiro José Teodoro, que chegara por estas bandas em 1856; entretanto, ao bispo de Botucatu, que respondia pela outorga de terras à Coroa Portuguesa, declarara que as possuía desde 1847. Desta maneira, portanto, burlou a Lei das Terras, decretada em 1850. De posse das terras, Teodoro as dividiu em “aguadas” (p. 8), nome dado às parcelas de terras próximas às bacias hidrográficas, objetivando facilitar as negociações com os interessados em adquiri-las, que só chegariam 55 anos depois.
No dia 19 de fevereiro de 1877, Francisco de Paula Moraes, genro de Teodoro, aproveitando-se de uma falha do Estado que “ainda não havia realizado a discriminação das terras devolutas” (p. 9), processo iniciado apenas em 1880 (p. 11), compra de João Antônio de Moraes, que junto com João da Silva Oliveira, cunhado de Teodoro, “apossaram-se e alienaram a terra [...] que mais diretamente se liga à história da fundação de Marília, (as quais foram) ligeiramente e às pressas visitadas e do alto do mirante avistadas” (p. 9).
Logo a crescente busca por “terras virgens”, agricultáveis, atraiu: “falsificadores de títulos de propriedades (que) contando com a conveniência e cumplicidade de um ex-tabelião e ex-agente fiscal, obtiveram papel e selo próprios e antigos com os quais fabricaram escrituras e procederam ao registro de terras, cujos donos ainda não as haviam legitimado” (p. 12); que doravante, conclui o autor: “as terras viriam servir à especulação imobiliária” (p. 15).
Apesar de não serem diferentes de como se deram as demais conquistas e posses no restante do País, lamentavelmente, parecem persistir algumas características, ainda hoje, senão vejamos: 1. A concentração do poder nas mãos de (muito) poucos, leva-nos a estigmatizar aos “donos” do que se deseja possuir – os índios foram estigmatizados como “ferozes, terríveis e temidos” – e, hoje, especialmente, na prática político-partidária, há os que classificam, a julgar pela maneira como administram a cidade, os cidadãos, verdadeiros donos do patrimônio, construído com taxas e impostos muito elevados, como “massa de manobra” para conquistar e/ou manter-se no poder; 2. Fraudar a lei e criar documentos falsos, aproveitando-se das falhas do Estado, ou lançando mão de funcionários lenientes, mesmo tendo conhecimento dos impedimentos legais, para terem garantidos interesses e privilégios, primeiro familiares e, depois, corporativos; 3. Adotar um estilo de viver que não leva em consideração “o outro”, sem contudo, perceber que negando o valor do outro, nega-se o direito de existir também ao “outro” que está em nós, perdendo, assim, a capacidade de diálogo com nós mesmos.

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