domingo, 11 de maio de 2014

A "boa mãe"

            A mãe, ou alguém que a substitua, é para a criança não só a sua condição prévia física, mas também psíquica, conforme Carl Gustav Jung (1875-1961), em “Os arquétipos e o inconsciente coletivo. (Petrópolis: Vozes, 2000, p. 109). A mãe é a primeira fonte de alimento, calor, proteção e ternura em todos os setores da vida da criança.
            “O bebê vive psicologicamente dentro da mãe durante seu primeiro ano de vida, como viveu fisicamente antes do nascimento”, conforme o psicólogo analítico, escritor e um dos mais talentosos alunos de Jung, Erich Neumann (1905-1960), em seu “O medo do feminino” (São Paulo: Paulus, 2000, p. 221).  
            A mãe, então, tem uma posição tão significativa, “transpessoal, arquetípica”, isto é, ela reúne em uma só pessoa “o mundo e o eu” do filho, quer dizer, a mãe “engloba, contém e dirige a nossa vida”, conforme Neumann.
            Para este autor, se os animais adquirem uma independência própria logo após o nascimento, o mesmo não acontece com os seres humanos. Só depois do primeiro ano de vida adquirimos um senso de estabilidade, liberdade e inteligência, isto é, independência, sentimento de importância que tem no mundo, de alguém que existe e pode sobreviver sem a idealização da mãe.
            A mãe fornece os primeiros laços do filho com ele próprio, e isto é fundamental para a sua (do filho) sobrevivência como um ego promissor que se desenvolve diante das realidades que passa a conhecer com segurança em si mesmo quando ela “falha”, por exemplo, se ausentando e, além de compreendê-la aprende a atender a si mesmo, constrói um “ego heroico”, isto é, assume os riscos, os perigos e os sofrimentos próprios, descobre a própria individualidade.
            Quando este processo é evitado, preferindo-se permanecer no conforto dos braços da mãe a enfrentar as batalhas pessoais, ou a mãe impede o desenvolvimento do filho, mantendo-o ligado a ela, motivada por questões próprias não assumidas, favorece-se a ativação de processos psíquicos terríveis, isto é, a situação externa desencadeia um processo psíquico, no qual certos conteúdos se juntam e dispõem à ação, mas sob a influência de uma energia que não é deles, mas dos próprios conteúdos, como: cansaços e desistências frente às dificuldades, escapismos e/ou procrastinações; medo do mundo externo e interno; ansiedade; vícios (dependências químicas, jogos de azar, etc); psicoses; e, “coletivamente, isto pode ser expresso externamente por uma guerra não evitada, ou uma ditadura não evitada”, segundo Neumann (p. 233).
            Uma “boa mãe” percebe quando o filho quer ser ele mesmo, e não só permite como facilita este processo de libertação, desprende-se do filho afastando-se para o seu progresso, guardando no coração a experiência de não dominar a situação.
            E, o pai ou o seu substituto, qual a sua função? “A ausência de uma figura paterna tem efeito destruidor no desenvolvimento do ego da criança, independentemente de se a causa dessa ausência está numa fraqueza de caráter ou numa doença, de se ele é atraído para fora de casa pelo trabalho ou por um caso extraconjugal, ou está “ausente” em virtude de morte ou de guerra. O efeito sobre a criança é sempre negativo, visto que a situação familiar especifica da espécie não é atendida” (Neumann, p. 238).

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