terça-feira, 27 de maio de 2014

Você tem medo de viver?

Fantasiar ou imaginar não goza de bom conceito, especialmente, quando refletimos quanto aos avanços tecnológicos que nos parecem terem saído de mentes racionais brilhantes. É que nossas fantasias carecem de “provas científicas”.
            Entretanto, mesmo não sendo possível “prová-las cientificamente”, fantasiar ou imaginar sempre fez bem a psicologia humana e, isto deveria nos ser suficiente.
            Não precisamos provar se nossas fantasias (religiões, mitos, lendas, etc) são verdades absolutas, ou não. O que podemos concluir é que aqueles que se voltam contra a fantasia, a imaginação, se desesperam diante da morte, sentem-se desenraizados, desorientados, diante da falta de sentido da sua existência.
            Quando fantasiamos: inventamos, diminuímos, distorcemos, superamos, extravasamos, fortalecemos, suportamos melhor a realidade. A fantasia nos sensibiliza e nos põe em movimento, intuitiva e criadoramente, a buscar por experiências de maiores significados, para soluções que não vemos no momento.
            Fantasiar ou imaginar quebra os padrões do pensamento dominante, ainda que científico, mas que nos deixam imóveis. Fantasiar ou imaginar nos coloca diante de novos conceitos que nos colocam em um desenvolvimento mais dinâmico.
            “Esse espetáculo da velhice seria insuportável se não soubéssemos que nossa psique atinge uma região imune à mudança temporal e à limitação espacial. Nessa forma de ser nosso nascimento é uma morte, e nossa morte é um nascimento. Os pratos da balança se equilibram” (JUNG, citado por VON FRANZ, M. L. Os sonhos e a morte: uma interpretação junguiana. São Paulo: Cultrix, 1996, p. 178).
            Viver é manter livre e selvagem a “região imune à mudança temporal e à limitação espacial”, a que a velhice impõe tão severamente, com a permissão de algumas pessoas. É ser “rico de invenção”, como afirmou Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) acerca de Cora Coralina (1889-1985), que somente aos 76 anos de idade lançou seu primeiro livro “Vintém de Cobre”, que mesmo sendo idosa, escreveu: “Procuro superar todos os dias minha própria personalidade renovada, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto. Venho do século passado e continuo nascendo diariamente” (DEBÓFRIO, D. F. Cora Coralina: melhores poemas. 2ª Ed. São Paulo: Global, 2004, p. 224).
            Viver é saber que é preciso manter-se no processo pessoal de crescimento, que procura harmonizar o inconsciente com o consciente, ainda que por fora, pouca coisa contribua para alcançar e chegar até ao fim.
            Ou ainda, fantasiar e imaginar são explicados pelo filho que disse à mãe como o seu pai ensinou-lhe a dormir: “Eu me deito na cama e fecho os olhos, então imagino e começo a me sentir como se estivesse dentro de uma banheira com água morna, meu corpo vai ficando mole e pesado como se me esquecesse dele. E enquanto isso meus pensamentos são como bolhas de sabão que saem de dentro da banheira, ficam por ali flutuando um tempo e depois se vão, podendo ou não aparecer outra bolha de pensamento. Daí durmo...” (AMORIM, L. P. C. A importância da função imaginativa. Anales del I Congreso Latinoamericano de Psicologia Junguiana. Puenta Del Leste, Uruguay, 1998).

            Você tem medo de viver? Fantasie ou imagine! Viver é fazer “bolhas de sabão”.

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