domingo, 13 de julho de 2014

Revertendo o placar de 7 a 1

Inacreditável. Impensável. Inesperado. Vexame. Surra. Desastroso. Escandaloso. Inconcebível. Desespero total. Catastrófico. Grande humilhação. Derrota estrondosa, acachapante. Estrago inominável. Arrasador. Estupefação completa. Devastador.
            Assim foi descrita a maior derrota já sofrida pela Seleção Brasileira em 84 anos de Copa do Mundo. Sete a um, frente à Seleção da Alemanha, será assunto durante muito tempo. Se depender do Bild, jornal de maior circulação no país germânico: “Uma vitória para a eternidade”.
            Entretanto, depois de ouvir, ler e meditar sobre algumas opiniões, muitas delas lembram o discurso que pais, mães e outros familiares dirigem aos filhos, netos, maridos, esposas e/ou irmãos quando apresentam algum “mal comportamento”.
            Por exemplo: “Essa seleção jogou a história do Brasil no lixo”, afirma Robson Morelli em seu blog, e concluiu: “Não foram 10 minutos de pane. Foram 10 anos de estagnação, de jogadores que não atuam mais com a ginga do brasileiro, de treinadores que se perderam na vontade de ganhar a qualquer custo, de equipes montadas e desmontadas quase no mesmo dia, de dirigentes que pararam no tempo, de um futebol que não nos pertence. Empobrecemos em campo”.
            Leia em voz alta, com entonação de advertência e de raiva, que soa muito próximo daquilo que milhões de brasileiros ouvem todos os dias em suas casas, das pessoas mais próximas e íntimas que têm durante toda a vida. Algo parecido com: “Eu não esperava isso de você. Você viu o que fez? Como você explica isto? Não, não tem explicação!” Mas, não para aí: “Não foi isto que te ensinei. Onde foi que eu errei? Perdi toda a confiança em você. Você acabou com a nossa família. Que vergonha! Não dá para esquecer o quê você fez! Com quê cara vou enfrentar os meus amigos, os vizinhos? Eu não sei o que faço com você! E, agora, como vai ser daqui pra frente?”
            É provável que você já tenha ouvido alguma coisa parecida com isto. E, ao invés destas palavras apontarem alguma saída das dificuldades que você se encontrava ou se encontra, aumentam ainda mais a sensação de desorientação, desespero, humilhação, frustração, derrota, arraso, fracasso, fraqueza, falência.

            É possível reverter o placar 7 a 1. C. G. Jung diria: “Infelizmente, não se pode negar que o homem como um todo é menos bom do que ele se imagina ou gostaria de ser. Todo indivíduo é acompanhado por uma sombra, e quanto menos ela estiver incorporada à sua vida consciente, tanto mais escura e espessa ela se tornará. Uma pessoa que toma consciência de sua inferioridade, sempre tem mais possibilidade de corrigi-la. Essa inferioridade se acha em contínuo contato com outros interesses, de modo que está sempre sujeita a modificações. Mas quando é recalcada e isolada da consciência, nunca será corrigida. [...] A sombra é simplesmente vulgar, primitiva, inadequada e incômoda, e não de uma malignidade absoluta. Ela contém qualidades infantis e primitivas que, de algum modo, poderiam vivificar e embelezar a existência humana” (Psicologia e religião. Petrópolis: Vozes, 1987. pp. 81 e 83).

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