terça-feira, 22 de julho de 2014

Rubem Alves (1933-2014)

           Teologia. Este foi o tema do meu primeiro encontro pessoal com Rubem Alves, em 1982/83, quando estudava no Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas/SP, o mesmo onde se formara em 1957.
Fundador da “teologia libertadora”, com o seu “Da Esperança: teologia da esperança humana”, mais tarde intitulada Teologia da Libertação, teve como expoentes Leonardo Boff, Gustavo Gutiérrez, Jon Sobrino e Juan Luis Segundo.
Teólogo, filósofo, poeta, psicanalista, escritor e educador Rubem Alves era conhecido como o “homem que gosta de ipês amarelos...” - opinião de um menininho que leu seus livros numa escola infantil.
Na verdade, gostava da vida. Aprendeu com o poeta Mário Quintana, para quem: “Morrer, que me importa? O diabo é deixar de viver”, recordado em seu “O Deus que conheço” (Campinas: Verus, 2010, p. 37).
“Sei que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. O que sinto é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores!”, afirmou em “Pimentas: para provocar um incêndio, não é preciso fogo” (São Paulo: Planeta, 2012, p. 80).
Rubão, como era conhecido no meio teológico, legou-nos um arsenal de sementes de um mundo maravilhoso escondido nos mistérios do humano. Discorrer sobre os temas que o ocupavam é temeridade, pois suas grandezas penetraram à política, a ética, a teologia, a educação, a morte, as crianças, os velhos, a sexualidade, os animais, a gastronomia, etc.
Religião é abandonar-se “na direção das evidências do sentimento, da voz do amor, das sugestões da esperança” (O que é religião. São Paulo: Abril Cultural e Brasiliense, 1984, p. 128). “Sou um construtor de altares. Construo meus altares com poesia e música. Eu os construo na beira de um abismo profundo, escuro e silencioso...” (O Deus que conheço. Campinas: Verus, 2010, p. 70).
Quanto à política nos contou sobre o prefeito de uma cidade no interior do estado de Goiás, laureado como “moderno e dinâmico”, que liderou uma campanha entre os moradores para que cortassem as árvores dos seus quintais para que a cidade fosse vista pelos viajantes, pois argumentava: “Todo mundo sabe que árvore é sinal de atraso...” (Pimentas... p. 55). Qualquer semelhança com a nossa cidade não é mera coincidência.
Rubem Alves vivenciou o outro que existiu nele. E, o outro o vivenciou. Sua obra é o registro desta vivência. Seu coração acolheu a todas as sementes que existem, e deixou-as frutificar, por isso nos convida a transformá-las em árvores, e não a cortá-las.
Como diria Jung: “A vida é ao mesmo tempo significativa e louca. Se não rirmos de um dos aspectos e não especularmos acerca do outro, a vida se torna banal; e sua escala se reduz ao mínimo” (JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 41).

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