domingo, 5 de outubro de 2014

Afetos: bússola politicossocial

            Hoje iremos às urnas manifestar o quanto ficamos afetados emocionalmente pelos programas que os partidos políticos e os seus candidatos nos apresentaram.
Os sentimentos oscilaram entre ojeriza e simpatia, escárnio e admiração, nojo e conforto, ansiedade e tranquilidade, estarrecimento e segurança, temor e esperança, repugnância e criatividade, chacota e respeito, insegurança e confiança, alienação e interesse pelos problemas do País, irritação e disposição interior para mudar, dúvidas e convicções, entre muitos outros.
Não podemos anular a força dos afetos. São eles que nos apontam a direção para a qual nos movimentamos, seja na vida pessoal ou social.
Tal como uma bússola, os afetos nos dirigem política e socialmente.
Então, o momento exige uma reflexão quanto à direção que estamos dando ao nosso País.
Será que sabemos para onde os afetos podem nos levar? Sabemos o que fazer com eles? Sabemos o que eles fazem com a gente? Será que os candidatos sabem o significado dos afetos que os mobilizaram? Os afetos nos ajudarão a fazer uma boa escolha? Caso tomemos uma direção errada, como corrigiremos? Permaneceremos numa postura distante quanto às necessidades do País? E, quanto a nós mesmos, continuaremos paralisados, ainda que os sentimentos nos sejam tão desagradáveis?
Quer dizer: nosso voto pode representar o quanto devemos nos mobilizar para as mudanças que o Brasil precisa, ou pode, simplesmente, ser uma manifestação de nosso mau gosto neurótico, representado nos candidatos com os quais nos identificamos. A escolha poderá corresponder àquilo que sentimos sobre nós mesmos, ou sobre o quanto podemos fazer pelo nosso País.
A grande maioria dos candidatos e dos eleitores se orientou de modo quase exclusivo pelo lado “idealista” da vida: para o “amor” – sem ódio; para a “moralidade” – mas, sem perceber a imoralidade pessoal; para a “honestidade” – mas sem considerar o fato de que o lado obscuro da própria personalidade, precisamente nessa situação, cada vez mais, pode tornar-nos cínicos ou no próprio ladrão, que queremos combater.
Entretanto, precisamos buscar por algo melhor e mais real – deixar-nos tocar por afetos criativos, a partir do interior de cada um de nós, que podem transformar a sociedade.
A criatividade está no relacionamento humano coletivo, mas tendo a forte percepção de que o relacionamento coletivo tem suas raízes, em primeiro lugar, no relacionamento com nós mesmos.
Precisamos resgatar o respeito e o amor por nós mesmos. Só assim seremos capazes de empregar nossa criatividade, que deixamos ser reprimida pela tecnologia desespiritualizante de nossa época.

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