A
ambição dos candidatos à Presidência da República os leva a serem capazes de
tudo, até mesmo de assumir posições contrárias às suas confissões religiosas.
Em
2010, nas eleições presidenciais, o Brasil assistiu a um embate político-moral,
posto pelos católicos e evangélicos, em torno do aborto.
Hoje,
a defesa dos juízos morais especialmente de grupos evangélicos, se dá quanto à
defesa, por parte dos candidatos, do que se convencionou chamar “bandeiras da
causa gay e criminalização da homofobia” (O Estado de São Paulo. 14.10, p.
A10).
Infelizmente,
mais uma vez, o pano de fundo é o fundamentalismo religioso, que toma variadas
formas na diversidade religiosa evangélica brasileira, quando defende seus
interesses institucionais, em detrimento dos direitos individuais. Está em
campo uma verdadeira batalha contra a sagrada liberdade de consciência.
Estas
lideranças, ao que parece, estão acuadas pelos seus temores e inseguranças
pessoais, apesar do discurso triunfalista que sustentam em suas reuniões, pouco
se importando com os custos emocionais dos fiéis, nem aos próprios sofrimentos.
Referindo-se a
igreja evangélica suíça (bem diferente da nossa), formada por pessoas de alto
padrão de civilização, Carl Gustav Jung (1875-1961), reconhecendo a energia da
religião no dinamismo psicossocial como “um grande risco e, ao mesmo tempo, uma
grande possibilidade” daquele povo, nos ajuda a refletirmos, quando escreveu
(desculpe-me pela longa citação, mas vale a pena ler e meditar): “Nosso mundo é
sacudido e inundado por ondas de inquietação e medo. [...] Observe-se a
incrível crueldade de nosso mundo supostamente civilizado – tudo isto tem sua
origem na essência humana e em sua situação espiritual! Observe-se os meios
diabólicos de destruição! Foram inventados por gentlemen inofensivos, cidadãos
pacatos e respeitados e tudo aquilo que se possa desejar. E se tudo explodir,
abrindo-se um inferno indescritível de destruição, parece que ninguém será
responsável por isso. É como se as coisas simplesmente acontecessem. E, no
entanto, tudo é obra do homem. Mas, como cada um está cegamente convencido de
não ser mais do que uma simples consciência, muito humilde e sem importância,
que cumpre regularmente suas obrigações, ganhando seu modesto sustento, ninguém
percebe que toda a massa racionalmente organizada a que se dá o nome de Estado
ou Nação é impelida por um poder aparentemente impessoal, invisível, mas terrível,
cuja ação ninguém ou coisa alguma pode deter. Em geral, tenta-se explicar esse
poder terrível pelo medo diante da nação vizinha (pessoas e/ou grupos), que se
supõe estar possuída por um demônio maligno. E como ninguém pode saber em que
ponto e com que intensidade está possuído e é inconsciente, simplesmente
projeta seu próprio estado no vizinho. Torna-se então um dever sagrado possuir
os maiores canhões e os gazes mais venenosos. [...] Cada vizinho se acha
dominado pelo mesmo medo incontrolado e incontrolável. É fato bem conhecido nos
manicômios que os pacientes que têm medo são muito mais perigosos do que os
impulsionados pela ira ou pelo ódio” (Psicologia e religião. Petrópolis: Vozes,
1990, p. 53-54).
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