segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Igrejas evangélicas e a política partidária

            A ambição dos candidatos à Presidência da República os leva a serem capazes de tudo, até mesmo de assumir posições contrárias às suas confissões religiosas.
            Em 2010, nas eleições presidenciais, o Brasil assistiu a um embate político-moral, posto pelos católicos e evangélicos, em torno do aborto.
            Hoje, a defesa dos juízos morais especialmente de grupos evangélicos, se dá quanto à defesa, por parte dos candidatos, do que se convencionou chamar “bandeiras da causa gay e criminalização da homofobia” (O Estado de São Paulo. 14.10, p. A10).
            Infelizmente, mais uma vez, o pano de fundo é o fundamentalismo religioso, que toma variadas formas na diversidade religiosa evangélica brasileira, quando defende seus interesses institucionais, em detrimento dos direitos individuais. Está em campo uma verdadeira batalha contra a sagrada liberdade de consciência.
Estas lideranças, ao que parece, estão acuadas pelos seus temores e inseguranças pessoais, apesar do discurso triunfalista que sustentam em suas reuniões, pouco se importando com os custos emocionais dos fiéis, nem aos próprios sofrimentos.

Referindo-se a igreja evangélica suíça (bem diferente da nossa), formada por pessoas de alto padrão de civilização, Carl Gustav Jung (1875-1961), reconhecendo a energia da religião no dinamismo psicossocial como “um grande risco e, ao mesmo tempo, uma grande possibilidade” daquele povo, nos ajuda a refletirmos, quando escreveu (desculpe-me pela longa citação, mas vale a pena ler e meditar): “Nosso mundo é sacudido e inundado por ondas de inquietação e medo. [...] Observe-se a incrível crueldade de nosso mundo supostamente civilizado – tudo isto tem sua origem na essência humana e em sua situação espiritual! Observe-se os meios diabólicos de destruição! Foram inventados por gentlemen inofensivos, cidadãos pacatos e respeitados e tudo aquilo que se possa desejar. E se tudo explodir, abrindo-se um inferno indescritível de destruição, parece que ninguém será responsável por isso. É como se as coisas simplesmente acontecessem. E, no entanto, tudo é obra do homem. Mas, como cada um está cegamente convencido de não ser mais do que uma simples consciência, muito humilde e sem importância, que cumpre regularmente suas obrigações, ganhando seu modesto sustento, ninguém percebe que toda a massa racionalmente organizada a que se dá o nome de Estado ou Nação é impelida por um poder aparentemente impessoal, invisível, mas terrível, cuja ação ninguém ou coisa alguma pode deter. Em geral, tenta-se explicar esse poder terrível pelo medo diante da nação vizinha (pessoas e/ou grupos), que se supõe estar possuída por um demônio maligno. E como ninguém pode saber em que ponto e com que intensidade está possuído e é inconsciente, simplesmente projeta seu próprio estado no vizinho. Torna-se então um dever sagrado possuir os maiores canhões e os gazes mais venenosos. [...] Cada vizinho se acha dominado pelo mesmo medo incontrolado e incontrolável. É fato bem conhecido nos manicômios que os pacientes que têm medo são muito mais perigosos do que os impulsionados pela ira ou pelo ódio” (Psicologia e religião. Petrópolis: Vozes, 1990, p. 53-54).

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