“A
cidade, boca de sertão e ponta de trilhos”
Não
basta ocupar um espaço, buscamos sentir que nos constituímos partes integrantes
do lugar; queremos sentir pertencentes ao lugar e que ele nos pertence.
No
caso da cidade, sentimos que nos pertencemos mutuamente, se nela encontramos
qualidade de vida e bem-estar. Como árvores, deitamos nossas raízes na
geografia e nas condições psíquicas que a cidade nos oferece.
Cada cidade
valoriza um padrão de vida conforme suas raízes históricas, geográficas,
sociais, econômicas, míticas, religiosas, culturais. A combinação destes
fatores é que nos levam a sentir que pertencemos ao lugar, e que ele nos
pertence. Assim, trazemos a cidade em nossa alma, fazemos a sua alma e vivemos
a nossa alma.
A
cidade fornece um espaço onde a alma humana realiza o seu mito pessoal, mas
também, é onde realizamos o mito da cidade. É na cidade que desenvolvemos o
querer estar junto, formar comunidade, imaginar, trocar sentimentos e falar
sobre nós mesmos, e acerca de tudo que nos acontece e somos rodeados em nossas
ruas, avenidas e praças.
Os lugares
influenciam sobre nossa forma de viver, nosso instinto de sobrevivência e de
civilização. Carregamos em nossa psique as marcas do convívio que é possível
nos construir neste lugar, que possui uma alma própria.
A
cidade é como um vaso alquímico onde se dá a transformação da humanidade. Ao
enfrentar as dificuldades e buscar as soluções mais adequadas, no contato com o
outro, nosso estilo de vida se diferencia.
Nestes
86 anos de Marília, a alma de cada um é a alma da nossa cidade. Nossa alma é
composta por aproximadamente outras 230.000, e de outras tantas que aqui
nasceram e se foram, assim como as que, embora não sejam nativas, chegaram e
ficaram, e de alguma forma carregam em sua psique as marcas deste convívio.
Se
olharmos para a nossa “certidão de nascimento”, o “DNA” formador da nossa
cidade, não como meros registros históricos, mas como elementos psicológicos que
se misturam e resultam em nosso “jeito” de ser, não só ampliamos as
possibilidades de nos compreendermos, como também, vislumbramos as melhores
soluções para cada um de nossos problemas.
Por
exemplo: o local onde está instalado o Monumento aos Pioneiros, ao lado do
Cemitério da Saudade e do Velório Municipal, suscita em nossa alma alguns
questionamentos: Estamos olhando para um futuro sem vida? Aguardamos as
soluções de nossos problemas dos que já morreram? O espírito empreendedor ainda
está vivo?
Podemos
e precisamos vivenciar outra dimensão da dinâmica de nossa cidade. O
historiador Valdeir Agostinelli Pereira, nos lembra que a nossa cidade era
conhecida como: “A cidade, boca de sertão e ponta de trilhos” (Terra e poder:
formação histórica de Marília. Marília: Comissão Permanente de Publicação,
2005, p. 73), num período em que o País enfrentava os efeitos da crise
econômica de 1929, com a quebra da cafeicultura, e as disputas pelo poder
político local, em seus primeiros anos. Isto indica que a alma da cidade é
aquela que olha pra frente; procura ocupar e aproveitar os espaços; avança e
amplia os seus limites.
Qual
destas “almas” da cidade é a sua?
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones:
998051090 / 981378535 – http://psijung.blogspot.com.br)
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