domingo, 19 de abril de 2015

"A cidade, boca de sertão e ponta de trilhos"

“A cidade, boca de sertão e ponta de trilhos”
            Não basta ocupar um espaço, buscamos sentir que nos constituímos partes integrantes do lugar; queremos sentir pertencentes ao lugar e que ele nos pertence.
            No caso da cidade, sentimos que nos pertencemos mutuamente, se nela encontramos qualidade de vida e bem-estar. Como árvores, deitamos nossas raízes na geografia e nas condições psíquicas que a cidade nos oferece.
Cada cidade valoriza um padrão de vida conforme suas raízes históricas, geográficas, sociais, econômicas, míticas, religiosas, culturais. A combinação destes fatores é que nos levam a sentir que pertencemos ao lugar, e que ele nos pertence. Assim, trazemos a cidade em nossa alma, fazemos a sua alma e vivemos a nossa alma.
            A cidade fornece um espaço onde a alma humana realiza o seu mito pessoal, mas também, é onde realizamos o mito da cidade. É na cidade que desenvolvemos o querer estar junto, formar comunidade, imaginar, trocar sentimentos e falar sobre nós mesmos, e acerca de tudo que nos acontece e somos rodeados em nossas ruas, avenidas e praças.
Os lugares influenciam sobre nossa forma de viver, nosso instinto de sobrevivência e de civilização. Carregamos em nossa psique as marcas do convívio que é possível nos construir neste lugar, que possui uma alma própria.
            A cidade é como um vaso alquímico onde se dá a transformação da humanidade. Ao enfrentar as dificuldades e buscar as soluções mais adequadas, no contato com o outro, nosso estilo de vida se diferencia.
            Nestes 86 anos de Marília, a alma de cada um é a alma da nossa cidade. Nossa alma é composta por aproximadamente outras 230.000, e de outras tantas que aqui nasceram e se foram, assim como as que, embora não sejam nativas, chegaram e ficaram, e de alguma forma carregam em sua psique as marcas deste convívio.
            Se olharmos para a nossa “certidão de nascimento”, o “DNA” formador da nossa cidade, não como meros registros históricos, mas como elementos psicológicos que se misturam e resultam em nosso “jeito” de ser, não só ampliamos as possibilidades de nos compreendermos, como também, vislumbramos as melhores soluções para cada um de nossos problemas.
            Por exemplo: o local onde está instalado o Monumento aos Pioneiros, ao lado do Cemitério da Saudade e do Velório Municipal, suscita em nossa alma alguns questionamentos: Estamos olhando para um futuro sem vida? Aguardamos as soluções de nossos problemas dos que já morreram? O espírito empreendedor ainda está vivo?
            Podemos e precisamos vivenciar outra dimensão da dinâmica de nossa cidade. O historiador Valdeir Agostinelli Pereira, nos lembra que a nossa cidade era conhecida como: “A cidade, boca de sertão e ponta de trilhos” (Terra e poder: formação histórica de Marília. Marília: Comissão Permanente de Publicação, 2005, p. 73), num período em que o País enfrentava os efeitos da crise econômica de 1929, com a quebra da cafeicultura, e as disputas pelo poder político local, em seus primeiros anos. Isto indica que a alma da cidade é aquela que olha pra frente; procura ocupar e aproveitar os espaços; avança e amplia os seus limites.
            Qual destas “almas” da cidade é a sua?

(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 998051090 / 981378535 – http://psijung.blogspot.com.br)

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