Neste
86º aniversário de Marília, podemos trazer à consciência conteúdos da nossa
história que, por vários motivos, foram e são mantidos reprimidos, erroneamente interpretados, ou simplesmente, desvalorizados.
Nossas origens
históricas, muito antes dos pioneiros José Pereira da Silva e Bento de Abreu
Sampaio Vidal, tem um significado simbólico, a saber: nossa forma emocional de
lidar com o poder, isto é, a maneira de desejarmos que todos e tudo se submetam
a nós; dos mecanismos empregados para que os nossos objetivos sejam alcançados;
a expansão do círculo da nossa influência e a determinação quanto aos caminhos
que a vida deve seguir, segundo os nossos critérios.
Segundo o
historiador mariliense Valdeir Agostinelli Pereira (1961-), autor de “Terra e
poder: formação histórica de Marília” (Comissão Permanente de Publicação,
UNESP: Marília, 2005), a grande extensão de terra, da Vila de Botucatu, último
marco civilizatório do homem branco, até as barrancas do Rio Paraná, até então,
- foi desbravada pelo mineiro José Teodoro, em 1856, que ao bispo de Botucatu,
responsável pela outorga de terras à Coroa Portuguesa, declarara que as possuía
desde 1847; dessa maneira, burlara a Lei das Terras, decretada em 1850; que de
posse das terras, Teodoro as dividiu em “aguadas” (p. 8), nome dado às parcelas
de terras próximas às bacias hidrográficas, objetivando facilitar as
negociações com os interessados em adquiri-las, que só chegariam 55 anos
depois.
Ainda segundo o
mesmo autor, no dia 19 de fevereiro de 1877, Francisco de Paula Moraes, genro
de Teodoro, aproveitando-se de uma falha do Estado que “ainda não havia
realizado a discriminação das terras devolutas” (p. 9), processo iniciado
apenas em 1880 (p. 11), compra de João Antônio de Moraes, que junto com João da
Silva Oliveira, cunhado de Teodoro: “apossaram-se e alienaram a terra [...] que
mais diretamente se liga à história da fundação de Marília, (as quais foram)
ligeiramente e às pressas visitadas e do alto do mirante avistadas” (p. 9).
Logo a crescente busca por “terras virgens”, agricultáveis, atraiu:
“falsificadores de títulos de propriedades (que) contando com a conveniência e
cumplicidade de um ex-tabelião e ex-agente fiscal, obtiveram papel e selo
próprios e antigos com os quais fabricaram escrituras e procederam ao registro
de terras, cujos donos ainda não as haviam legitimado” (p. 12); que doravante,
“as terras viriam servir à especulação imobiliária” (p. 15).
Apesar de não
serem diferentes de como se deram as demais conquistas e posses no restante do
País, lamentavelmente, parecem persistir algumas características deste símbolo
fundador de nossa cidade, como por exemplo: 1. A concentração do poder nas mãos
de (muito) poucos, leva-nos a estigmatizar aos “donos” do que se deseja possuir
- especialmente, na prática político-partidária, onde sobressaem os que
classificam, a julgar pela maneira como administram a cidade, os cidadãos,
verdadeiros donos do patrimônio, construído com taxas e impostos muito
elevados, como “massa de manobra” para conquistar e/ou manter-se no poder; 2.
Fraudar a lei e criar documentos falsos, aproveitando-se das falhas do Estado,
ou lançando mão de funcionários lenientes, mesmo tendo conhecimento dos
impedimentos legais, para terem garantidos interesses e privilégios, primeiro,
familiares e, depois, corporativos; 3. Adotar um estilo de vida que não leva em
consideração “o outro”, sem perceber que negando o valor do outro, nega-se o
direito de existir também ao “outro” que está em nós, perdendo, assim, a
capacidade de diálogo com nós mesmos.
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones:
998051090 / 981378535 – http://psijung.blogspot.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário