domingo, 6 de setembro de 2015

O que faço, quando eu erro? (2)

            Acreditamos que para superarmos os nossos erros, as nossas falhas ou os nossos defeitos isso depende bastante, senão exclusivamente, da nossa força de vontade e inteligência. Há muito tempo os amuletos e os sacrifícios de animais perderam a importância e não são mais empregados na superação de nossas dificuldades pessoais.
Quando algum “defeito” não é vencido, logo concluímos que se deve a falta de sermos mais racionais ou de nos empenharmos com maior vontade.
Entretanto, estamos pagando um alto preço por sermos mais racionais, e prestarmos um verdadeiro culto à vontade. Além dos gastos com a medicação especializada como ansiolíticos e antidepressivos, o desgaste emocional está se tornando cada vez mais intenso.
            Ou seja, parece que os “defeitos” são mais fortes que a nossa inteligência e força de vontade, e não cedem ao nosso empenho - quanto mais elaboramos tentativas em superá-los, mais nos frustramos.
            Na realidade, há “defeitos” que são insuperáveis por habilidades técnicas. Não existe nada que possamos fazer para evitar que tenhamos tantos defeitos e que podem ser superados bastando alguma atitude “técnica” a ser aprendida e aplicada.
            Para Carl Gustav Jung: “Os maiores e mais importantes problemas da vida são, no fundo, insolúveis; e deve ser assim, uma vez que exprimem a polaridade necessária e imanente a todo sistema autorregulador. Embora nunca possam ser resolvidos, é possível superá-los mediante uma ampliação da personalidade” (O segredo da flor de ouro. Petrópolis: Vozes, 1984, p. 32).
            As “partes inferiores” que nos impedem de acertar, que nos provocam tantos dissabores são fatores psicológicos vivos e autônomos de um sistema que regula-se o tempo todo, por não ser unilateral, que recusa a extremos. Estamos no campo da vida, daquilo que é próprio do viver.
            “Ampliar a personalidade” significa, neste sentido, participar de um processo de superação de si mesmo, interagindo com todas as possibilidades interiores ou exteriores que gravitam ao redor dos “defeitos”, recusando-se a toda tentativa de fixação ou manutenção de posturas rígidas, mesmo que as possibilidades nos pareçam obscuras, duvidosas, incertas, contrárias a maioria das opiniões alheias, desprezíveis e humildes frente aos talentos ou capacidades mais desenvolvidas que, entretanto, promovem a superação às tristezas e perturbações que os “defeitos” provocam.
            Simplificando: aprender com os erros cometidos, transformando acontecimentos indesejados que os “defeitos” suscitaram, em experiências de vida. É acompanhar, bem de perto, o processo psíquico que os “defeitos” provocam interior e exteriormente.
            E, como diria Jung, mais uma vez: “Tudo o que é bom é difícil, e o desenvolvimento da personalidade é uma das tarefas mais árduas. Trata-se de dizer sim a si mesmo, de se tomar como a mais séria das tarefas, tornando-se consciente daquilo que se faz e especialmente não fechando os olhos à própria dubiedade” (idem, p. 34-35).
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)

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