Acreditamos
que para superarmos os nossos erros, as nossas falhas ou os nossos defeitos isso
depende bastante, senão exclusivamente, da nossa força de vontade e
inteligência. Há muito tempo os amuletos e os sacrifícios de animais perderam a
importância e não são mais empregados na superação de nossas dificuldades
pessoais.
Quando algum
“defeito” não é vencido, logo concluímos que se deve a falta de sermos mais
racionais ou de nos empenharmos com maior vontade.
Entretanto,
estamos pagando um alto preço por sermos mais racionais, e prestarmos um
verdadeiro culto à vontade. Além dos gastos com a medicação especializada como
ansiolíticos e antidepressivos, o desgaste emocional está se tornando cada vez
mais intenso.
Ou
seja, parece que os “defeitos” são mais fortes que a nossa inteligência e força
de vontade, e não cedem ao nosso empenho - quanto mais elaboramos tentativas em
superá-los, mais nos frustramos.
Na
realidade, há “defeitos” que são insuperáveis por habilidades técnicas. Não
existe nada que possamos fazer para evitar que tenhamos tantos defeitos e que
podem ser superados bastando alguma atitude “técnica” a ser aprendida e
aplicada.
Para
Carl Gustav Jung: “Os maiores e mais importantes problemas da vida são, no
fundo, insolúveis; e deve ser assim, uma vez que exprimem a polaridade
necessária e imanente a todo sistema autorregulador. Embora nunca possam ser
resolvidos, é possível superá-los mediante uma ampliação da personalidade” (O
segredo da flor de ouro. Petrópolis: Vozes, 1984, p. 32).
As
“partes inferiores” que nos impedem de acertar, que nos provocam tantos
dissabores são fatores psicológicos vivos e autônomos de um sistema que
regula-se o tempo todo, por não ser unilateral, que recusa a extremos. Estamos
no campo da vida, daquilo que é próprio do viver.
“Ampliar
a personalidade” significa, neste sentido, participar de um processo de
superação de si mesmo, interagindo com todas as possibilidades interiores ou
exteriores que gravitam ao redor dos “defeitos”, recusando-se a toda tentativa
de fixação ou manutenção de posturas rígidas, mesmo que as possibilidades nos
pareçam obscuras, duvidosas, incertas, contrárias a maioria das opiniões
alheias, desprezíveis e humildes frente aos talentos ou capacidades mais
desenvolvidas que, entretanto, promovem a superação às tristezas e perturbações
que os “defeitos” provocam.
Simplificando:
aprender com os erros cometidos, transformando acontecimentos indesejados que
os “defeitos” suscitaram, em experiências de vida. É acompanhar, bem de perto,
o processo psíquico que os “defeitos” provocam interior e exteriormente.
E,
como diria Jung, mais uma vez: “Tudo o que é bom é difícil, e o desenvolvimento
da personalidade é uma das tarefas mais árduas. Trata-se de dizer sim a si
mesmo, de se tomar como a mais séria das tarefas, tornando-se consciente
daquilo que se faz e especialmente não fechando os olhos à própria dubiedade”
(idem, p. 34-35).
(Sílvio
Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia
Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil
(AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical
Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 /
98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)
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