domingo, 13 de setembro de 2015

Setembro Amarelo

            Vinculada a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Associação Internacional de Prevenção ao Suicídio (IAPS), realiza campanhas de conscientização acerca do suicídio, chamadas de Setembro Amarelo. Para a IAPS e a OMS, o suicídio é um problema de saúde pública que merece ser tratado e prevenido.
O que leva uma pessoa a suicidar-se? Como preveni-lo?
            Segundo o psicólogo James Hillman (1926-2011): “Para compreender um suicídio precisamos saber que ‘fantasia mítica’ está sendo encenada” (Suicídio e alma. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 62).
            Portanto, precisamos aprender a ver a morte, inclusive o suicídio, a partir de fatores interiores e não apenas pelas condições sociais, culturais, econômicas, religiosas que o envolvem. As evidências estatísticas e os dados dos perfis de personalidade dos suicidas reforçam os prejulgamentos jurídicos, filosóficos, sociológicos, médicos e teológicos acerca do suicídio. Esses fatores, na verdade, funcionam como mecanismos de condenação e não de compreensão de uma alma que está sofrendo.
            Compreender a “fantasia mítica que está sendo encenada” significa, entre tantas coisas, acompanhar a experiência do funcionamento inadequado da psique que pode causar prejuízos irreparáveis ao corpo, como flechas mortais que caçam, ferem, encravam e matam ao seu portador.
            Temos de acolher o suicídio como uma visita do “outro lado” da vida que, na maioria das vezes, se revela obscuro, impenetrável, intraduzível, não-interpretável, misterioso, enigmático, perturbador. Esse “outro lado” não cede a argumentos racionais porque não têm bases intelectuais; está enraizado na fantasia, no inconsciente, inacessível a críticas. Nas palavras de C. G. Jung, é quando: “vivencio o outro em mim, e o outro que não sou, me vivencia” (Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 32). Precisamos nos questionar: Por que essa perturbação está entrando em minha vida? Que tipo de vida eu tenho que precisa desta perturbação?
            A “prevenção”, a partir da compreensão da “fantasia mítica que está sendo encenada”, passa por simpatia, envolvimento íntimo e pessoal, comunicação ampla, total e irrestrita, mais que mera observação de comportamentos fisiológicos e/ou sociológicos.
A alma do suicida tem algo muito significativo a comunicar, algo entre a autodestruição e uma nova vida que lhe parece distante e impossível de se tornar realidade, e, duvida que possa ser forte para suportar. “Mas se a libido consegue desvencilhar-se e subir à tona, o milagre aparece: a viagem ao submundo é uma fonte de juventude para ele e da morte aparente desperta novo vigor”, compreende Jung (Símbolos da transformação. Petrópolis: Vozes, 1989, p. 285).
“O contato pessoal é de importância fundamental, pois forma a única base, a partir daquele se pode atingir o inconsciente. [...] Não há perigo algum enquanto existir o contato; e até mesmo quando se tem de encarar de frente o horror da loucura ou a sombra do suicídio, continua a existir aquela atmosfera de fé humana, aquela certeza de compreender e de ser compreendido, por mais negra que seja a noite”, afirma Jung (O desenvolvimento da personalidade. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 102-103).
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: (14) 99805.1090 / (14) 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)

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