Vinculada
a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Associação Internacional de Prevenção
ao Suicídio (IAPS), realiza campanhas de conscientização acerca do suicídio,
chamadas de Setembro Amarelo. Para a IAPS e a OMS, o suicídio é um problema de
saúde pública que merece ser tratado e prevenido.
O que leva uma
pessoa a suicidar-se? Como preveni-lo?
Segundo
o psicólogo James Hillman (1926-2011): “Para compreender um suicídio precisamos
saber que ‘fantasia mítica’ está sendo encenada” (Suicídio e alma. Petrópolis:
Vozes, 2009, p. 62).
Portanto,
precisamos aprender a ver a morte, inclusive o suicídio, a partir de fatores
interiores e não apenas pelas condições sociais, culturais, econômicas,
religiosas que o envolvem. As evidências estatísticas e os dados dos perfis de
personalidade dos suicidas reforçam os prejulgamentos jurídicos, filosóficos,
sociológicos, médicos e teológicos acerca do suicídio. Esses fatores, na
verdade, funcionam como mecanismos de condenação e não de compreensão de uma
alma que está sofrendo.
Compreender
a “fantasia mítica que está sendo encenada” significa, entre tantas coisas,
acompanhar a experiência do funcionamento inadequado da psique que pode causar
prejuízos irreparáveis ao corpo, como flechas mortais que caçam, ferem,
encravam e matam ao seu portador.
Temos
de acolher o suicídio como uma visita do “outro lado” da vida que, na maioria
das vezes, se revela obscuro, impenetrável, intraduzível, não-interpretável,
misterioso, enigmático, perturbador. Esse “outro lado” não cede a argumentos
racionais porque não têm bases intelectuais; está enraizado na fantasia, no
inconsciente, inacessível a críticas. Nas palavras de C. G. Jung, é quando:
“vivencio o outro em mim, e o outro que não sou, me vivencia” (Os arquétipos e
o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 32). Precisamos nos
questionar: Por que essa perturbação está entrando em minha vida? Que tipo de
vida eu tenho que precisa desta perturbação?
A
“prevenção”, a partir da compreensão da “fantasia mítica que está sendo
encenada”, passa por simpatia, envolvimento íntimo e pessoal, comunicação
ampla, total e irrestrita, mais que mera observação de comportamentos
fisiológicos e/ou sociológicos.
A alma do suicida
tem algo muito significativo a comunicar, algo entre a autodestruição e uma
nova vida que lhe parece distante e impossível de se tornar realidade, e,
duvida que possa ser forte para suportar. “Mas se a libido consegue
desvencilhar-se e subir à tona, o milagre aparece: a viagem ao submundo é uma
fonte de juventude para ele e da morte aparente desperta novo vigor”,
compreende Jung (Símbolos da transformação. Petrópolis: Vozes, 1989, p. 285).
“O contato
pessoal é de importância fundamental, pois forma a única base, a partir daquele
se pode atingir o inconsciente. [...] Não há perigo algum enquanto existir o
contato; e até mesmo quando se tem de encarar de frente o horror da loucura ou
a sombra do suicídio, continua a existir aquela atmosfera de fé humana, aquela
certeza de compreender e de ser compreendido, por mais negra que seja a noite”,
afirma Jung (O desenvolvimento da personalidade. Petrópolis: Vozes, 1983, p.
102-103).
(Sílvio
Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia
Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil
(AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical
Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: (14) 99805.1090
/ (14) 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)
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