domingo, 21 de agosto de 2011

A vida pode ser melhor?


            O que Londres, Damasco, Cairo, Atenas, Benghazi, Madri, Tel-Aviv, Santiago e Nova Déhli têm em comum? Seus habitantes expuseram a indignação contra o preconceito social, o desemprego, os desmandos políticos, a corrupção das autoridades, o ambiente de violência a que estão submetidos, a especulação imobiliária que concentrou ainda mais a riqueza nas mãos de pouquíssimas pessoas, as condições econômicas que tiram dias melhores das suas crianças e que limitam os últimos dias dos velhos, a falta de recursos para a educação.
Parece que a indignação é a única força popular que não respeita as diferenças sociais, culturais, raciais, políticas e religiosas. Há de se respeitar o grito ecumênico dos oprimidos. Clamam porque querem viver. Defendem bandeiras humanas, porque acreditam que podem mudar de vida. Querem ter acesso a condições que possam levá-los a uma qualidade de vida melhor do que aquela seus pais tiveram.
De fato, é muito melhor viver se a educação for gratuita e de qualidade; se os aluguéis forem mais baratos; se o trabalho for executado em condições dignas e a remuneração for justa; se não houver a brutalidade dos ditadores nem a indiferença das autoridades nos lugares onde é possível elegê-las; se os corruptos e seus corruptores não ficarem impunes; se os governos atenderem às necessidades das pessoas, sem cortes nos programas sociais e culturais, principalmente nos lugares mais carentes, e quase sempre realizados para atender a interesses dos mais ricos, como mais uma forma de abuso de poder.
A indignação nasce da falta de resposta a uma simples pergunta: a vida pode ser melhor? E às vezes a resposta está nas manifestações de rua mesmo. Para a socióloga da Universidade Colúmbia, Nova Iorque, Saskia Sassen: “A rua se tornou o espaço para a política daqueles que não têm acesso aos instrumentos formais [...] são lutas pelo direito à cidade [...] Sem meios de discurso político, a esses jovens pobres e excluídos só resta quebrar o próprio bairro para se fazer ouvir” (O Estado de S. Paulo, 14/08, J4).
Acredito que em muitos países do mundo, inclusive no Brasil, mais grave do que a ausência da resposta, é a ausência da pergunta. Não nos perguntamos mais se a vida pode ser melhor. Não há maior prova de falta de inteligência do que a resignação silenciosa diante da realidade que se apresenta. Há aqueles que pensam que nada podem fazer, senão “aguentar” até o final dos mandatos daqueles e/ou daquelas que elegeram. Será que em nosso País, e mais especificamente em Marília, não compartilhamos dos mesmos efeitos negativos do processo de globalização que se dá em Israel, na Espanha, no Egito, na Síria, na Grécia, na Tunísia, no Chile, na Índia, e em seus habitantes? Os meios digitais de comunicação de massa provam que a circulação de ideias nunca foi tão poderosa, mas é preciso dar-lhes um destino mais apropriado do que meros bens de consumo que põem a conversa em dia, como meio de controle da vida alheia, ou como mais um veículo de notícias.
A história indica que a luta social nasce daqueles que não se alienam da própria existência. Instituições como Rotary, Lions, MATRA, OAB, sindicatos em geral e igrejas podem e devem despertar a todos, para que busquemos a resposta a esta pergunta: A vida pode ser melhor? As ruas não podem continuar vazias. Quem vai enchê-las?

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