Segundo Jean Piaget (1896-1980), pai da
teoria psicogenética, a inteligência não é herdada, mas construída na interação
dos indivíduos em seu contexto físico e social, isto é, o conhecimento
intelectual se desenvolve em bases afetivas. Cognição e afeto são faces de uma
mesma moeda. Uma não subsiste sem a outra.
Para uma criança
assimilar os conteúdos escolares, não é suficiente fazer uma avaliação de sua
capacidade intelectual. Variados mecanismos psicopedagógicos cumprem esta
tarefa, na maioria das vezes, a contento. Faz-se necessário um acompanhamento
da capacidade afetiva de todas as pessoas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem
junto da criança, não somente dela, mas de seus pais, professores, funcionários
da escola, bem como de toda a sociedade.
Sentindo
a onipresença do problema da agressividade na vida de muitas crianças,
adolescentes e jovens em seus lares e escolas, a seguinte carta registra as
dificuldades de um aluno em seu processo de aprendizagem:
Pai, eu tenho
muita vontade de me aproximar dos meus colegas da Escola, mas não sei o que
acontece comigo que não consigo. Quando estou perto deles, sinto vontade de
bater neles. Será que este problema não está em nossa casa?
Sabe
pai, acho que sou impulsivo demais nas minhas atitudes porque não recebo
carinho, como eu gostaria e preciso. Eu não sei, mas pode ser que eu esteja
assistindo algum tipo de violência, física ou emocional, aqui em casa e não
poderia, não é mesmo?
Certo dia, ouvi
o professor falando que sou agressivo com os meus colegas, porque o senhor não
impõe limites, ou é muito tolerante quando eu faço o que não deveria fazer, não
entendi muito bem, mas se for isto, só o senhor pode resolver esta situação.
Mas, pode ser também, porque não sei “perder”, não tolero ser frustrado em
minhas intenções.
Pai,
eu quero e preciso do seu apoio para resolver esta situação, além do da Escola.
Pode ser que eu esteja, simplesmente, reproduzindo um comportamento que estou
vendo em casa e/ou na escola, mas eu quero e preciso de ajuda, de você e da
escola, para mudar este meu jeito de ser. Pai, a agressividade não é a melhor
maneira de resolver os problemas, ela não é normal; ela só piora as situações,
inclusive me atrapalha em aprender as matérias na Escola. Eu posso e quero ser
uma criança calma, e para que isto aconteça eu preciso de ajuda.
Pai,
eu sei que com cooperação, amizade e diálogo este problema pode ser
solucionado, por isso estou conversando com o senhor sobre isto. Não, o
professor não está com “marcação” em cima de mim, porque outros colegas com a
mesma dificuldade estão encaminhando a mesma cartinha para os pais deles.
O
professor disse que eu tenho muitas qualidades positivas: sou uma criança
inteligente, curiosa, asseada, que eu consigo comandar os meus colegas nas
atividades em sala de aula, e muitas outras coisas.
Mas
pai, eu não consigo evitar os conflitos, nem resolvê-los sem ser agressivo.
Sei
que com a sua ajuda e com a da escola posso aprender a melhorar como pessoa e
aprender muitas coisas necessárias com o meu professor.
Por
favor, me ajude. Seu filho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário