domingo, 8 de abril de 2012

Onde está a política?


            Na opinião do inglês Andrew Samuels, psicólogo e consultor político, inclusive para o Brasil, a psicologia se dirige por uma linguagem do mundo interior, enquanto que a política fala a partir do mundo exterior, contudo, é necessário ocupar uma posição híbrida entre estes dois mundos, que surge a partir do confronto entre eles (A política no divã: cidadania e vida interior. São Paulo: Summus, 2002). O confronto é um exercício frequente com a contemporaneidade, ainda que vivamos numa época “líquida” como afirma o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-).
            Pode ser que hoje, mais do que nunca, devido a crescente revolta que o sistema político tem provocado nas pessoas, porque parece ser incapaz de resolver os problemas da nossa sociedade e se ocupar com as lutas pelo poder e o controle de recursos, a voz da psicologia precisa ser ouvida.
            Inicialmente, quanto a questão da liderança política.
Quanto mais carismático for o líder, mais votos é capaz de trazer ao partido e ganhar uma eleição. Mas, não basta ser popular; melhor se se apresentar como um herói, quase um “messias”, um “salvador”, que tem “a” solução perfeita dos problemas.
A esperança por um “libertador” é compartilhada tanto pela elite, como pela população em geral. Este anseio estimula o sentimento de autocomiseração, isto é, transfere para a figura de alguém todas as responsabilidades, de quem devem ser cobradas, e intimida a inteligência. A elite sabe pressionar, às vezes, com um custo enorme de energia emocional de seus representantes, mas o povo, quase sempre, nem conhece os seus direitos. Há de se reconhecer, portanto, a existência de uma relação psicológica entre políticos e cidadãos, e que precisa ser alterada.
“Temos de aceitar a ideia de que nossos líderes inevitavelmente nos decepcionam pelo menos por algum tempo, e que a liderança é, em certo sentido, a arte de gerenciar o fracasso. Para alterar as nossas ideias sobre os líderes, também significa alterar as nossas ideias sobre nós mesmos como cidadãos” (Andrew Samuels, em: The Times Higher Education Supplement, 2001).
É preciso admitir que a sensação de abandono, de desapontamento relatado pelo povo em seus comentários acerca da cena política, é própria de uma atitude infantil diante da vida, fruto da recusa de assumir sua parte no processo político-administrativo da cidade; mas, igualmente infantil, é o cinismo, a presunção e a arrogância que sustentam a elite. Não é à toa que os sentimentos de raiva e agressão ocupam destacado papel nas relações sociais.
A sociedade precisa reconhecer que a política, como energia que move o mundo na solução de seus graves problemas, não está mais em suas tradicionais instituições, como grandes partidos e líderes políticos carismáticos, mas sim, em movimentos sociais que lutam por causas suprapartidárias, humanitárias, como tentativa de regastar um senso de decência, e sentido à vida no mundo.
Neste Domingo da Ressurreição, nos lembramos das palavras do Anjo que anunciou aos que buscavam pelo corpo de Jesus Cristo no sepulcro em Jerusalém: “Ele não está aqui, mas ressuscitou”.
Semelhantemente, a energia política continua viva, e é possível encontrá-la.

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