domingo, 1 de abril de 2012

A cidade em nosso imaginário


              “Onde você estava com a cabeça?” “Por que não pensei nisto antes?”
            É muito comum ouvirmos ou falarmos estas frases quando as ações são reprováveis, negativas, ou quando se soluciona algum problema que há muito nos afligia.
            Entretanto, na verdade, isto acontece graças a nossa capacidade de imaginar como seria a realidade se agíssemos desta ou daquela maneira. São “pensamentos” ou “ideias” que nos surgem “do nada”, e quando executadas podem resultar situações boas ou ruins. Imaginar não é uma atividade racional, não segue parâmetros rígidos da lógica.
A imaginação é a maneira humana de alterar a realidade quando buscamos melhores maneiras de enfrentá-la. Somente os humanos têm esta capacidade. De onde vêm todas as formas de arte: música, pintura, teatro, cinema, literatura, etc?  E, as ideologias, os valores morais e éticos, as religiões? Os animais não produzem nada disso. Sem imaginação não haveria cultura.
            Imaginação não é ilusão. Ilusão é ter uma percepção distorcida da realidade; enganar a outros ou a si mesmo. Imaginação é a capacidade de representar ou externar, e acrescentar o que sentimos em nosso mundo interior a realidade externa.
            Para o teólogo, educador, escritor e psicanalista mineiro Rubem Alves (1933-) a imaginação é “a origem da criatividade humana” (O enigma da religião. Petrópolis: Vozes, 1975, p. 15).
            Quando imaginamos somos capazes de encontrar significados nos fatos que nos acontecem. É a imaginação que nos capacita a enfrentarmos os fracassos, as frustrações, os trabalhos e as lutas de cada dia.
A imaginação não é para tornar a vida mais fácil, mas para refletirmos melhor quanto às dificuldades que nos surgem.
Quando imaginamos somos capazes de produzir beleza, rir de nossos erros, encontrar tranquilidade e conforto diante das dificuldades, sonhar e construir uma sociedade melhor de se viver. Parafraseando o filósofo francês René Descartes (1596-1650), podemos afirmar: “Imagino, logo existo!”
            Neste 83º aniversário de nossa cidade, somos chamados a transcender a realidade que nos impõe limites. Não podemos adaptar ou ajustar a vida política e administrativa às possibilidades que nos são apresentadas. Precisamos “suspeitar” de que é possível irmos além, de que sempre haverá alguma coisa faltando, e buscá-la, acrescentando-a a realidade. “A imaginação é a consciência de uma ausência, a saudade daquilo que ainda não é, a declaração de amor pelas coisas que ainda não nasceram. A imaginação dissolve a realidade que a resiste, e traz à existência aquilo que não existe. A função da imaginação é realizar o irrealizável, possibilitar o impossível” (Rubem Alves).
            É preciso, e o melhor, é possível construir uma cidade diferente. O que estamos dizendo acerca de nós mesmos através daquilo que imaginamos para a nossa cidade? Como imaginamos a nossa cidade? Quais são as emoções que nutrimos a respeito de suas necessidades e infinitas possibilidades?
            O imaginário é mais do que uma técnica para melhorar a cidade, é um compromisso com a ética que temos com nós mesmos, e com os futuros marilienses.

Nenhum comentário:

Postar um comentário