segunda-feira, 18 de junho de 2012

AM. DM.


Qual a origem do machado, do serrote, do motosserra? Não seria de onde vêm as ideias de preservação das florestas, e de todo o meio ambiente? Por que nos submetemos a algumas tecnologias e a outras resistimos tão fortemente?
            Estas e outras são as questões que todos nós devemos fazer quando o desenvolvimento e sustentabilidade estão em pauta.
Toda ideia – as tecnologias são ideias que ganharam materialidade -, vem do inconsciente. Ao refletirmos sobre esse assunto precisamos manter a mente aberta o bastante para evitar a fixação racionalista de que as ideais vêm somente da capacidade racional, uma vez que muitas questionam nossa arrogante pretensão de que os interesses econômicos são mais valiosos que a vida dos homens, como quer nos convencer os países ricos (leia-se Europa), na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20.
            Há quem pense que a vida humana pode ser dividida em: Antes do Machado - AM, e Depois do Machado – DM. Antes do Machado – AM – o homem sofria sob as forças da natureza, porque seu conhecimento não passava a de um ser primitivo e atrasado na evolução. Depois do Machado – DM – o homem não deve abrir mão de sua racionalidade, pois pode voltar a ser como um de seus ancestrais.
Puro engano. Não é o uso das tecnologias disponíveis que nos fazem evoluídos, mas a valorização racional de outras técnicas que a razão ainda desconfia. A razão não é a única capacidade humana que nos faz sofrer menos. Ouvir e atender a alma, não no sentido teológico de uma parte imortal do homem, mas no sentido psicológico de uma figura que não é vista e que representa o inconsciente, como faziam os primitivos, nos levará a salvação do planeta e de todos os homens, ainda que tais ideias nos pareça estranhas e não-racionais. Este é um dos aspectos psicoantropológicos que a economia mundial precisa refletir.
A fonte das ferramentas tecnológicas que nos levaram para este estado de coisas continua a mesma. Do inconsciente sempre emanou os valores que nos mantém vivos desde as eras mais primevas que nos legaram as ferramentas manuais como o machado, por exemplo, mas também as ideias novas e revolucionarias como a bola de futebol que produz energia elétrica capaz de acender uma lâmpada de LED ou carregar a bateria de um celular, a “soccket”, conforme nos conta a jornalista Heloisa Aruth Sturm (O Estado de São Paulo – 12.06.12, A16).
            “Todo ser humano é bastante cego e pode somente ver aquilo que está na frente de seus olhos, mas a sabedoria das idades representada nos mitos e nos símbolos religiosos têm sem dúvida uma visão mais ampla, um alcance maior que o de qualquer indivíduo. Se pudermos entender seus ensinamentos corretamente, eles podem tornar-se para nós como um guia, no sentido de uma seta indicadora, que aponta o caminho como o fez para os nossos predecessores” (HARDING, M. E. Os mistérios da mulher. São Paulo: Paulus, 1985, p. 22).
            O legado dos homens primitivos continua vivo em nós, por isso fazemos poesia, como Pablo Neruda (1904-1973), registra em “Ode à terra”: “Queremos te amar, mãe fecunda, mãe do pão e do homem, mas mãe de todo o pão e de todos os homens” (Navegações e Regressos. São Paulo: MEDIAfashion, 2012, p. 179). Por que é difícil admitirmos que é assim?

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